Eclesiastes 1 — Análise Bíblica

Eclesiastes 1

Já observamos que a principal mensagem desse livro é a falta de sentido ou de significado da vida terrena. A palavra hebraica hebel (1:2) tem sido diversamente traduzida por “sem sentido”, “vazio”, “vaidade”, “futilidade”, “inútil”, '‘nada”, e assim por diante. Das setenta e três ocasiões em que essa palavra é usada no AT, trinta e oito, isto é, mais da metade, são encontradas em Eclesiastes. A repetição constante dessa palavra demonstra o tema do livro.

Em 1:2 e 12:8, a forma da palavra no original é, na realidade, um superlativo, de modo que a tradução da NVI que traz Inutilidade! Inutilidade! não apreende o pleno impacto da palavra. Outras versões chegam mais perto, traduzindo o termo por “Vaidade de vaidades”, em que a frase tem o mesmo sentido superlativo, como no título “Cântico dos Cânticos”, significando “o melhor cântico” (Ct 1:1). O escritor está falando sobre o máximo da falta de sentido.

De qualquer forma, a tradução “vaidade” também apresenta problemas, pois a palavra adquiriu novos sentidos em português. Termos como “sopro” ou uma referência à bolha de ar podem captar melhor a transitoriedade de todos os aspectos da vida terrena — seja trabalho, posses, prazer, alegria —; este é o sentido retratado aqui. O escritor abre a primeira divisão do livro com uma pergunta: Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol? (1:3). Esse é o único livro do AT em que ocorre a expressão “debaixo do sol”, e ela se repete cerca de trinta vezes. Ao lado de expressões semelhantes como “debaixo do céu” (1:13; 2:3; 3:1), “na terra” (5:2), “sobre a terra” (8:14,ló) e “aterra” (11:2) [traduzida em 11:2 por “sobre a terra” pela NVI], a expressão fala a respeito da vida focada unicamente neste mundo. Como uma forma de responder ao seu próprio questionamento, o Pregador fala de um círculo não permanente, mas sem fim, da natureza e da história (1:4-11): Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre (1:4).

O Pregador estabelece um contraste entre a brevidade da vida humana e a permanência da terra. Um provérbio tigrínio da Eritréia capta esta verdade: Meriet ndahrai, qadra nbe‘al b‘eray [“A terra para aquele que vem depois; o terreno abandonado para aquele que traz um boi”. A primeira metade significa que, enquanto as gerações vêm e vão, a terra permanece para sempre.] O Pregador, então, avança para focalizar aspectos específicos da criação material visí­vel: Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo (1:5). Aqui o autor não está preocupado com precisão científica, mas, sim, em se fazer compreendido pelas pessoas comuns. Todos, cientistas ou não, já observaram o nascer e o pôr do sol. Semelhantemente, já terão observado que o vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retoma aos seus circuitos (1:6). Da mesma forma, todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tomam eles a correr (1:7).

Há movimento constante, mas nada chega a lugar algum. As palavras de Eaton — “Os ciclos repetitivos do sol, como um corredor numa pista circular; o vento soprando ao redor de seu circuito sem nenhum propósito aparente; as águas jorrando para os mares, sem nunca contemplarem sua tarefa realizada” (TOT) — sublinham a futilidade da vida. Apenas a própria terra “permanece para sempre” (1:4). No que concerne ao Pregador, todas as coisas são canseiras (1:8). Não apenas nada encontra sua realização, mas, para o escritor, não existe nada de novo (1:9-11). Ele ilustra a natureza tediosa da vida natural “debaixo do sol” a partir de sua experiência pessoal. Inicia falando em termos gerais sobre como esquadrinhou intelectualmente a cena humana (1:12-18) e, então, dá informações mais específicas sobre suas tentativas de encontrar realização no prazer e no trabalho criativo (2:1-11). O Pregador nos diz que se aplicou a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu. Seu resumo quanto ao que aprendeu: Este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens (1:13). No tocante às coisas que os homens fazem, tudo era vaidade e correr atrás do vento (1:14). Isso é verdadeiro até mesmo em relação ao estudo da sabedoria (1:17-18)

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