Apocalipse 16 — Comentário Bíblico Online

Apocalipse 16 — Comentário Bíblico Online

Apocalipse 16 — Comentário Bíblico Online





Apocalipse 16

João ouviu uma grande voz, vinda do templo (santuário). Uma vez que acabamos de ler (15.8) que ninguém podia entrar no santuário até que as pragas se consumassem, presumivelmente essa era a voz de Deus. Essa voz ordenou aos sete anjos que derra­massem suas taças da ira divina sobre a terra (1). Quando o primeiro anjo esvaziou sua taça, fez-se (gr., sobreveio) uma chaga má e maligna (gr., kakon kai poneron) nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem (2). Essa é semelhante à sexta praga no Egito (Êx 9.10). Má significa “nociva” ou “prejudicial”. A palavra grega para chaga significa “abscesso” ou “úlcera”. Uma boa tradução da frase inteira seria: “úlceras repugnantes e malignas” (Phillips).
1.    A Segunda Taça: Morte no Mar (16.3)
O segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto — como de um homem morto deitado em seu próprio sangue. O resultado foi que toda alma vivente (criatura) morreu no mar. Isso foi como a primeira praga no Egito (Êx 7.20) e a segunda trombeta (8.8,9). Mas, enquanto no Egito somente os rios e tanques foram afetados, aqui foi o mar. E enquanto somente um terço da vida no mar foi destruído pelo julgamento da segunda trombeta, agora toda alma vivente do mar morre. Tudo isso sugere que essas sete pragas derramadas das taças são finais e completas.
2.    A Terceira Taça: Sangue (16.4-7)
E o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue (4). Esse é um quadro ainda mais parecido com a primeira praga no Egito e é semelhante à terceira trombeta (8.11). Mas, enquanto o julgamento anunci­ado pela trombeta afetou somente uma terça parte do suprimento de água doce, aqui tudo é transformado em sangue.
A justiça divina nesse julgamento é vindicada pelo anjo das águas (5). Ele reconhe­ce que Deus tinha o direito de usar as águas para o castigo dos pecadores. O melhor texto grego traz em lugar de ó Senhor, “o Santo”. A tradução correta então é a seguinte: “Tu és justo, tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas” (ARA).
O motivo para essa justiça é que como derramaram o sangue dos santos e dos profetas (líderes cristãos), também tu lhes deste sangue a beber (6). A última frase: porque disto são merecedores (axioi) forma um contraste terrível com a mes­ma expressão em 3.4. A palavra axios literalmente significa “adequado”. O castigo é adequado ao crime.
João ouviu outro do altar, que dizia (7) — literalmente: “Ouvi o altar dizer”. Alford comenta: “Certamente, a compreensão mais simples dessas palavras é que elas envol­vem uma personificação do altar. No altar estão as orações dos santos, oferecidas diante de Deus; debaixo do altar estão as almas dos mártires clamando por vingança: portanto, quando o altar fala, tem-se em mente o testemunho deles”.' O que o altar disse era um eco do cântico de Moisés e do Cordeiro (15.3-4).
4.    Quarta Taça: Calor Abrasador (16.8,9)
E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com fogo (8). No caso da quarta trombeta uma terça parte do sol foi escurecida. Aqui parece que seu calor foi multiplicado, a ponto de as pessoas se­rem abrasadas por ele.
Nem sempre o julgamento divino produz arrependimento. Em agonia e dor, esses homens blasfemaram o nome de Deus, que tem poder sobre estas pragas; e não se arrependeram para lhe darem glória (9). É uma coisa terrível considerar as pessoas na sua revolta completa e final contra Deus. No entanto, há muitas correntes em nossos dias que apontam para essa direção. Ou o sofrimento “amolece” as pessoas para o arrependimento ou as “endurece” para a rebeldia.
5.    Quinta Taça: Trevas (16.10,11)
E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu reino se fez tenebroso; e os homens mordiam (“remordiam”, ARA) a língua de dor (10). Dessa vez, o julgamento acertou bem o coração do poder anticristão — o trono da besta. Novamente é declarado que as pessoas blasfemaram do Deus do céu (cf. Dn 2.44) por causa das suas dores e por causa das suas chagas — provindas das pragas anterio­res — e não se arrependeram das suas obras (11).
