Estudo de Colossenses 2:1-2

Estudo de Colossenses 2:1-2


Paulo havia falado do trabalho que ele realiza com fadigas. Trabalhar para Jesus não é brincadeira. Evidentemente, por causa do cristianismo estatal e territorial nós facilmente pensamos que a existência da igreja seria “óbvia”, que ela de fato resulta “automaticamente” a partir do poder dos costumes e da tradição. Por isso a profissão de líder da igreja, de pastor, seria confortável e pacata, para pessoas que não se enquadram na luta pela sobrevivência e cujos modos delicados e tranquilos não lhes permitem ter aptidão para outras tarefas. Paulo tinha uma experiência diferente. Ainda hoje as duas cartas aos Coríntios e a carta aos Gálatas constituem testemunhos palpáveis de quanta luta intensiva, dedicação sincera, disposição corajosa para a dor e clareza penetrante e sabedoria multifacetada não apenas participam da fundação de uma igreja, mas também de seu desenvolvimento e continuidade. Todas as igrejas que conheciam Paulo pessoalmente e presenciaram seu serviço sabiam disso por experiência própria. Porém, uma vez que sua incumbência singular colocava todas as igrejas das nações sob sua responsabilidade, ele deseja que também aqueles que “não viram sua face na carne” apesar disso “saibam que grande luta ele enfrenta”, também por eles, por Colossos e Laodiceia e todos os demais. Devem saber que o estado deles, seu desenvolvimento contínuo, a manutenção de sua saúde ou sua degeneração constituem para ele objeto de interesse pessoal, de ardente preocupação, de lutas intimas e orações. É assim que os colossenses também devem entender a presente carta.

Por que uma luta tão grande faz parte da preservação e continuidade de uma igreja? Nós não sabemos mais porque já não temos uma verdadeira “igreja”. Temos instituições solidamente estruturadas que de fato se preservam pelo peso da tradição e através da força do egoísmo institucional, e no âmbito dessas instituições temos os numerosos indivíduos abarcados e sustentados por esse espaço. Mas para Paulo estava realmente em jogo a “comunidade eclesial”, a irmandade concretamente vivida dos crentes. Aqui, porém, há “corações”, com todas as tendências divergentes que habitam no coração humano. Com quanta disposição e rapidez nós nos “confrontamos”, ao invés de nos “congregar”! Por isso, como é necessário que os “corações experimentem o conforto [Aqui consta a palavra tão frequente parakalein, que todos conhecemos pela designação do Espírito Santo como “Paracleto”. Originalmente ela significa “chamar para perto de si”, a saber, para apoiar, para ajudar. Dependendo do contexto, é traduzida por “exortar” ou “consolar”. Mas precisamos saber que para as pessoas do NT este termo não era um “exortar” autoritário, mas consolador, e o “consolar” não era pusilânime, mas encorajador. Nosso “confortar” também pode conter ambos os aspectos. Nesse caso a voz passiva poderia ser traduzida por “experimentar o conforto apropriado”.] apropriado” constantemente, para que melindre, medo, desânimo, orgulho e inveja sejam superados, e para que amabilidade, cordialidade, humildade e paciência produzam dia após dia a verdadeira concórdia [para o termo da Bíblia grega [LXX] traduzido com “mantidos unidos” e empregado em At 9.22 e 1Co 2.16 na voz ativa como “instruir, ensinar”, foi também sugerida, para a presente passagem, a tradução “ensinados (ou: instruídos) em amor”. Nesse caso a frase de Paulo apontaria apenas para a continuidade da igreja rumo ao pleno conhecimento, citando como condição uma “instrução em amor”.] dos membros da igreja.

Contudo a unidade da irmandade ainda carece de um segundo aspecto. É verdade que naquela época se tratava sempre de igrejas que haviam surgido pela decisão de fé pessoal, pela conversão clara e pelo renascimento de seus membros. Mas quando nos convertemos é muito pequeno nosso entendimento do evangelho, nossa percepção e desvendamento do mistério de Deus, de todo seu agir salvador em Cristo! Afinal, é por isso que somos inicialmente “crianças recém-nascidas”, que apenas começam a olhar para dentro do mundo de Deus que até então era “estranho” e incógnito. Uma criança recém-nascida é um deleite, e a gratidão dos pais por ela se eleva com júbilo. Mas quando a criança não passa a crescer e não aprende a andar, atingindo a independência, ela está doente e corre perigo de definhar ou morrer. “Conversões” são um deleite, os anjos no céu se alegram, e a igreja pode agradecer e louvar. Contudo, quando o crente estaciona na “conversão”, quando não avança, a condição cristã permanece precária e pobre, e por isso a primeira alegria se dissipa em breve, tornando “enfadonho” o cristianismo há pouco saudado com tanta alegria. Então também não existe certeza plena, o cristão permanece inseguro, oscila, indefesamente exposto a toda sorte de influências e ataques. Nessa constituição, porém, ele também não terá valor para a irmandade, contribuindo pouco para a vida, o trabalho, as lutas e sofrimentos comuns, e tornando-se um perigo para a comunhão por ser facilmente influenciável.

Por isso o incansável trabalho e tenaz empenho também visam agora conduzir os corações a “toda a riqueza da forte convicção do entendimento”.

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Contudo, será mesmo que isso é viável? Porventura o Deus eterno e vivo não é um mistério impenetrável para nós, de modo que precisamos nos contentar com uma condição de fé infantil? Não se trata no máximo de uma questão para teólogos, que se debruçam sobre as difíceis perguntas sobre o entendimento de Deus? Um leigo não fica tonto quando lê as complexas controvérsias teológicas, p. ex., acerca da doutrina da Trindade? Sim, não será absolutamente perigoso para leigos aproximar-se do “entendimento do mistério de Deus, do Cristo”?