Estudo sobre Romanos 10:4
Romanos 10:4
Referente ao a (sentido temporal, inserido no tempo): Cristo é o fim da lei. Na linha da salvação de Abraão até Cristo Deus intercalou-se o tempo da lei do Sinai. Ela ensinou a vontade de Deus, mas com outra finalidade que antes da queda. Antes da queda pecaminosa, o mandamento serviu diretamente à vida. Israel sempre se lembrou desse sentido original dos mandamentos. Por isso encontramos também a grande exaltação da lei no AT. Contudo, depois disso, o poder do pecado penetrou no mundo. Sob essas condições os horizontes se anuviaram. O que até então era característica de vida, tornou-se marca de uma existência sob o pecado. Cada “não farás!” significava: Deus continuava se preocupando comigo, mas agora na ira. A lei tornou-se poder de maldição (Gl 3.10), exercia o “ministério da condenação” (2Co 3.9). Por intermédio da lei Deus agora colocou os pecadores “atrás das grades” (Rm 11.32). Talvez o procedimento do juiz criminal sirva como comparação moderna. Para evitar a fuga do acusado, ele o coloca em detenção preventiva, até que as investigações tenham reunido material suficiente para a acusação. Em Rm Paulo oferece uma série de afirmações sobre a lei que podem ser interpretadas nesse quadro. Em Gl, ele escolheu prisão, guardiã e tutora como figuras para a lei. Lá ele também elabora com máxima clareza o prazo delimitado no tempo para essa função da lei. Uma incomparável virada dos tempos traz à luz um agir divino inteiramente diferente, expressamente caracterizado como “sem lei” (Rm 3.21). O envio do Filho ao mundo e do Espírito aos corações dos que creem muda tudo (Gl 4.4-6). Acabou o senhorio da lei. “(Cristo) aboliu, na sua carne, a lei” (Ef 2.15). Por isso Paulo separa e diferencia as épocas com rigor. Elas constituem alternativas, excluem-se mutuamente.
Referente ao b (sentido final, relativo ao alvo): o alvo da lei é Cristo. Sob outro aspecto, o mesmo Paulo, no entanto, não tratava a lei como um modelo de ponta de estoque. Com a maior naturalidade ele recorre a ela para exortar as igrejas. Na verdade, a lei não tinha força para efetivar o que exigia, mas estava certa nas suas exigências (Rm 8.3,4). Agora, enquadrada na esfera espiritual de poder do Cristo, ela deve e também pode ser cumpridam. Nem o Espírito nem o amor são o fim da lei, porém a realizam.
Essa realização tem raízes na obediência do segundo Adão. Como novo cabeça da humanidade, Jesus suspendeu em nosso favor aquela detenção preventiva, através do seu viver e morrer fiéis à lei, e ao mesmo tempo liberou novamente a lei para sua tarefa originária. Ela não assinala mais a ira de Deus, mas seu amor para conosco. Ela auxilia na concretização de uma vida com Deus nessa terra. Livre da lei de qualquer espécie, a comunidade sob o Senhor Jesus Cristo está livre para o “novo mandamento”. Ele o cumpriu de modo fundamental, ele o explicou de forma normativa e ele próprio está entre nós de forma determinante como o verdadeiro procurador da vontade de Deus.
Em geral a tradução A é defendida de maneira predominante e unilateral (ra, rc, blh, vfl, nvi). Ela seria um resultado imperioso do contexto. Porém, não é bem essa a realidade. O contexto de forma alguma apresenta a lei e Cristo num quadro em preto e branco. Sigamos a linha do pensamento desde o v. 2: o judaísmo da sinagoga é zeloso de Deus, mas não tem percepção para o alvo histórico-salvífico que lhe é apresentado em Cristo. Contra esse entendimento errôneo Paulo constrói seu versículo-chave, no qual ele coloca télos claramente no começo da frase: “Alvo da lei, pois, é Cristo”, que cumpriu toda a justiça e, assim, a lei. Também o final da frase demonstra que Paulo não está andando pela trilha do mero contraste. Pois tenta aproximar também seus irmãos judeus exatamente da nova justiça, ao enfatizar: para todo aquele que crê. Essa intenção o leva nitidamente até os v. 12,13. A polêmica contra o serviço farisaico à lei está obrigatoriamente presente em cada momento (“Cristo é o fim da lei”), no entanto não tem o mesmo peso que a intenção de conquistar para a justiça por fé (“alvo da lei é Cristo”).
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Romanos 10:4