Apocalipse 7 — Comentário Bíblico Online

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Apocalipse 7 

O capítulo 7 forma um tipo de interlúdio entre o sexto e o sétimo selos. A abertura do sétimo selo (8.1) revela as sete trombetas. Assim, essas duas séries de sete estão interligadas.
Este capítulo divide-se naturalmente em duas partes, como é indicado pela frase E, depois destas coisas, vi nos versículos 1 e 9.570 que João viu foi a Igreja Militante na terra (vv. 1-8) e a Igreja Triunfante no céu (vv. 9-17).
a) Os cento e quarenta e quatro mil são selados (7.1-8). João viu quatro anjos que estavam sobre os quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma (1). Os julgamentos de Deus precisavam ser retidos por um período. Cada um dos quatro anjos estava parado em um dos quatro cantos da terra ­significando as quatro direções da bússola — retendo (segurando firme, mantendo sob controle) os quatro ventos da terra, simbolizando os julgamentos que estavam prestes a ocorrer. Nenhum furacão deveria varrer a terra ou o mar, nem derrubar árvore alguma.
João então viu outro anjo subir da banda do sol nascente (2) — literalmente “que subia do nascente do sol” (ARA). Ele tinha o selo do Deus vivo. O selo “é aqui o anel de sinete [...] que o monarca Oriental usa para dar validade a documentos oficiais ou para marcar sua propriedade”.' Paulo usa essa figura diversas vezes (2 Co 1.22; Ef 1.13; 4.30). Talvez o paralelo mais próximo no Novo Testamento seja 2 Timóteo 2.19: “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus”. O simbolismo aqui em Apocalipse está provavelmente relacionado com o texto de Ezequiel 9.3-4, em que um homem vestido de linho e levando um tinteiro de escrivão recebe a ordem de marcar um sinal na testa de todos os justos em Jerusalém. Aqueles que não tinham essa marca deveriam ser mortos.
Os quatro anjos foram advertidos: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos assinalado na testa os servos do nosso Deus (3). O uso de nosso Deus sublinha o fato de que tanto santos quanto anjos servem o mesmo Senhor.
O número selado era cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos dos filhos de Israel (4). Mas o que representam exatamente os cento e quarenta e quatro mil? Essa é uma pergunta que tem recebido inúmeras respostas. Alguns entendem que o número indica o remanescente eleito de Israel (cf. Rm 11.5). Outros acham que se trata dos cristãos judeus. A figura cento e quarenta e quatro mil não deve ser tomada literalmente, mas simbolicamente. Ela representa aqueles que “foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro” (14.4). O número (12 x 12 x 1.000) significa uma multidão grande e completa. Provavelmente, o melhor ponto de vista seja aquele que diz que os cento e quarenta e quatro mil representam “todos os fiéis”.” Esse parece ser o caso pela descrição dos cento e quarenta e quatro mil em Ap 14.1-5.
Na lista das doze tribos (vv. 5-8) aparece um problema: Por que Dã é omitida? Em diversas listas do Antigo Testamento (Nm 1.5-15, 20-43; 13.4-15) o nome de Levi é deixa­do fora — “Mas os levitas, segundo a tribo de seus pais, não foram contados entre eles” (Nm 1.47). Isso ocorria porque eles eram separados para um serviço sagrado especial. Para que o número continuasse sendo doze, a tribo de José era dividida em duas tribos, Efraim e Manassés. Eles são mencionados separadamente aqui, em que José (8) está no lugar de Efraim. Levi (7) é incluído.
Isso continua deixando em aberto a questão da omissão de Dã. Essa tribo está fal­tando nas listas genealógicas de 1 Crônicas 2.3-8.40. O mesmo ocorre com Zebulom, por alguma razão desconhecida.
Foi sugerido que Dã é deixado fora porque essa era a primeira tribo a enveredar pelo caminho da idolatria (Jz 18). Os antigos escritos rabínicos ressaltam a apostasia de Dã. O Testamento dos Doze Patriarcas (uma obra pseudepigráfica) sugere uma aliança entre Dã e Belial.
Duesterdieck diz: “O simples motivo de a tribo de Dã não ser citada está no fato de que ela já tinha sido extinta muito antes do tempo de João”.' Mas, evidentemente, o mesmo ocorreu com as outras dez tribos do norte.
A explicação mais antiga, endossada amplamente pelos antigos Pais da igreja, foi primeiro oferecida por Irineu (segundo século). Ele entendia que Dã foi omitida porque o Anticristo deveria emergir dessa tribo (cf. Jr 8.16). Charles insiste que “essa tradição da origem do Anticristo é pré-cristã e judaica”.61
A ordem das tribos conforme relacionadas aqui, tem evocado considerável discussão. Depois de mencionar Judá e Manassés, Charles afirma: “As tribos restantes são relaciona­das em ordem completamente ininteligível”.62 Swete apresenta uma explicação mais lógi­ca: “A ordem apocalíptica começa com a tribo da qual Cristo veio [...] e então continua para a tribo do filho primogênito de Jacó, que encabeça a maioria das listas do AT. Em seguida vêm as tribos localizadas no Norte, interrompidas pela menção de Simeão e Levi, que em outras listas geralmente seguem Rúben ou Judá; enquanto as tribos de José e Benjamim são mencionadas por último”.' Ele acrescenta: “Essa organização parece ter sido sugerida em parte pela ordem de nascimento dos patriarcas e em parte pela situação geográfica das tribos”.' J. B. Smith traz uma apresentação lógica ao colocar os nomes em pares, em vez de em triplas como são encontradas na versificação das nossas Bíblias.
