Estudo sobre 1 Coríntios 12:1-2

1 Coríntios 12:1-2

Como em 1Co 7.1 e 8.1, Paulo também agora trata de uma interrogação dos coríntios. Sua resposta se revela muito minuciosa, preenchendo os capítulos 12-14, um sinal de que Paulo considera que este é um ponto essencial das mazelas da vida eclesial em Corinto. Também aqui se trata (como já no começo da carta) de discórdias e divisões, de “ciúmes e contendas”, que eclodiam precisamente na riqueza e multiformidade dos efeitos do Espírito. Por essa razão a preocupação de Paulo em todo o capítulo 12 é demonstrar poderosamente aos coríntios a unidade da fonte de toda a riquezas de “dons” e a unidade da igreja como um corpo com os muitos membros. O detalhe é que o primeiro enfoque do capítulo “A respeito dos efeitos do Espírito” [tradução do autor] indica que Paulo não precisa tratar apenas dos “carismas, os dons do Espírito”, mas que foi questionado de maneira mais abrangente a respeito de toda a atuação do Espírito.270 Também nessa questão seu interesse é que a igreja se torne sabedora e entendedora, que seja capaz de aquilatar ela mesma todos os fenômenos nessa área da vida espiritual. “Acerca dos efeitos do Espírito (ou: dos dotados do Espírito) não quero, irmãos, que sejais ignorantes.” Por isso Paulo inicia com uma afirmação fundamental que mostra aos coríntios a característica essencial da atuação do Espírito propriamente dita. Nem o mundo gentio nem o judaísmo possuem o Espírito Santo. Unicamente na igreja de Jesus, onde Jesus é confessado como o kyrios, o Espírito está atuando.


A frase sobre os gentios é linguisticamente complicada e de difícil tradução. Não podemos abordar aqui os detalhes dessa dificuldade. A tradução forçosamente conserta um pouco a frase. “Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados.” Os coríntios conhecem a religião gentia de seu próprio passado. Sabem que naquele tempo possuíam apenas “ídolos mudos”. Embora não houvesse ali nenhuma palavra viva, nenhuma certeza interior que preenchesse e animasse todo o coração, ainda assim participavam ativamente do culto. Por que? De um ou outro modo deixavam-se “conduzir” e “guiar”. Toda a religião gentia constitui uma parcela ineludível da vida e do firme costume do povo.271 Nada se podia notar nela do Espírito de Deus que atua pela palavra e produz convicção própria. Seguiam irrefletidamente o costume vigente.


Notas:
270 Entendemos o termo inicial como uma palavra na forma neutra, como “efeitos do Espírito”. Também poderia se tratar de uma forma masculina, designando assim os “dotados do Espírito”, os “pneumáticos” ou “carismáticos”. No entanto, é plausível que aqui em 1Co 12.1 Paulo não tenha usado o termo de forma diferente de 1Co 14.1, onde consta nitidamente o neutro.

271 Outros constatam na frase de Paulo uma recordação do “êxtase”, o qual de fato existia em diversos cultos, traduzindo por isto como: “Fostes arrastados para os ídolos, como vos deixáveis impelir.” Mas é bastante improvável que as pessoas simples, que formavam a parte mais expressiva da igreja (1Co 1.26ss), tenham pertencido a esses cultos extáticos. Ademais, o centro dos cultos de mistério justamente não era o “ídolo” mudo. Ele existia apenas na religião oficial. Cf. nota 231.