Estudo sobre Colossenses 4:10-12
Estudo sobre Colossenses 4:10-12
Ao ler a Bíblia, talvez tenhamos, por longo tempo, passado por cima dessas linhas finais de saudações, considerando-as pouco importantes e monótonas. Nomes, saudações – que valor teria isso! Não tratam de “problemas”, não trazem explicações “edificantes”. Mas aqui a vida concreta da igreja realmente ativa está particularmente próxima de nós! E quantas coisas nos comunicam até mesmo as breves observações amorosas que Paulo acrescenta aos nomes.
Há apenas três homens judeus colaborando com Paulo, um número dolorosamente pequeno para o apóstolo, que é pessoalmente judeu e ama profundamente seu povo com as enormes dádivas e promessas de Deus. Mas esses três estão definitivamente presentes, atestando que Deus não rejeitou seu povo (Rm 11.1). Por isso “tornaram-se um consolo” especial para Paulo. Não é fácil para nós ter uma ideia apropriada do peso que representou para Paulo presenciar repetidamente que multidões de “gentios” vinham a Jesus, o Cristo, e seu povo, o Israel eleito, se negava, de modo que apenas poucos da circuncisão se tornavam crentes em Jesus. Mas por isso Paulo se alegrava de forma bem especial com esses poucos, e certamente era uma grande satisfação para ele que o homem que compartilhava de sua prisão era um israelita. O fato de que neste caso Paulo utiliza a tão rara expressão colaborador “para o reino de Deus” certamente tem a ver também com o fato de que ele aqui fala de homens judeus. A “basileia tou theou” ou “malkut Jahve”, a “soberania de Deus” é e não deixa de ser uma expressão israelita.
Aristarco vinha de Tessalônica (At 20.4; 27.2) e como Tíquico fez parte da delegação que levou as ofertas das igrejas fundadas por Paulo a Jersusalém. Ele havia participado da obra de Paulo em Éfeso (At 19.29) e por isso certamente era conhecido de diversas pessoas também em Colossos. Na viagem do apóstolo detido para Roma ele é mencionado de forma muito especial (At 27.2), ou seja, partilhava já naquele tempo o cativeiro de Paulo. Na carta a Filemom não é ele, mas Epafras quem aparece como “co-detento” na lista de saudações, sem que possamos descobrir a razão disso.
Marcos é oriundo de Jerusalém e na realidade se chama João. Sua mãe Maria tinha uma casa em Jerusalém, que ela disponibilizava para reuniões da igreja (At 12.12). Presumivelmente foi apresentado a Paulo por meio de seu primo Barnabé e foi levado como ajudante na primeira viagem missionária (At 13.5). Provavelmente ainda era jovem. Nessa viagem, porém, fracassou e retornou por conta própria a Jerusalém (At 13.13), de modo que Paulo não quis mais levá-lo na segunda viagem (At 15.37). A seriedade da rejeição de Paulo contra um sujeito jovem que fugira diante das penúrias e dos perigos da missão pode ser depreendida do fato de que Paulo permitiu que essa questão se tornasse causa da ruptura com Barnabé (At 15.39). Tanto mais prazer temos em saber, por meio da saudação na presente carta, que aconteceu uma reconciliação e de que Marcos novamente é alvo de consideração no serviço de Paulo (Cf. também 2Tm 4.11). Parece que a vida de fé de João Marcos remonta a Pedro, com o qual mantém estreitas relações (1Pe 5.13), uma circunstância que confirma para nós que a ligação entre Paulo e Pedro também era sincera.
Jesus Justo é mencionado unicamente na presente passagem; não temos nenhuma outra indicação a respeito de sua trajetória pessoal. Seja como for: um israelita que ousava reconhecer em Jesus o Messias de Israel e em seguida até mesmo formava uma sólida comunhão de trabalho com alguém como Paulo tinha de ser uma pessoa íntegra, na qual Deus havia realizado algo grandioso.
Na sequência saúdam três cristãos que saíram das nações. Já conhecemos Epafras de Cl 1.7s como fundador da igreja em Colossos. Aqui ele recebe a mesma designação “escravo de Cristo Jesus” (cf. nota) com que Paulo eventualmente denomina também a si mesmo no serviço para o Senhor (Fp 1.1; Tt 1.1). Mas aqui temos mais uma visão da natureza desse homem! Não se contenta em que a igreja em Colossos agora esteja fundada, em que ele teve a oportunidade de conduzir pessoas à maravilhosa conversão. Em seu coração vibra o mesmo “Adiante! Avante!” que constatamos em Paulo (cf. o comentário a Cl 1.9-14). Os colossenses devem tornar-se “pessoas totais”. Talvez seja essa a melhor tradução de teleioi, a fim de evitar qualquer falso “perfeccionismo”. Em Fp 3.12 e 15 Paulo diferenciou entre teleleiomai e teleioi. “Não estou perfeito, pronto, no alvo”, mas na igreja devem existir teleioi = “pessoas totais”, em contraposição com toda a personalidade dividida, oscilante, insegura. Como o próprio Paulo em Cl 2.2, também Epafras está preocupado com que a certeza dos colossenses, justamente diante de todas as influências que tentam penetrar nela, seja firme e concisa. Devem ter essa certeza “em toda a vontade de Deus”. Afinal, a igreja de Jesus não possui o “deus dos filósofos”, o deus “em repouso”, sobre o qual se reflete e se reúne informações de forma racional, mas o “Deus vivo”, que é “vontade” e que por isso age conosco e também deseja ter nossa vontade viva engajada na ação em prol de sua grande causa. Aqui no final da carta mais uma vez se torna explícito todo o contraste com nosso cristianismo “acadêmico”. Por isso também toda a carta tratou unicamente da pergunta: o que Deus deseja da igreja? Será que ele requer o cumprimento de feriados, a abstinência de determinadas coisas, será que ele visa nosso relacionamento com poderes angelicais? Ou será que ele deseja única e integralmente nossa vida em e com Cristo mediante a fé? Também as frases aparentemente especulativas de Cl 1.15-20 serviram exclusivamente para responder a essa questão. Epafras está totalmente unido com Paulo nessa atitude básica. Por isso tem muito claro diante de si o alvo da igreja fundada por ele. Mas como ele tenta, agora, alcançar esse alvo? Ele “luta” pelos colossenses. Mas não recorrendo a exortações, apelos e medidas disciplinares eclesiásticas, mas com – orações. Quanta confiança essas pessoas devem ter depositado na oração! Que grandes oradores devem ter sido! Para Epafras e para Paulo, a preservação de uma igreja de Jesus não é brincadeira, nem aprazível atividade secundária, mas uma questão de muita labuta. Mas essa labuta é, em primeiro lugar, “oração”. Como Paulo teria gostado de emitir o bom atestado em vista dessa concordância na concepção da obra! Nesse empenho Epafras não se restringe apenas a Colossos, mas também se considera responsável pelas igrejas vizinhas em Laodicéia e Hierápolis.