6.    Sexta Taça: Invasão (16.12-16)
Antes, quando a sexta trombeta soou (9.13), quatro anjos foram soltos do rio Eufrates e milhões de cavaleiros foram soltos por eles para a destruição. Encontramos um parale­lo impressionante aqui. O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente (12). Nos dias de João isso significava uma invasão ameaçadora do Império Romano pelos partos. Para o fim desta era isso aparentemente significa um ataque ma­ciço à Palestina de exércitos do Oriente.
João viu três espíritos imundos, semelhantes a rãs (13). Provavelmente há uma referência aqui à segunda praga no Egito (Êx 8.6). Rãs também foram incluídas entre os animais impuros na lei mosaica (Lv 11.10).
Esses espíritos saíram da boca do dragão [...] da besta [...] do falso profeta. A palavra grega para “espírito” é pneuma, cujo significado principal é “fôlego”. Esses demônios são exalados da boca de Satanás e de seus colegas, da mesma forma que Jesus “assoprou” o Espírito Santo sobre os seus discípulos (Jo 20.22).
dragão já foi identificado como “o diabo e Satanás” (12.9). A besta é claramente aquela que subiu do mar (13.1), mais tarde chamada de a “primeira besta” (13.12). A partir daí, ela é simplesmente chamada de “a besta” (13.14-18; 14.9, 11; 15.2; 16.2, 10). O falso profeta é inquestionavelmente a segunda besta, que subiu da terra (13.11). Ela está ligada à primeira besta em 19.20 (cf. 13.14) e 20.10. Esses três compõem o que às vezes é chamado de “a trindade do mal”, em contraste com a Santa Trindade do Pai, Filho e Espírito Santo.
Os espíritos impuros são espíritos de demônios (daimonion), que fazem prodí­gios (14) — literalmente, “realizando sinais”. Nos tempos do Antigo Testamento os fal­sos profetas realizavam sinais como suposta prova do seu chamado divino (Dt 13.1-3). Cristo advertiu seus discípulos que esse tipo de homens surgiriam na Igreja (Mc 13.22). Um paralelo impressionante dessa passagem é encontrado em 2 Tessalonicenses 2.8-9: “e, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca [...] cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira”. Atos 13.6 menciona um “falso profeta” chamado Barjesus.
Os três demônios vão ao encontro dos reis de todo o mundo para os congregar para a batalha, naquele grande Dia do Deus Todo-poderoso. Que essas forças satâ­nicas são responsáveis por muitas guerras é inquestionável. Swete observa: “Houve épo­cas em que nações foram dominadas por uma paixão por guerras, fato que os historiadores têm dificuldade em explicar. O vidente está antevendo esse tipo de situação, mas será uma época diferente de todas as outras, porque o mundo inteiro estará envolvido na guerra”.'
Essas palavras de Swete foram escritas no início do século XX, antes das duas Guer­ras Mundiais do século mais sangrento na história humana. Meios modernos de comuni­cação e transporte tornaram possível à Terra toda se envolver na mesma guerra; na verdade, eles tornaram quase impossível isso não acontecer. Não é necessário muito discernimento profético para perceber que o cenário está sendo montado para o grande conflito global no fim desta era.
Lemos em 2 Pedro 3.10: “Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite”. E assim lemos aqui: Eis que venho como ladrão (15). Não há duvida de que é Cristo que está falando aqui (cf. 3.3). Durante seu ministério terreno Ele havia anunciado essa adver­tência (Mt 24.42-44). Paulo repetiu a advertência (1 Ts 5.2). Agora ela aparece outra vez, seguida da seguinte expressão: Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas. Diferentemente dos gregos, os judeus consideravam uma desgraça trágica ser apanhado nu; isto é, não devidamente vestido. A aplicação espiritual é óbvia. Devemos colocar a veste da justiça de Cristo se queremos estar preparados para a sua vinda (cf. Mt 22.11).
Parece que esse versículo é um parêntese nessa passagem (cf. ASV). Jesus insere uma nota especial de advertência aos que lhe pertencem.
