Estudo sobre Romanos 9:14-16

Romanos 9:14-16

Em seu estilo conhecido (Rm 6.1; 7.7), o apóstolo abre espaço para um novo argumento: Que diremos, pois? A objeção seguinte faz lembrar tão intensamente Rm 3.5-8 que também se poderia supor aqui os “difamadores” de lá: Há (porventura) injustiça da parte de Deus? Essa acusação é iluminada de maneira excelente pela parábola de Jesus acerca do patrão “injusto” em Mt 20.1-16. Pressupõe-se a revolta judaica daquele tempo com a prática de Jesus, de acordo com a qual últimos se tornavam primeiros (v. 16). Jesus justifica seu procedimento perguntando de volta em forma da parábola (Mt 20.15): “Não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?” Essa é a “injustiça” da graça e ao mesmo tempo a “justiça excedente” de Mt 5.20, que Jesus se permite realizar regiamente como enviado de Deus. Se Deus, no entanto, se articulasse seriamente com injustiça, isto é, com algo que ocorre somente entre seres humanos, ele não seria mais Deus. Por isso: De modo nenhum! Se Deus não for mais Deus, tudo estará acabado com Israel, a igreja e o mundo.

Paulo aprofunda o escândalo com o eleger “injusto” de Deus. Nisso é conduzido pelo seguinte pensamento: não pode ser uma injustiça aquilo que desde sempre era constitutivo para a existência e a sobrevivência de Israel. Por isso, faz brilhar novamente as verdades simples, às quais desde o inicio se deve a existência de Israel. Aliás, já procedeu assim no trecho anterior, dos v. 6-13. Agora apenas segue folheando o AT, chegando das histórias dos patriarcas às de Moisés. Pois ele diz a Moisés (Gn 33.19): Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Repete-se sempre a mesma coisa, de geração em geração: Deus retirou esse povo da vida que vivia em torno de si próprio e fê-lo viver de pura misericórdia. Nesse povo realmente não faltaram tentativas de auto-realização, o querer e o correr. Ele queria ser grande, forte e importante como outros povos e esperava apoio de Deus para isso. Contudo, não havia promessa nessa linha para Israel. Ainda vigorava o anúncio de Deus no início da história do povo, em Êx 3.14: “Eu sou o que sou”, i. é, não aquele que vocês idealizam em suas idéias fixas.

Como, porém, combinar esse descartar de qualquer querer e correr com o fato de Jesus perguntar: “Que quereis que vos faça?”, prometendo expressamente: “Faça-se contigo como queres” (Mc 10.36; Mt 15.28). Ou o mesmo Paulo incentiva: “Corram de tal maneira que ganhem o prêmio” (1Co 9.24 [BLH]; cf Fp 3.12,13; Hb 12.1). Sem dúvida, em todas as cartas às igrejas ele convoca os fiéis a viverem com todas as forças por Deus, a partir de Deus e para Deus. Contudo, há algo pelo que o ser humano não é responsável: que Deus o escolha, que ele, afinal, o queira ter para si, que o chame e ame. Isso ninguém de nós, por esforço algum, será capaz de transferir do céu para a terra, porém é assunto do Deus compassivo.

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Romanos 9:14-16