Estudo sobre Apocalipse 9:11-12

Estudo sobre Apocalipse 9:11-12

Estudo sobre Apocalipse 9:11-12

Apocalipse 9:11-12

A forma verbal no presente e, por meio dela, o ápice da tensão também se mantêm no versículo final da visão. E tinham (“têm”) sobre eles, como seu rei, o anjo do abismo.

Já em Jl 2.7,8 chama atenção a inacreditável disciplina desses exércitos inimigos, tão capaz de confundir (v. 6). Eles próprios, porém, não conhecem confusão, nem tropeço, nem hesitação. Com eles, tudo funciona como um relógio. É imperioso que por trás deles esteja alguém muito poderoso. Essa também é a questão agora. A igreja não deve deter-se no aspecto exterior. É por isso que ela obtém revelação sobre aquele que está por trás e acima deles como rei. É o anjo do abismo. Poder resistir ao seu poder pressupõe que ele não permaneça anônimo. Seu nome é revelado completamente, ou seja, em forma dupla.

Seu nome em hebraico é Abadom. Ele significa inicialmente “a perdição”, no sentido de lugar da perdição, i. é, o abismo do v. 1. A progressão do pensamento, porém, reside em que agora o nome entra no lugar de uma expressão neutra, meramente topográfica (“abismo”), como designação avaliadora e desmascaradora. No AT Abadom já era personificado como príncipe da perdição (Jó 28.22). Ele não é idêntico ao próprio Satanás, que é precipitado ao abismo somente em Ap 20.1-3, do qual porém esse “rei” já está saindo. Cf. pormenores no retrospecto sobre o presente trecho.

Adiante lê-se: e em grego, Apoliom. Trata-se de uma tradução personificada de Abadom, ou seja, com o significado de “o destruidor”. Ao mesmo tempo, Apoliom soa muito semelhante ao nome do deus helenista Apolo. Talvez deva ser intencionalmente percebido pelos leitores como uma alusão.385 Apolo, no entanto, é a divindade mais divulgada daquele tempo, o que é confirmado pelos 200 cognomes e a incrível variedade das funções que lhe foram atribuídas no decorrer dos séculos. Essa era a divindade principal no culto ao imperador sobretudo desde Otaviano. É provável que esse aspecto seja decisivo aqui, de modo que nesse versículo explicativo o elemento satânico seria concretizado em direção do culto ao imperador. A grande tribulação sobrevém à humanidade no iminente culto ao imperador.

Aliás, em locais decisivos João tem predileção por definições duplas em hebraico e grego. Dificilmente basta justificar esta predileção com a observação de que é necessário fornecer a tradução. Em muitas passagens seria possível sem mais nem menos prescindir de uma das formas. Também o fato de que uma tradução pode simultaneamente servir de aprofundamento não esclarece tudo. Pelo contrário, em pontos decisivos João anuncia, pela duplicidade linguística, a reivindicação sobre judeus e gentios e todos os povos, e, através da concomitância da antiga linguagem da Bíblia e da língua franca moderna daquele tempo, a reivindicação para todas as épocas. No presente texto, portanto, o poder destruidor torna-se conhecido em hebraico e grego. Devem ficar alertas as igrejas de todas as línguas, lugares e épocas.

Em retrospecto, vemos que o presente trecho, conforme o v. 4, que aponta com suficiente nitidez para as correlações de Ap 7.2,3, trata da visão da grande tribulação. A tríplice comparação com os escorpiões faz lembrar de forma genérica uma revelação do satânico. O fato de os seres torturadores procederem do abismo bem como o nome do abismo no v. 11 estabelecem relação com passagens como Ap 11.7; 13.1 e 17.8, dirigindo a interpretação para o anticristo.

Nesse pormenor, porém, é preciso levar em conta que se trata expressamente de uma visão em profundidade, para desmascarar. Pois na superfície a igreja não está sendo poupada, como o v. 4 anuncia, mas justamente transformada no alvo de ataque anticristão (Ap 12,13). Segundo as aparências, o anticristo não se apresenta como destruidor, mas exatamente como quem traz a felicidade ao mundo. Abadom e Apoliom, portanto, não são nomes que porventura ele próprio se dá ou que outra pessoa lhe confere, mas que lhe são atribuídos unicamente pela palavra profética, para que a igreja não se deixe ofuscar (cf. o exposto sobre Ap 6.2). O objetivo é que a igreja reconheça a sua verdadeira origem. Ele procede do abismo da perdição. Cabe à igreja conhecer a verdadeira função dele: objetivamente ele destrói o mundo, ainda que subjetivamente esteja grassando contra a igreja. Ele provém da morte, infectado com o impulso da morte (v. 6), e conduz à morte (cf. o comentário a Ap 17.11).

Em suma, as visões das trombetas rumam em direção à manifestação anticristã. É o que confirmarão também os apêndices, sobretudo os cap. 12–14, que colocam esse tema de forma bem destacada no centro. O v. 12 conecta os flagelos seguintes com o que acabou de ser visto: O primeiro ai passou. Eis que, depois destas coisas, vêm ainda dois ais. Cf. Ap 8.13.

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Apocalipse 9:11-12