Agora a narrativa recomeça. (“eles”,' os três demônios impuros) os congrega­ram (os exércitos das nações) no lugar que em hebreu se chama Armagedom (16; Har-Magedon, ASV).
Esse nome próprio tem causado um ilimitado número de comentários. Charles escreve: “Nenhuma interpretação convincente tem sido dada a essa frase [Har-Magedon], que provavelmente deveria ser traduzida por 'as montanhas do Megido'“.1” A forma Armagedom (aspiração fraca no gr.) significa “a cidade de Megido”. Megido — a colina ainda pode ser vista hoje — se localizava na entrada de uma passagem famosa, domi­nando a planície de Esdraelom. Foi nessa planície que Débora e Baraque derrotaram os exércitos de Jabim, rei de Canaã (Jz 5.19,20). Faraó Neco matou Josias no “vale de Megido” (2 Cr 35.22; cf. Zc 12.11). Swete sugere: “Assim, Megido simboliza adequadamente a angústia mundial das nações na derrota dos seus reis na guerra finar.'
7. A Sétima Taça: Destruição (16.17-21)
O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e saiu grande voz do templo do céu, do trono, dizendo: Está feito (17) — literalmente: “Está terminado”. Essa era a manifestação final da ira divina em castigar a rebelião humana.
O conteúdo da sétima taça produziu imensos distúrbios na natureza: houve vozes, e trovões, e relâmpagos (18). A ordem do melhor texto grego é: “clarões de relâmpagos e sons e ressoar de trovões” (NASB). Mas o fenômeno principal foi um grande terremoto, como nunca tinha havido desde que há homens sobre a terra; tal foi este tão grande terremoto. O primeiro século ficou conhecido pelos diversos terremotos violen­tos, mas esse será o pior de todos.
O resultado do terremoto foi que a grande cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das nações caíram (19). Simcox acha que este texto se refere à grande cidade de Jerusalém, citando Zacarias 14.4,5 como um paralelo.' Parece que Jerusalém é cha­mada de “grande cidade” em 11.8. Outros comentaristas (e.g., Swete, Charles, Lenski) entendem tratar-se da grande Babilônia que deve tomar o cálice do vinho da indig­nação da sua ira e cuja queda é descrita nos próximos dois capítulos. Parece impossível decidir dogmaticamente entre esses dois pontos de vista.
O terremoto foi tão violento que toda ilha fugiu; e os montes não se acharam (20). Algo semelhante ocorre em conexão com o sexto selo (6.14). É impossível dizer até que ponto essa linguagem deve ser tomada literalmente e até onde é figurada.
A última manifestação ocorreu na forma de uma grande saraiva (21). Essa é uma lembrança da sétima praga no Egito (Êx 9.24). Cada pedra de gelo pesava cerca de um talento — provavelmente “cerca de 35 quilos” (NVI). Mas os homens continuaram blas­femando de Deus, em vez de se arrependerem.
preterista (veja Int., “Interpretação”) entende que essas sete pragas seriam derra­madas sobre o Império Romano. O futurista faz a aplicação ao Anticristo (a besta) e seus seguidores no fim dos tempos.
Barnes, representando o ponto de vista historicista, considera esse capítulo uma descrição dos “sucessivos golpes que derrubarão o papado [a besta]”.' Ele interpreta a primeira taça como que referindo-se à Revolução Francesa; a segunda, a “uma série de desastres navais que derrotaram a frota da França e que demoliram por completo o poder naval mais temível que já foi preparado por uma nação debaixo do domínio papal”;'56 a terceira, à invasão da Itália por Napoleão; a quarta, às guerras na Europa após a Revolução Francesa; a quinta, ao ataque direto ao poder papal pelos france­ses; a sexta, ao declínio do poder turco (o rio Eufrates secou). Ele acha, no entanto, que Armagedom (16) aponta para o futuro, de modo que o restante do livro ainda está por ser cumprido.

Índice: Apocalipse 1 Apocalipse 2 Apocalipse 3 Apocalipse 4 Apocalipse 5 Apocalipse 6 Apocalipse 7 Apocalipse 8 Apocalipse 9 Apocalipse 10 Apocalipse 11 Apocalipse 12 Apocalipse 13 Apocalipse 14 Apocalipse 15 Apocalipse 16 Apocalipse 17 Apocalipse 18 Apocalipse 19 Apocalipse 20 Apocalipse 21 Apocalipse 22