b) A multidão dos redimidos (7.9-17). João viu uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas (9) parada diante do trono no céu. Às vezes, somos tentados a sentir que somente algumas pessoas estão servindo o Senhor. Mas o total de redimidos de todos os tempos e todas as nações é uma multidão incontável.
Eles trajam vestes brancas — símbolo de pureza e vitória — e levam palmas nas suas mãos, como fez a multidão alegre na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Jo 12.13). Swete habilmente observa: “A cena de Apocalipse 7.9ss. antecipa a condição final da humanidade redimida. Semelhantemente à Transfiguração antes da Paixão, ela pre­para o vidente a enfrentar o mal que está por vir”.”
A multidão dos redimidos clama: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro (10). Aqui, como ocorre com frequência no Novo Testamento, Cristo é adorado junto com o Pai. Todos os anjos, os vinte e quatro anciãos, e as qua­tro criaturas viventes se unem na adoração (v. 11). O relato do louvor (v. 12) é sétuplo, como em 5.12 (veja os comentários ali). Cada um dos sete itens leva o artigo definido no texto grego, enfatizando-os individualmente.
Um dos anciãos (13) ofereceu-se para explicar a visão a João (cf. 5.5). Ele primeiro fez uma pergunta dupla acerca daqueles que estavam trajando vestes brancas: quem são e de onde vieram? João respondeu: Senhor, tu sabes (14) — literalmente: “tu tens conhecimento” (tempo perfeito). Então vem a explicação: Estes são os que vieram de grande tribulação — literalmente: “Estes são os que estão vindo de grande tribula­ção”. Essa frase tem levado ao nome “A Grande Tribulação”, por um breve período (três anos e meio ou sete anos), no fim dos tempos. Muitas vezes fala-se que a referência aqui é aos chamados “santos da tribulação” que são salvos durante a Grande Tribulação. Em certo sentido, todos os cristãos precisam passar “por muitas tribulações” (At 14.22). Mas, no fim dos tempos haverá um período de muita aflição que bem poderia ser entendido como a Grande Tribulação (cf. Dn 12.1). Essa continua sendo uma pergunta aberta, se, de fato, a referência aqui deveria ser restrita aos santos desse breve período.
Os redimidos são descritos como aqueles que lavaram as suas vestes e as bran­quearam no sangue do Cordeiro. A ideia das vestes serem literalmente lavadas para se tornarem brancas no sangue é paradoxal. Mas essa não é uma linguagem literal. Toda a história da salvação é um paradoxo, em que muitos intelectuais sofis­ticados têm tropeçado. O fato continua o mesmo: a única forma de salvação é aceitar humildemente a expiação provida pelo Filho de Deus, que derramou o seu sangue para todos os pecadores.
Somente os lavados pelo sangue podem ficar diante do trono de Deus (15) e des­frutar da sua presença para sempre. Eles o servem de dia e de noite no seu templo. O céu é um lugar de descanso, mas não de preguiça ou inatividade. Templo não é hieron, usado para o tempo em Jerusalém, mas naos, “santuário”. No antigo Tabernáculo e no Templo posterior somente os sacerdotes e levitas podiam entrar no santuário. Mas agora todos os crentes são sacerdotes e podem servir no santuário. Swete observa: “O 'templo' é aqui a Presença divina, compreendida e desfrutada”.” Ele faz essa aplicação prática para o presente: “Mas a visão de adoração incessante é compreendida somente quando a vida em si é entendida como um serviço. A consagração de toda vida para o serviço de Deus é um alvo para o qual nossa adoração presente aponta”.68 Na última frase do versículo 15 ele comenta: “O serviço perpétuo encontrará seu estímulo e sua recompensa na visão perpétua daquele que é servido”.'
O Eterno, que está assentado sobre o trono, os cobrirá com a sua sombra. O verbo é skenosei — literalmente, “estenderá a tenda ou tabernáculo”. Somente João usa essa palavra. Apocalipse 21.3 é semelhante à declaração empregada aqui. Em João 1.14 o termo é usado para a Encarnação: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós”. A vinda de Cristo para a terra preparou o caminho para todos que aceitassem a sua salvação e desfrutassem da presença de Deus para sempre no céu. Assim, essa parte da frase pode ser traduzida da seguinte forma: “E aquele que está assentado no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo” (NVI).
A bem-aventurança dos redimidos é descrita mais adiante da seguinte maneira: Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles (16). A linguagem desse versículo e uma boa parte do próximo versículo são tomadas por empréstimo de Isaías 49.10: “Nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o sol os afligirão, porque o que se compadece deles os guiará e os levará mansamen­te aos mananciais das águas”. E, assim, nós lemos: porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida (17). Há uma reflexão aqui não só de Isaías 40.11 e Ezequiel 34.23, mas também do amado Salmo 23. Somente Cristo é a Água da Vida (cf. Jo 4.14).
O capítulo termina com a bela promessa: e Deus limpará de seus olhos toda lágrima. Isso é repetido em 21.4. Swete observa: “Na verdade, todo o episódio de 7.9-17 tem eco nos últimos dois capítulos do livro, onde o clímax aqui introduzido é descrito de forma mais completa”.”
Os capítulos 6 e 7 apresentam contrastes marcantes. Richardson observa: “O sexto capítulo conclui com uma pergunta: 'quem poderá subsistir?' O capítulo sete dá a respos­ta”.' São os salvos e selados pelo sangue de Cristo. Da combinação encontrada no capítu­lo 7 ele diz: “Vitória e alegria por meio de luta e tribulação é a mensagem desse livro”.'“

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