Livro de Rute

Livro de Rute
O livro de Rute é o oitavo na ordem bíblica. O livro conta a história de Rute, acontecida no tempo dos Juízes. Este livro conta as bênçãos que uma gentia recebeu quando passou a pertencer ao povo de Israel, mostrando sua fidelidade ao Deus do seu povo adotivo.



Título

O título deste livro é derivado do nome de sua personagem principal, Rute, uma mulher moabita. Ela é a bisavó do rei Davi, mas é pura conjectura a questão de ela ter sido realmente uma filha de Eglom, rei de Moabe, como diz a tradição judaica.

Autor e Data

O texto de Rute não contém nenhuma pista sobre sua autoria. De acordo com a tradição Talmúdica, Samuel foi o autor não apenas dos livros que levam seu nome, mas também de Juízes e Rute. Isso provavelmente influenciou a colocação de Rute após os juízes na LXX.

Várias datas foram propostas para o livro de Rute. A tradição talmúdica postula uma data antecipada (ou seja, no início da monarquia), e alguns estudiosos modernos concordaram. Alguns estudiosos têm procurado diferenciar entre a história, atribuída uma data antecipada, e sua forma atual, dada uma data posterior. Alguns críticos têm afirmado que este livro foi escrito na época dos últimos reis de Israel ou até mesmo depois da volta dos judeus da Babilônia. Eles dizem que (a) os termos lahan e mara são aramaicos e apontam para um período posterior de composição. Mas essa afirmação não é convincente, pois o hebraico (assim como o ugarítico) continha aramaísmos desde o início. É fato que (b) Davi é mencionado pelo nome (4.22), mas isso não pode ser considerado prova cabal de que o livro tenha sido escrito várias gerações depois, quando este nome se tomou o título de uma dinastia. Se foi realmente assim, devemos perguntar por que o nome de Salomão não foi citado também. E inegável que (c) o estranho costume de tirar os sapatos para renunciar a um pedido (4.7) não era mais praticado quando este livro foi escrito. Nem mesmo isto é evidência conclusiva para uma data posterior.

Os críticos argumentam que (d) o autor de Rute estava familiarizado com Deuteronômio e o livro de Juízes, possuidor de um caráter deuteronômico. Mas se for aceita a visão tradicional da origem e das datas desses dois livros, nada seria mais natural do que o fato de o autor de Rute estar familiarizado com seu conteúdo. Finalmente, (e) os críticos apontam para um número de palavras em Rute que, segundo eles, estavam ausentes do vocabulário hebraico do período de Davi. Mas este argumento deve ser rejeitado porque os poucos trechos da literatura hebraica que restaram deste período são escassos para justificar uma inferência tão ampla. Os eventos narrados em Rute aconteceram duas gerações 4 antes de Davi nascer. Desconhecemos quanto tempo depois o Espírito Santo inspirou o autor a registrá-los. Contudo, uma vez que Davi é citado de maneira específica, parece seguro presumir que o livro não foi escrito antes de seu nascimento. Além disso, existem expressões em Rute que podem conectá-lo com o período geral da monarquia davídica, como, por exemplo, (a) “Assim me faça Deus e outro tanto” 5, (b) “toda a cidade se comoveu” 6 e (c) “caiu-lhe em sorte”.

O excelente estilo clássico, o uso de formas verbais arcaicas e afinidades com as histórias do Pentateuco são apropriados para o período inicial. Tem sido argumentado, no entanto, que a forma atual do livro com suas convenções sociais, “aramamos” e espírito de tolerância e universalismo deve ser designada com uma data tardia (isto é, pós-exílica). Apesar desses argumentos, o consenso acadêmico mudou de favorecer uma data durante ou após o Exílio (tão tarde quanto 400 a.C.) para favorecer uma no período da Monarquia (décimo oitavo século). A partir disso, a data mais provável de composição do livro de Rute foi o reinado de Davi.

