Estudo sobre Colossenses 4:1

Estudo sobre Colossenses 4:1



Uma frase também é dita aos senhores: “Senhores, concedei aos escravos o que é justo e equânime (literalmente: a igualdade), sabendo que também vós tendes um Senhor no céu.” Em termos linguísticos não é absolutamente certo que as duas expressões no início da frase de fato correspondem apenas ao que traduzimos por “justo e equânime”, ou se podemos entender isotes aqui no sentido básico pleno de “igualdade”. Nesse caso o peso de toda a frase aumentaria consideravelmente. Também “escravos” não são “destituídos de direitos”. Como cristãos, respeitem o “direito” deles! Ainda que vocês não possam simplesmente alforriar os seus escravos, ainda que eles continuem escravos e tenham de realizar seu trabalho com dedicação, não obstante existe “igualdade” entre eles e vocês! Trata-se, pois, não apenas da mesma condição humana; os melhores representantes da Antiguidade podem tentar extrair dela a atitude correta perante o escravo. Para cristãos a “igualdade” é muito mais profunda: “senhores” e “escravos” têm o mesmo Senhor, experimentaram o mesmo sangue da redenção e aguardam a mesma herança dos santos na luz. Concedam-lhes essa igualdade de fato, mesmo que vocês não possam ou não queiram alterar a condição jurídica formal deles. Afinal, vocês como “senhores” também não estão sem Senhor e “livres”. Igualmente vocês têm um Senhor no céu, diante do qual são responsáveis, inclusive pelo seu relacionamento com os escravos. Não é por acaso que “o Senhor” é colocado antes de “dos senhores”: em Jesus eles experimentam o que significa ser realmente “Senhor”, que seu “senhorio” é entrega e sacrifício.
 
Porventura tudo isso não representa uma palavra norteadora também para nós? Como são poucas as pessoas que podem exercer uma profissão “autônoma” de acordo com sua inclinação pessoal. A maioria, na condição de operário e empregado, encontra-se em serviço subordinado. Justamente no mundo moderno esse serviço com frequência é muito monótono, não proporcionando em si a alegria de criar. Apesar da abolição do escravismo, o ser humano enfrenta a ameaça de ver sua atual jornada de trabalho transformar-se em algo rotineiro, um ambiente sombrio ao lado da “verdadeira vida”. Se os empregadores forem instâncias anônimas, com as quais já não se pode ter um relacionamento pessoal, e os superiores imediatos, mestres de obra e gerentes forem pessoas com uma série de defeitos e fraquezas, os modernos operários estarão ameaçados exatamente pela mesma indisposição, pelo mesmo “serviço à vigilância”, a mesma desarmonia interior como naquele tempo os escravos. Fazer somente o que é estritamente exigido e tirar o maior proveito possível para si mesmo, conduzindo a “vida” como algo à parte do trabalho profissional será então a atitude que, afinal, nos deixa tão insatisfeitos e vazios. Mas se formos “cristãos” poderá acontecer uma mudança entre nós, se tivermos um Senhor ao qual pertence a nossa vida. Atravessando pessoas e circunstâncias, nosso olhar dirige-se diretamente até ele. Se nosso trabalho for monótono, mecânico, sem sentido – é para ele que podemos realizá-lo, e o que for feito para ele será sempre acompanhado de alegria e presenteado com um sentido. Ele também nos vê no trabalho; ele olha de forma muito pessoal para cada um de nós em meio à grande massa, em que corremos o risco de submergir como um número. É o beneplácito dele, não o julgamento humano, que determina até mesmo nossa profissão. Por consequência, conseguimos realizar o trabalho “a partir de dentro” (Consta aqui a locução grega ek psyches, correspondendo à nossa expressão “de coração”. Contudo, uma vez que não está sendo utilizada a palavra grega para “coração”, optamos pela tradução “a partir de dentro”.) e fazer o melhor com alegria, ainda que as pessoas não vejam nem recompensem isso com reconhecimento. “Tudo o que fizerdes, fazei-o de coração como ao Senhor, e não para pessoas” [Cl 3.23] - uma palavra dirigida a escravos, que foi o lema da confirmação de Bismarck, sendo considerada digna de ser o lema de vida desse homem poderoso na liderança de um grande império. Agora também estamos precavidos contra os pensamentos pusilânimes de que em nossa posição insignificante e oprimida não precisamos levar as coisas tão a sério, tendo uma desculpa para um pouco de injustiça. Seremos chamados à responsabilidade! Já se disse muitas coisas, com zombaria ou ira, contra a “consolação cristã para o além”. Certamente um consolo vazio e fraudulento seria uma baixaria diante de quem abre mão de riqueza e felicidade terrenas. Mas visto que a herança divina é realidade, e que a esperança da vida maravilhosa para todos na terra é uma ilusão, constitui um auxílio íntegro e poderoso para nós o fato de que em todas as renúncias e privações e até mesmo sob a pressão de um trabalho monótono, mecânico, e mal-pago podemos saber que nossa existência terrena não é a única e que não fomos ludibriados quanto à realização plena da vida, ainda que agora nosso caminho nos leve por escuridão, sofrimentos e sacrifícios.
 
Se formos empregadores, superiores, mestres-de-obra e gerentes, carecemos de maneira especial da atitude correta frente a nosso serviço. Todos nós temos no sangue o “senhorio” errado, até mesmo quando teoricamente repudiamos o conceito “senhor”. Em Cristo nos é concedida a verdadeira “autoridade”, que concede de todo o coração o direito e a “igualdade” aos que nos são subordinados.


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