Estudo sobre Colossenses 3:1
Estudo sobre Colossenses 3:1
Paulo mostra o fundamento da santificação verdadeira, da santificação evangélica. Importa agora – justamente também para nossa vida cristã realmente prática – captar com precisão e clareza o que ele diz.
Em certos aspectos a santificação “legalista” e a “evangélica” podem ser tão semelhantes a ponto de serem confundidas. A santificação evangélica não é menos séria, decisiva e concreta que a legalista. Mas, de forma significativa, a direção de ambas é exatamente oposta. A santificação “legalista” pensa e declara: Você tem de fazer tal coisa, para que…! A santificação evangélica diz: Tenho, posso e quero fazer tal coisa, porque…!! Por isso todos os movimentos legalistas de santificação sempre falaram de um “mortificar” e “morrer com” para que um cristão finalmente chegue, com ardentes esforços, ao supremo alvo de “ter morrido com Cristo” e então também ao alvo da verdadeira vida divina. Nisso também Jesus sempre se resume apenas a certo ajudante. Decisiva é a luta – muitas vezes de fato admirável! – do ser humano. Contudo, essa luta acaba na hipocrisia ou no desânimo do “Ainda não cheguei a esse ponto”! Paulo, porém, diz algo exatamente oposto! O que para a santificação legalista é alvo, para ele é o ponto de partida, o fundamento da santificação! “Já morrestes, já ressuscitastes!”
Como isso é possível? Isso não seria usurpação e presunção? Obviamente seria assim se esse fosse um alvo alcançado pelo nosso esforço e realização. Mas não é. Por essa razão está no centro da questão novamente Jesus, que não por acaso é designado aqui em conjunto com o artigo definido: “o Cristo”. Nas afirmações, a reiterada ocorrência de “com o Cristo” é decisiva. Jesus morreu, Jesus foi ressuscitado, Jesus está assentado à direita de Deus nas alturas, oculto perante olhos humanos, Jesus há de ser manifesto outra vez em uma glória visível para todo o mundo. Mas Jesus não possui nem faz tudo isso para si mesmo. Ele não é um indivíduo que vivencia algo para si mesmo. Ele é o Cristo, o cabeça! Por isso possui e faz tudo “para” os que lhe pertencem, “por” nós. Por essa razão tudo o que pertence a Jesus, tudo que é propriedade dele, também pertence legitimamente a nós. O Jesus inteiro, crucificado, sepultado, ressuscitado, assentado à direita de Deus e o vindouro, é nosso! Porque ele mesmo assim o deseja! A fé, no entanto, segundo essa vontade de Jesus, simultaneamente obediente, ousada e humilde, toma posse de tudo, motivo pelo qual ela tem tudo isso e tem certeza disso. Crentes sabem, possuem e preservam que fomos ressuscitados com ele, morremos e fomos sepultados com ele, nossa vida está oculta com o Cristo em Deus, haveremos de ser revelados com ele em glória.
É decididamente importante aqui que se observe aqui a estreita trilha reta da fé. Nossa vida está “oculta” e somente será “manifesta” na transformação total de todas as coisas através do Senhor que retornará. Qualquer antecipação da escatologia, seja na forma católica romana de uma poderosa igreja gloriosa, seja na forma protestante de falsos esforços de santificação, deixa de reconhecer tanto a totalidade da magnitude da vida que nos foi concedida em Cristo como a limitação fundamental de nossa condição de cristãos na era presente. “Ainda não foi manifesto o que haveremos de ser”. Por isso Bengel afirma com precisão: Neque Christum neque christianos novit mundus; ac ne christiani quidem plane se ipsos (“O mundo não conhece nem a Cristo nem aos cristãos; obviamente os cristãos também não conhecem a si mesmos de forma plena”). Em meio a todas as críticas que os crentes recebem de fora e também sentem na própria consciência é profundamente consoladora a seguinte certeza: oculta, oculta está a nossa vida com Cristo em Deus! É assim que deve ser enquanto “o corpo estiver morto por causa do pecado” (Rm 8.10), e por essa razão incapaz de fazer com que a nova vida concedida pelo Espírito Santo desde já rompa para a visibilidade física plena. Por isso a igreja permanece em ardente anseio pelo que há de vir, almejando a plena filiação e aguardando a redenção de nosso corpo (Rm 8.23).
Ao mesmo tempo, porém, a fé não é de forma alguma mero conhecimento intelectual a respeito de uma vida oculta em Deus. Afinal, está “oculta com o Cristo”. Verdade é que agora Cristo está invisível, mas não inativo! Consequentemente, também a vida oculta com ele não se resume a uma posse inerte, apenas teórica e distante em Deus. Essa vida é tão próxima e tão eficaz entre nós quanto o próprio Jesus! A fé acolhe o que lhe é concedido como posse pessoal real. Não acolhe “opiniões” e “doutrinas”, mas, pelo contrário, realidades divinas, uma pessoa divina com todo seu ser e ter, padecer e realizar. De nossa parte, porém, não nos cabe colocar limites para esse acolher. Não-bíblica e incrédula, um confortável subterfúgio para nossa lerdeza e mornidão, é a pronta asseveração para outros e nós mesmos: “Afinal, um cristão agora ainda não consegue…! Pois nossa vida está oculta em Deus.” Não, todas as coisas que Paulo aguarda no começo da presente carta (bem como em muitas outras passagens de suas cartas!) persistem ao interceder pela igreja por incessante crescimento e fortalecimento. Visa, pois, mostrar enfaticamente aos colossenses e a nós: tal ter e acolher pela fé é em si, por necessidade intrínseca, uma atitude de vida bem definida! Pessoas “mortas” e “ressuscitadas” vivem necessariamente de maneira totalmente diferente de outras pessoas. Se não o fizerem, com certeza ainda não aconteceu o verdadeiro receber na fé, então houve apenas “pensar” e não verdadeiro “crer”. Evidentemente tudo depende da realidade da fé, do enlaçamento com Jesus. Trata-se daquela fixação dupla que Paul Gerhardt [1607-1676] nos incutiu de maneira tão inesquecível:
“Eu sou teu, por mim morreste
Redentor, por amor
Salvação me deste. [HPD 222,3]
Tu és meu porque te abraço,
minha luz és, Jesus,
isso eu não desfaço.”
De sua atitude doadora “para vós” e da “nossa vida” receptora forma-se aquele “com o Cristo”, cuja concretização permanente em nossa existência constitui a “santificação”.
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Colossenses 3:1