Estudo: Rute 1 Rute 2 Rute 3 Rute 4

Lugar no Cânon

Na Bíblia hebraica, Rute está na terceira divisão do cânon, os Escritos. Embora o Talmude coloque Rute primeiro nesta divisão (antes dos Salmos), o MT coloca-o entre os cinco rolos (Hebr. megúillôṯ), ou seja, com o Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações e Ester. Cada um dos cinco pergaminhos é atribuído para ser lido em um festival particular, com Ruth prescrito para a Festa das Semanas ou Pentecostes, um festival bíblico que celebra originalmente o fim da colheita de grãos.

Na LXX, no entanto, Rute segue o livro dos Juízes, provavelmente porque ambos os livros lidam com o período da Confederação, após Israel tomar a terra de Canaã e antes do início da monarquia israelita. Josefo, na verdade, considera Rute um apêndice a Juízes (Ap. I.40 [8]). As versões em português seguem a LXX, colocando Rute imediatamente após os Juízes.

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Conteúdo

A história de Rute é uma história de amor e devoção que transcende todos os limites, limitada por interesse próprio ou por preconceito nacional. Também é especificamente a história de uma mulher. Com talento inigualável, a contadora de histórias apresenta Naomi e sua nora, Rute, enquanto lutam pela sobrevivência em uma cultura patriarcal.

A história começa em Moabe, onde uma família judia de Belém se refugiou da fome que assola sua terra natal. Elimeleque, marido de Naomi, morre na terra estrangeira. Os dois filhos de Elimeleque e Noemi, Malom e Quilion, tomam duas mulheres moabitas, Rute e Orpa, como esposas. Com o decorrer do tempo, ambos os filhos morrem, deixando suas esposas como viúvas sem filhos, como sua mãe (Rute 1:1–5). Naomi decide retornar a Belém, mas tenta persuadir as noras a permanecerem em Moabe. Orfa se rende ao pedido de Noemi, mas Rute insiste em deixar sua terra natal, Moabe, e ir a Judá com Noemi, declarando sua total devoção à sogra (vv. 6–18). A decisão é radical e, do ponto de vista cultural, não faz sentido.

Chegando em Belém no início da colheita de grãos, Rute aproveita o privilégio de recolher o costume dado aos pobres (cf. Lv 19:9-10). Como o contador de histórias diz, Rute “passou a vir” para o campo de Boaz, um parente de Elimeleque (Rute 2: 3). Boaz trata Rute com gentileza e, no final da colheita, Noemi manda Rute pedir a Boaz que cumpra o dever dos parentes mais próximos, ou seja, produzir um filhote masculino para a linhagem de Elimeleque. Depois que um parente mais próximo renuncia a seu direito de comprar a propriedade da família e fornecer um herdeiro para o falecido, Boaz consente em aceitar Rute como sua esposa (2: 5-4:12).

O filho que nasceu de Rute é mencionado como filho de Noemi, pois a continuação de seu nome e de sua família está agora assegurada (4:13-17). A celebração que acompanha o nascimento da criança representa mais do que simplesmente a alegria que surge do nascimento de uma criança do sexo masculino, pois as mulheres de Belém exaltam Rute, uma mulher estrangeira que abandonou tudo para seguir Noemi, como alguém que significa mais para Naomi do que sete filhos” (v. 15). Noemi, a mulher do vazio, tornou-se uma mulher de abundância (cf. 1:19-21), e Rute, a nora fiel além da morte, é aquela que medeia essa transformação. A criança, Obed (1), através de seu filho Jesse, vem a ser o avô de Davi.

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Características Literárias

O livro de Rute foi geralmente considerado como um exemplo perfeito do conto hebraico. Complexo e elaborado em estrutura, a história é trabalhada de uma forma bonita, altamente artística. As quatro cenas (correspondentes aos quatro capítulos) formam um padrão circular no qual o terceiro e o quarto retornam às preocupações do segundo e do primeiro, respectivamente, com variações desse design tecidas ao longo de cada cena. O significado é aqui inseparável da forma, e o todo é uma obra de arte. A notável arte literária do contador de histórias é evidenciada através do uso de quiasma, repetidas palavras-chave e motivos, construção de anéis ou inclusão (como o equilíbrio da história da família em 1:1-5 com a genealogia em 4:18-22), analogias, alusões e outros dispositivos literários. Entre as analogias mais óbvias estão aquelas entre Rute e Abraão (2:11-12; cf. Gênesis 12:1-9) e Rute e Tamar (Rute 4:12, 18; cf. Gn 38). É digno de nota que Rute e Tamar são duas das quatro mulheres mencionadas na genealogia de Jesus de Mateus (Mt 1:3, 5).

