Estudo sobre 1 Coríntios 12:14-18

1 Coríntios 12:14-18

Em seguida Paulo se volta para o outro lado da realidade que se torna explícita no único “corpo”. “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.” O corpo vive somente pela multiplicidade de seus membros e de toda a pluralidade de suas funções. Portanto, a unidade do corpo de Cristo de forma alguma significa uniformização! Em vista disso Paulo também não fez nenhuma tentativa de adaptar entre si as condições de Roma e de Corinto em relação aos dons da graça, mas deixou cada igreja ficar com o que Deus lhe dava (cf. acima, p. 189s). É precisamente por isso que todas as igrejas, às quais ele escreveu, se mostram a nós com sua plena e livre peculiaridade. E por isso Paulo – apesar de se reportar ocasionalmente a “costumes” coincidentes, 1Co 11.16 – não fez nada para unificar na mesma organização “igreja” as comunidades eclesiais fundadas por ele, concedendo-lhes uma direção unificada. Obviamente, porém, a unidade do corpo apenas pode ser mantida quando a multiplicidade de seus membros está bem ordenada. A capacidade vital do corpo reside no convívio dos membros com todas as suas diferenças.

Inicialmente Paulo vê esse bom convívio sendo ameaçado por “complexos de inferioridade”, abordando esse perigo nos v. 15-18. Medindo-se nas capacidades e tarefas de outro membro, um membro pode considerar-se pequeno e insignificante, como se nem sequer pertencesse bem ao corpo. “Se o pé dissesse: Porque não sou mão, não pertenço ao corpo, nem por isso deixa de ser do corpo. E se o ouvido dissesse: Porque não sou olho, não pertenço ao corpo, nem por isso deixa de ser do corpo” [tradução do autor]. Essas frases também podem ser entendidas como pergunta: “Não pertence, apesar disso, ao corpo?” No texto grego ocorre uma dupla negação, que é difícil de traduzir. Teríamos de dizer algo como: “Ele por isso não é não pertencente ao corpo”.292 Está claro o que Paulo pretende dizer diante da situação de Corinto. O que era ali uma pessoa que tinha “apenas” uma “palavra de conhecimento”, quando havia o admirado falar em línguas ou o irmão com visões proféticas? Será que de fato era um membro autêntico do corpo de Cristo?


Contudo o olhar objetivo para um “corpo” o enxerga de maneira muito distinta. O pé certamente não é mão, e o ouvido não é olho; mas o pé e o ouvido são tão imprescindíveis para a vida do corpo quanto a mão e o olho. “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato?” Acima do corpo, porém, torna-se visível Deus: “Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve.” Será que diante dessa vontade de Deus ainda pode haver sentimentos de inferioridade e desânimo? Também o pequeno dom e o serviço pouco aparente se originam de Deus. Não temos de olhar para outros, a nosso ver mais ricamente dotados e que realizam algo muito maior. Muito menos empreender a tentativa vã de imitar os outros.293 Com gratidão podemos ser aquilo que somos, servindo assim com nosso empenho ao todo.


Notas:
292 Como traduz Bachmann em seu comentário à primeira carta aos Coríntios, 3ª ed., 19213, p. 384.

293 Sempre está clara a linha divisória entre um aprender autêntico dos outros e uma falsa imitação, porque é o limite entre objetividade e egocentrismo.