Estudo sobre Apocalipse 7:9
Estudo sobre Apocalipse 7:9
Apocalipse 7:9
Por meio da retomada depois destas coisas, vi anuncia-se novamente uma mudança de cena (nota 244). É uma troca de local, pois agora João não está mais olhando, como em Ap 7.1, para a terra, e sim para o santuário celestial (v. 15). Acrescenta-se uma total mudança de situação. Enquanto o selamento precedia expressamente as tempestades do fim dos tempos, agora a grande tribulação já é coisa do passado (v. 14). Associa-se a esta mudança uma alteração da disposição. No lugar de uma tensão prenhe de desgraça em vista do perigo iminente ocorre o cântico de vitória. Finalmente, não deixa de ser importante para a interpretação aperceber-se da mudança na forma de apresentação. Os selados haviam sido meramente objeto de uma audição (experiência auditiva, percepção de uma voz; v. 4). Porém João obtém uma imagem visual da multidão incontável. – Enfim, não são poucos os exegetas que também detectam ainda uma troca do grupo de pessoas. Segundo eles a grande multidão não é a mesma que os que foram selados. Que diz o texto?
E eis grande multidão que ninguém podia enumerar. Assim como o v. 4 impõe-se novamente a impressão da magnitude. A promessa a Abraão em Gn 15.5 foi cumprida: “Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade.” Abraão não é capaz de contá-las. Conforme Hb 11.12 ela é para ele incontável, o que obviamente não pode valer para Deus. Desta maneira também a presente multidão é incontável para João, porém enumerável para Deus, não ocorrendo uma contradição com o v. 4. Lá Deus contou e pode revelar o número, aqui João tenta fazê-lo, deparando-se com a impossibilidade de contar.
Na especificação subseqüente da origem intensifica-se a lembrança de Abraão. De todas as nações, tribos, povos e línguas.323 Em Abraão haveriam de ser “abençoadas todas as nações, todas as gerações da terra” (Gn 22.18; 12.3). O número de quatro definições volta a ressaltar a dimensão da abrangência. João vê na igreja a humanidade abençoada em Abraão.
Contudo, cabe situar também no contexto do livro todo a declaração sobre o número que ninguém pode contar. Em Ap 2.17 há um nome que ninguém pode saber, e em Ap 14.3 um cântico que ninguém consegue aprender. Número, nome e cântico referem-se à igreja vitoriosa. Esta constelação desvia mais uma vez do entendimento do número como uma contagem de cabeças (cf. o exposto sobre o v. 4). Contar algo passa a ter significado semelhante ao saber de um nome: ter poder sobre ele. Se ninguém além de Deus é capaz de estabelecer o número da multidão, ela em decorrência encontra-se integralmente guardada pelo poder dele (cf. Ap 2.17). É claro que a figura aparente da igreja ainda contradiz esta imagem da sua essência. Justamente na grande tribulação ela é sensivelmente atacada por punhos estranhos. “Somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro” (Rm 8.36). Um dia, porém, a igreja chegará à unidade da figura essencial com a figura aparente. Este “um dia” é vislumbrado por João, que o anuncia às igrejas: ninguém é capaz de nos arrancar da mão dele! O número da grande multidão, oculto junto de Deus, evoca portanto a mesma realidade da igreja que foi testemunhada em Ap 7.1-8 sob a figura do selamento.
João tem a visão desta igreja formada de todas as nações, tribos, raças e línguas, superando a Babilônia que confundia os povos (cf. a exposição sobre o v. 10 e Gn 11.9) e representando as primícias (Ap 14.4) de uma humanidade reunificada, congregada em torno do centro da restauração, em pé diante do trono e diante do Cordeiro (cf. o comentário a Ap 5.13). Estão vestidos de vestiduras brancas como os mártires na visão do quinto selo. Agora, portanto, está completo o número deles (Ap 6.11), todos estão reunidos como uma grande multidão, e a tribulação chegou ao fim. O número cheio relembra novamente Ap 7.4. Além da vestimenta de vencedores trazem ainda ramos de palmas nas mãos. A ilustração é inequívoca para olhares gregos, que contemplaram tantos atletas com a folha de palmeira no pedestal do vencedor. Contudo, também um escrito judaico traz a frase: “Quem traz em suas mãos a folha de palmeira, dele sabemos que é vitorioso”.
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Apocalipse 7:3
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