Paulo e a Unicidade de Deus
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Nova Aliança na Teologia de Paulo
Alegria na Teologia de Paulo
Filiação na Teologia de Paulo
Ceia do Senhor na Teologia de Paulo
O fim da Leia na Teologia Paulina
Justificação na Teologia Paulina
Influência Farisaica na Teologia Paulina
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Paulo e a Unicidade de Deus
§2.2 Deus como único
A crença judaica mais fundamental era a unicidade de Deus. Sem dúvida Paulo aprendeu a recitar o Shemá desde a sua juventude, provavelmente como profissão diária: “Escuta, ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor” ou “...o Senhor nosso Deus, o Senhor é único” (Dt 6,4). Baseado em Dt 6,7, o judeu devoto, como Paulo evidentemente fora, recitava o Shemá duas vezes por dia. Da mesma forma, o decálogo, a lista básica das obrigações judaicas, começa com a ordem básica: “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20,3). Por isso não admira que as obras da apologética judaica tomem isso como ponto de partida. A Carta de Aristéias, escrita provavelmente na segunda metade do século II a.C., começa a sua exposição da lei “antes de tudo demonstrando que Deus é único” (Ep. Arist. 132). Igualmente Fílon reflete a primazia do primeiro mandamento para os judeus da diáspora da época de Paulo na sua exposição do decálogo: Gravemos, portanto, profundamente em nossos corações este como o primeiro e o mais sagrado dos mandamentos, reconhecer e honrar um Deus que está acima de tudo, e que a idéia de que os deuses são muitos nunca chegue sequer aos ouvidos do homem cuja norma de vida é buscar a verdade em pureza e bondade (Decai. 65). E também para Josefo “a primeira palavra [do decálogo] ensina-nos que Deus é único” (Ant. 3.91). Com isso estava ligada a convicção de que Deus é invisível, ou, mais precisamente, dele não pode ser feita imagem (Ex 20,4) e para ele não se pode olhar (Ex 33,20). Daqui a implacável hostilidade do judaísmo, desde os seus primeiros tempos, contra a idolatria.
Josefo, contemporâneo mais jovem de Paulo, na sua sucinta apologia da religião judaica expressa a convicção do seu povo sobre esse ponto em termos refinados: Ele [Moisés] representou-o [Deus] como único, incriado e imutável por toda a eternidade; ultrapassando em beleza todo o pensamento mortal, tomado conhecido a nós pelo seu poder, embora a natureza do seu ser real ultrapasse o conhecimento... Pelas suas obras e sua generosidade é visto claramente, na verdade mais manifesto que qualquer coisa; mas sua forma e dimensão ultrapassam nossa capacidade de descrição. Nenhum material, por mais precioso seja, é adequado para fazer uma imagem dele; nenhuma arte é capaz de concebê-lo e representá-lo. Nunca vimos a sua semelhança, não o imaginamos e é ímpio conjeturar (Ap. 2.167,190-191). Podemos observar de passagem que essa crítica pressagia a crítica moderna de Feuerbach e Freud da própria noção de Deus como projeção externa de sensações internas. E, portanto, significativo o fato de que a teologia judaica tradicional, de um lado, reconhecia os perigos de tal autoprojeção e, de outro, distinguia dela as suas próprias convicções. É evidente que Paulo compartilhava essas duas crenças distinta mente judaicas. Na sua discussão dos alimentos oferecidos aos ídolos (ICor 8,1), o seu primeiro instinto foi afirmar a sua fé antepassada em Deus como único: “sabemos que um ídolo nada é no mundo e não há outro Deus a não ser o Deus único” (ICor 8,4).
Professava o Shemá (de forma semelhante Ef 4,6). Igualmente axiomática foi a proposição da unicidade de Deus em G1 3,20: “Deus é um só”. Assim, já no começo de Romanos baseia sua refutação da justificação pelas obras na profissão judaica: “há um só Deus” (Rm 3,30). Um tanto surpreendentemente, será lTm, um dos últimos membros do corpus paulino, que afirmará mais plenamente o monoteísmo judaico: “Deus único” (1,17); “há um só Deus” (2,5); “o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade” (6,15-16). Não foi Paulo quem escreveu a carta, mas as profissões de fé são suas. Talvez da mesma mão, e igual mente em harmonia com a fé de Paulo, é a doxologia final bem cedo acrescentada a Romanos: “a Deus, o único sábio” (Rm 16,25). A antipatia de Paulo pela idolatria é igualmente clara e expressa com o característico pavor, assombro e desprezo judaicos. Lucas apresenta Paulo em Atenas “profundamente aflito por ver que a cidade estava cheia de ídolos” (At 17,16) e apressado em denunciar a idolatria (17,29). A descrição é confirmada pela recordação do próprio Paulo de como os seus leitores tessalonicenses se haviam “convertido dos ídolos a Deus” (lTs 1,9). Ao contrário dos ídolos mortos, Deus é “o Deus vivo e verdadeiro” (lTs l,9). Em Romanos, a primeira acusação que faz contra a impiedade humana (1,18) supõe admitida a invisibilidade de Deus (1,20) e segue bem de perto a tradicional condenação judaica de idolatria: “trocaram a glória do Deus incorruptível por imagens do homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis” (1,23). E em outras passagens a condenação da idolatria da parte de Paulo é tão direta quanto a de qualquer dos seus predecessores judeus: “fugi da idolatria” (ICor 10,14). É, portanto, muito claro que o monoteísmo judaico foi uma das pressuposições e pontos de partida primários no pensamento de Paulo a respeito de Deus e das maneiras apropriadas e não apropriadas como os humanos pensaram e adoraram Deus.