Estudo sobre Colossenses 4:7-9
Estudo sobre Colossenses 4:7-9
Aquilo que geralmente ocupa o centro de nossas cartas aparece aqui somente no final: a situação pessoal do autor da carta. No entanto, não se trata de uma questão meramente pessoal. Paulo, o procurador do Cristo, está detido e envolvido em um processo de vida ou morte. O desfecho desse processo tinha a maior relevância para a história subsequente da missão mundial e para a vida da igreja de Jesus. Por isso muitas igrejas, entre elas evidentemente também a de Colossos, aguardavam ansiosamente por notícias. Tampouco o próprio Paulo considerou seu destino algo secundário, mas como parte necessária de sua vocação e como inevitável participação nos “sofrimentos de Cristo”. Ele já assinalara isso nesta carta, em Cl 1.24 e 4.3. O anseio da igreja por maiores detalhes sobre o estágio do processo e a continuação do trabalho de Paulo era considerado justo por Paulo, de modo que envia especialmente um de seus colaboradores para levar a carta a Colossos, para informar pessoalmente acerca de tudo. Hoje compreendemos isso novamente muito bem, depois que a resistência da igreja Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial mostrou como é difícil dar uma noção real da “situação” por escrito, e como é necessária a viva informação oral. Afinal, reveste-se de extrema importância que as igrejas encontrem desde já também a correta sintonia interior com aquilo que ouvem. Também nisso Tíquico deve ajudar os colossenses. Por isso também aqui o parakalein (cf. o acima exposto sobre Cl 2.2) não significará simplesmente “consolar”, mas abrangerá todo o “encorajamento” que é necessário em vista da “situação”.
O próprio Tíquico vem da província da “Ásia”, da qual faz parte Colossos. Ele era o representante das igrejas da Ásia Menor na comissão que acompanhou Paulo na entrega do grande donativo das igrejas gentias cristãs à primeira igreja em Jerusalém (At 20.4; 1Co 16.3s). Por isso não deve ser desconhecido dos colossenses. Paulo, porém, volta a salientar o quanto ele ama e valoriza esse homem como irmão, como servo e colaborador. Não é possível chegar à conclusão se aqui a palavra “servo” (diákonos) deve ser entendida apenas como referência geral para o trabalho de colaboração de Tíquico ou já, em certa medida, como “título”. De qualquer maneira temos de nos distanciar completamente da concepção corrente que corresponde à nossa habitual visão da história, de que Paulo tenha realizado seu enorme trabalho de forma extremamente solitária. Pelo contrário, precisamos vê-lo em estreita comunhão de trabalho com muitas pessoas, que são seus “conservos no Senhor” e que ele classifica como tais até mesmo quando se submetem à liderança dele. Tíquico possui a mesma incumbência para Éfeso (Ef 6.21). Seu envio a essa comunidade, aparentemente com o intuito de uma permanência naquela cidade durante mais tempo, é mencionado também em 2Tm 4.12. Depois talvez venha a substituir Tito em Creta, para que este possa reunir-se rapidamente com Paulo em Nicópolis (Tt 3.12).
No caso de Éfeso somente Tíquico foi mencionado como portador das notícias. Na viagem a Colossos ele é acompanhado por Onésimo. Pela carta a Filemom conhecemos melhor esse escravo fugido, que veio de Colossos para Roma, onde aceitou a fé por meio de Paulo (Fm 10). De que maneira delicada, com a sabedoria do amor, Paulo presta um serviço a ambos, aos colossenses e a Onésimo! Para o escravo fugido não era fácil retornar para Colossos. Agora tem o privilégio de ir como mensageiro de Paulo, e aos colossenses foi mostrado o modo como devem se portar diante desse fugitivo: agora ele é para eles o “fiel e amado irmão”, da mesma forma e pelo fato de que é “irmão” para Paulo. Alguém que saiu da própria Colossos lhes trará, portanto, informações detalhadas sobre Paulo.
Como é precária e distorcida nossa concepção daquela época quando lemos as cartas que nos foram transmitidas somente como escritos teológicos doutrinários de um pensador solitário! Apesar da distância histórica, aquele tempo está muito mais próximo de nós em sua vitalidade humana natural do que em geral presumimos. Por essa razão essas frases pessoais são tão importantes para comunicar essa “proximidade”! Como leitores da Bíblia faremos muito bem se pararmos um instante e imaginarmos a cena da chegada de Tíquico e Onésimo em Colossos, portando essa carta. Vinham da parte de Paulo; não de um santo sobrenatural que passava a vida escrevendo a “Bíblia”, mas de uma pessoa genuinamente humana, cuja mão eles tinham apertado, cujo som de voz, com seu timbre especial, eles haviam ouvido, com o qual dialogaram e cujas emoções sinceras eles experimentaram por um período. Da mesma forma estavam também em Colossos em meio a um outro grupo de autênticas pessoas, cuja fé não era um esquema abstrato, mas uma trajetória de vida cheia de lutas e perguntas, como acontece também conosco. Essas pessoas, pois, ouviam a carta assim como também nós a podemos sorver viva e pessoalmente na leitura.
As saudações finais também nos ajudam a obter um quadro apropriado da situação.