Estudo sobre Apocalipse 14:12-13

Estudo sobre Apocalipse 14:12-13



De modo muito flagrante João abandona o estilo de descrição e dirige a palavra a seus contemporâneos. Ele não olha simplesmente para dentro do céu, porém vê igualmente a eles e tem de agir pastoralmente. Essas inclusões são características do cap. 13 (Ap 13.9,10,18). Pelo que se constata, ainda se pressupõe a mesma situação dos santos (Ap 13.7).

Aqui é necessária a perseverança dos santos, aqui são aprovados somente os que guardam os mandamentos de Deus e a fidelidade a Jesus. A menção da esperança pela parusia e da fidelidade das testemunhas aproxima essa palavra de Ap 13.10. Contudo, naquele contexto não se devia esperar a referência à adoração de imagens, que evidentemente aconteceu aqui pela indicação dos mandamentos de Deus. Pois entrementes João havia visto e relatado Ap 13.11-18, acabando também por referir-se à questão (v. 9-12). A proibição de imagens no AT desempenhava uma função-chave, formando o acesso a todos os mandamentos de Deus.

Uma voz do céu confirma a exortação de João. Ligada a uma das doze ordens do livro para que João escreva (cf. o exposto sobre Ap 1.11), ela profere uma bem-aventurança: Escreve: Bem-aventurados são os mortos que… morrem no Senhor. Este cumprimento soa paradoxal como tantas bem-aventuranças na Bíblia. Ela vale para aqueles aos quais de resto ninguém felicitaria, quando muito uma cordial condolência, a saber, para os mártires na luta iminente. No presente contexto não é possível entender o desde agora de forma diferente. Ap 12.10,11 fala do mesmo morrer e vencer dos irmãos sob o mesmo “agora”. Ali também lemos que seu morrer é uma vitória. É para essa vitória que estão sendo exclamadas aqui as felicitações. Será que ele também se refere a que de agora em diante – tenhamos diante de nós a situação do cap. 13! – é mais fácil que viver? Quem morria no Senhor,703 ou seja, na fé, morria em direção a seu Senhor, tendo passado por tudo.

Apesar de essas palavras serem de uma voz do céu, ainda é preciso que se acrescente uma voz confirmadora do Espírito como segunda testemunha, porque as coisas mencionadas têm tamanha gravidade. Sim, diz o Espírito. No Ap o Espírito é, com clareza singular, o advogado da igreja em suas fraquezas. Aqui trata-se, como em Rm 8.26, da fraqueza na oração. Ele ajuda a que se concorde perante Deus com um caminho tão difícil.


A explicação subsequente também deve ajudar a seguir ao Cordeiro para onde quer que vá. Para que descansem das suas fadigas (“trabalhos” [rc, teb, blh, vfl]). Ao contrário da recém-mencionada terrível falta de sossego no v. 11, a nova existência será o descanso dos santos. O judaísmo prometia descanso depois de uma luta corajosa contra os desejos carnais. Aqui nos encontramos numa atmosfera diferente. Trabalho é uma palavra do primeiro cristianismo para o empenho missionário (cf. o comentário a Ap 2.1). Essa fadigas incluem, no caso, também o sacrifício completo da existência, depois que cada dia já trouxe a sua maldade (Mt 6.34). É o que está em destaque: sair de tudo que é maligno e entrar para a alegria do Senhor. Seu louvor alegre lhes proporcionará plena paz.

É nesse sentido que também se afirma: pois as suas obras os acompanham (“seguem”). Seu louvor dirige-se a essas obras, na medida em que representam o lado externo de sua fidelidade de fé. Separar pessoa e obra é possível apenas num nível meramente intelectual e, aliás, muito infrutífero. Enquanto nós gostamos de deixar as obras para trás e oferecer a Deus nossa pessoa abstrata e crente, o judaísmo enveredou pelo caminho oposto, remetendo Deus à boa obra abstrata. “Quem cumpre um único mandamento nesse mundo, essa obra o precede e entra antes dele no mundo vindouro”. A obra abre o caminho. Com ela o ser humano realiza demonstrações e operações diante de Deus. No entanto, perante Deus não podemos construir fachadas nem de um nem de outro jeito. Ele alcança a pessoa por trás da obra e a obra por trás da pessoa. Ele descobre a realidade (cf. a exposição sobre Ap 20.11-13).