Estudo sobre Apocalipse 19:9-10
Apocalipse 19:9-10
Então, me falou. Sem acréscimo consta “ele”. Por isso ele é seguramente o anjo da taça de Ap 17.1, que proporcionou a João a grande visão da ruína da Babilônia. É claro que para João a Babilônia ainda estava entronizada e, ao contrário do v. 7, a igreja não tinha nada para rir e alegrar-se. Como João talvez tenha ficado atordoado, considerando esse futuro como incrível! O anjo tem de lhe falar com insistência e pressioná-lo para que anote, como em Ap 21.5, as seguintes bem-aventuranças: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro.
A figura alterna, à semelhança do que ocorreu em Ap 12.17 (cf. o ali exposto e também a nota 581), de uma pessoa individual para um grupo, sem que seja mudada a cena que está diante dos olhos. Uma vez João vê o povo de Deus na imagem exultante da noiva (v. 7), na segunda vez ele ouve a respeito desse povo na imagem de alegria dos convidados. Pessoas convidadas já vivem cheias de alegria, mesmo que ainda estejam a caminho do salão das bodas. É assim que os discípulos de Jesus estão a caminho, com o chamado nos ouvidos. Contudo, como no trajeto precisam passar pelo martírio, perguntam-se: será que o chamado era um equívoco ou uma armadilha? Será que foi por tolice que nos pusemos a caminhar? Acaso estamos indo em direção de um alvo ao qual jamais chegaremos, e esperamos em vão por Deus? Para essa aflição foi concedida a bem-aventurança expressa, além do realce: São estas as verdadeiras palavras de Deus. Nesse ponto não existe um “talvez sim, talvez não”. São palavras de Deus. A igreja conhece a Deus e possui nesse fato um ponto de referência para confiar nele. Por conhecer aquele que promete, ela crê nas promessas. É por isso que ela projeta essas promessas simplesmente em uma realidade contrária, até que o futuro as confirme.
Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo (“reverenciá-lo”). O anjo conduzira João a Deus da maneira mais santa. Não há nada que comprove, e sob todos os aspectos é improvável, que João justamente nesse instante rompa o Primeiro Mandamento e queira adorar alguém outro senão a Deus somente.922 Entretanto, pousava sobre o mensageiro de Deus tamanho reflexo de Deus que João se prostra, visando reverenciá-lo. Isso é humanamente compreensível, porém precisa ser corrigido.
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Agora o emissário se mostra como verdadeiro mensageiro de Deus, ao rejeitar decididamente qualquer superiorização de sua pessoa. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus. Das palavras teus irmãos depreende-se que entre anjos e pessoas de Deus na verdade não existe uma irmandade, mas que em contrapartida estão unidos por um serviço comum. O anjo é conservo delas. Para ambos vale: adora a Deus!
A ênfase, porém, reside sobre um outro serviço conjunto: ter o testemunho de Jesus. Isso, no entanto, significa estar no serviço profético. O testemunho de Jesus é o espírito da profecia. Pois esse anjo da taça está transmitindo justamente visões da vitória de Deus e do Cordeiro, encontrando-se, por isso, no serviço profético. Agora, porém, ele traça a linha de ligação com João e seus irmãos. Também eles, que testemunham a Jesus, são profetas, pois Jesus é a profecia em pessoa (cf. o comentário a Ap 1.1). Falar dele é falar de um novo mundo e uma nova humanidade, incluindo juízos sobre a história e o futuro. Todas as verdadeiras testemunhas de Jesus são, por isso, profetas no verdadeiro sentido da palavra. Essa equação impactante também pode ser invertida: todos os verdadeiros profetas são testemunhas de Jesus. Isso vale para os profetas do AT (Jo 5.39), como também para o próprio João e para cada testemunha que afirma hoje verdades substanciais sobre a conjuntura e a evolução da realidade. Sempre estará proferindo o que foi dado com Jesus, e faz brilhar o que ainda está oculto em Jesus (Jo 16.13,14). O próprio livro do Ap constitui um modelo básico de profecia cristocêntrica e como tal é parte integrante do cânon.
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Apocalipse 19:9-10
Notas:
581 Uma, pois, é uma figura de sua essência em Cristo, a outra é um quadro de sua experiência no mundo. Ambos os aspectos valem decididamente para cristãos de origem judaica e gentílica, e para ambos vale também a continuação, segundo a qual os perseguidos cumprem os mandamentos de Deus e possuem o testemunho de Jesus. Referir a “mulher” a judaico-cristãos e a “descendência” (“semente”) a gentílico-cristãos (como pensam, p. ex., Rissi, Bousset) rompe todas as correlações do presente texto (cf. também o comentário a Ap 19.9).
922 Na situação em que alguém se prostra diante de Deus, o termo grego proskynein (“prostrar-se”) certamente possui o significado da adoração (cf. a tradução: “Adora a Deus!”). Em todos os demais casos, porém, é preciso examinar bem. A palavra como tal significa inicialmente apenas a silenciosa expressão de respeito, que pode ocorrer em vários significados. Não se pode crer que João prestasse culto a um anjo.