Estudo sobre Apocalipse 9:7-10

Estudo sobre Apocalipse 9:7-10

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Apocalipse 9:7-10

Também na língua alemã se diz “cavalo de feno”, porque a cabeça do gafanhoto evoca de modo impactante uma cabeça de cavalo. Como Joel em seu segundo capítulo, João vê nesses gafanhotos estarrecedoras tropas de cavalaria. O aspecto dos gafanhotos (“réplicas de gafanhotos”) era semelhante a cavalos preparados para a peleja.

Essa comparação passa a ser ilustrada no que se segue: na sua cabeça havia como que coroas parecendo de ouro. A descrição talvez seja dada em vista da elevação amarela e esverdeada do peitilho no gafanhoto, visto aqui como uma coroa de brilho dourado. Esse é o presságio da vitória, como em Ap 6.2. Ocorre que esses seres não agem com cegueira animalesca, mas dotados de razão e com superioridade: e o seu rosto era como rosto de homem; tinham também cabelos, como cabelos de mulher. Os árabes comparavam as antenas dos animais com cabelos de mulher. No entanto, acaso temos aqui somente uma comparação jocosa?

Ao que parece, em Israel o homem usava o cabelo comprido, mas em tranças. Isso se depreende de Jz 16.13. Além disso, ele era cortado regularmente, ainda que somente no comprimento da altura dos ombros (2Sm 14.26; Lv 21.5). Deixar o cabelo solto parece ter sido próprio de um juramento de guerreiro. O aspecto resultante era como de cabelo de mulher, mas não significava índole feminina, e sim, força indomada, feroz, e talvez também demoníaca.

Mais plausível, porém, é que haja uma alusão a um fato contemporâneo. Na província da Ásia era amplamente difundido o culto mais popular do helenismo, a saber, a adoração de Dionísio, voltado à sensualidade. Nesse culto, os adeptos se extasiavam loucamente, meneando o cabelo volumoso – tido em muitas religiões como portador principal da força vital. Exaustos depois da dança, retorciam o pescoço com movimentos obscenos, e giravam os cabelos soltos em círculo. Um hino descreve: “… o cabelo desatado, a dobra da túnica sobre o peito aberta até o tornozelo, os seios expostos…” Para a geração de João, esses cultos se tornavam uma tentação demoníaca (cf. Ap 2,3). Diante dessa geração, portanto, não havia forma melhor de caracterizar o demonismo do que pelo tópico “cabelos de mulher”.

Os seus dentes eram como dentes de leão. Embora esses “gafanhotos” exercessem sua atividade devastadora expressamente com o ferrão venenoso de sua cauda (v. 3,10), não através de seus instrumentos para devorar (v. 4), esses servem, apesar disso, como indício de seu poder de aniquilamento (cf. Jl 1.6).

Tinham couraças, como couraças (“armaduras”) de ferro.383 Avançam, pois, sem detença, invioláveis, destroçando todas as defesas com terrível força indomável (cf. Jl 2.7-9).

O barulho que as suas asas faziam era como o barulho de carros de muitos cavalos, quando correm à peleja. O zumbido das asas evocava para João o barulho de uma força de carros de guerra que se aproxima. Nesse instante, portanto, ele fala novamente nos parâmetros da imagem dos gafanhotos, pois os escorpiões não têm asas. O dado é outro quando, para finalizar, João menciona mais uma vez a função deles: tinham (“têm”) ainda cauda, como escorpiões, e ferrão; na cauda tinham (“têm”) poder para causar dano aos homens, por cinco meses. A forma “têm”, no presente, e singularmente a repetição dessa ideia (cf. v. 3) significam um destaque.

Este é o traço decisivo para João. Foi isto que lhe caiu na vista durante a visão: a ferroada traiçoeira e venenosa dos seres do abismo, significando seu aspecto de serpente e satânico.

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Apocalipse 9:7-10