Significado: Rute 1 Rute 2 Rute 3 Rute 4

Historicidade

O livro não é nem mito nem lenda. É claramente uma narrativa histórica. Os incidentes relatados aqui ocorreram num período de tempo específico, a saber, “nos dias em que os juízes julgavam” (1.1). A linguagem é simples e franca, jamais apologética. Cada referência aos costumes daquele período é precisa e factual. Durante aqueles primeiros dias havia paz entre Israel e Moabe (1 Sm 22.3,4)8 e aparentemente não era proibido o casamento misto entre os descendentes de Abraão e os de Ló (Gn 19.38). Pode ser que Deuteronômio 23.3 se aplique apenas a moabitas e amonitas do sexo masculino. Além disso, parece pouco provável que um escritor de ficção tivesse “inventado” uma ancestral de Davi que fosse de origem moabita. Seria mais lógico preencher este espaço usando uma israelita em vez de uma estrangeira, especialmente se o autor tivesse vivido depois do exílio (Ed 9.2; 10.3). Também é significativo o fato de Mateus incluir o nome de Rute na genealogia de Jesus Cristo (Mt 1.5) e que a lista inspirada de Lucas siga a mesma linha (Lc 3.32). Portanto, este autor conclui que Rute é uma pessoa histórica e o registro de sua vida apresentado aqui é um relato preciso.

Propósito

Muitas sugestões foram feitas quanto ao propósito do livro de Rute, e a questão da data tem sido frequentemente relacionada a essa questão. As sugestões mais comuns são de que o livro foi escrito para apresentar a origem do grande rei Davi; para combater o exclusivismo estreito de Esdras e Neemias, especialmente a proibição de casamentos mistos; pleitear a extensão da prática do casamento levirato como um esforço humanitário em favor das viúvas sem filhos; apresentar Ruth como modelo prosélito; enfatizar o universalismo e a tolerância que vão além das barreiras nacionais; exaltar a bondade humana e a amizade que excedam qualquer exigência razoável de dever; ou simplesmente escrever uma história bonita e bem trabalhada. Dado o número e a variedade de sugestões, é melhor ser cauteloso ao buscar um propósito único e abrangente.

Interpretação: Rute 1 Rute 2 Rute 3 Rute 4

Esboço

I. A TRAGÉDIA ATINGE UMA FAMÍLIA HEBRÉIA, 1.1-22
A. Um Viúva Solitária, 1.1-5
B. Uma Decisão Difícil, 1.6-14
C. A Devoção de Rute, 1.15-18
D. Duas Estranhas em Belém, 1.19-22
II. Rute vai apanhar espigas junto aos segadores , 2.1-23
A. Rute Encontra Boaz, 2.1-7
B. Boaz Conversa com Rute, 2.8-13
C. Rute Come com Boaz, 2.14-16
D. Um Parente de Sangue, 2.17-23
III. O estranho pedido de Rute, 3.1-18
A. Noemi Aconselha Rute, 3.1-5
B. Boaz Faz um Voto, 3.6-13
C. Rute Volta a Noemi com um Presente, 3.14-18
IV. Boaz redime a herança de Elimeleque , 4.1-22
A. Um Remidor Muda de Ideia, 4.1-6
B. Um Casamento em Belém, 4.7-12
C. O Nascimento de Obede, 4.13-17
D. A Genealogia do Rei Davi, 4.18-22

Bibliografia
E. F Campbell, Ruth. AB 7 (1975); J. Gray, Joshua, Judges, Ruth, rev. ed. NCBC (1986); J. M. Sasson, Ruth: A New Translation with a philological Commentary and a Formalist-Folklorist Interpretation (Baltimore: 1979); P Trible, God and the Rhetoric of Sexuality. OBT (1978), pp. 166–199.