Estudo sobre 1 Coríntios 12:19-25

1 Coríntios 12:19-25

“Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.”

Os sentimentos de inferioridade são despertados e aprofundados por meio de falsos sentimentos de superioridade de outros. Um membro também pode considerar-se o único importante. O corpo na verdade precisava ser constituído apenas deste membro importante e de outros iguais a ele. Quando há apenas os que falam em línguas ou quando apenas os mestres da igreja transmitem sua elevada sabedoria, a igreja possui tudo de que precisa para sua vida espiritual. Talvez vários grupos na igreja de Corinto pensem assim. Paulo se dirige contra essa supervalorização de si próprio. Novamente está em jogo a verdadeira unidade, arriscada pela autoprojeção dos “grandes”. “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós.”

Cada membro, no entanto, até mesmo o mais delicado e importante, pode e deve reconhecer que necessita absolutamente de todos os demais membros – o olho precisa da mão, a cabeça dos pés. Sim, é preciso afirmar ainda mais: “Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários”.294 E no cuidado com nossos membros expressamos pessoalmente essa valorização de cada um dos membros: “E os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso.” Paulo deve estar pensando nos membros aos quais concedemos “especial honra” ao vesti-los e encobri-los. Nitidamente alude aos órgãos de nossa sexualidade. Eles permanecem completamente ocultos, porém que função elevada e imprescindível para a continuidade da humanidade eles receberam! Por consequência, também no corpo de Cristo, na igreja, não importa a visibilidade, a categoria de destaque que possuímos. A senhora idosa e humilde que secretamente for uma pessoa de oração com autoridade pode ser mais importante do que uma pessoa com atuação pública largamente conhecida.295


O olhar eleva-se outra vez até Deus. “Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.” Uma “divisão”: era exatamente isso que se descortinava no começo da carta (1Co 1.10) como preocupação para o apóstolo e que em 1Co 11.18s já se mostrara como realidade ameaçadora. Os coríntios a haviam tolerado com tranquilidade e, ao ouvir a carta, talvez também considerassem a preocupação de seu apóstolo exagerada. Será que sua rica e ativa vida eclesial, com os dons do Espírito, de fato estava ameaçada por tais discórdias? No entanto, com auxílio da ilustração do corpo, o problema forçosamente torna-se claro para eles. “Divisão” num corpo – cada um sabe que isso significa grave deformação e talvez a morte. Como, porém, ela pode ser evitada? Unicamente quando como igreja seguimos os modos de agir de Deus, que “concedeu muito mais honra ao membro que menos tinha”; somente quando desse modo “os membros cooperam com igual cuidado, em favor uns dos outros”. Era isso que faltava em Corinto, onde os fortes ostentavam sua “liberdade” inescrupulosamente, e os especialmente dotados viviam para sua própria grandeza. Nesse ponto a igreja precisa arrepender-se, voltando para o “amor” que edifica.


Notas:
294 Podemos pensar, p. ex., nas minúsculas glândulas que, como “ilhotas” na glândula pancreática, regulam o equilíbrio do açúcar no organismo. Por mais insignificantes que aparentem ser, sua ausência levaria à morte, enquanto sem olho, mão e pé ainda se pode viver.

295 A biografia do evangelista Moody (Oncken-Verlag, 1900) nos relata que duas mulheres, que em suas reuniões em geral sentavam na primeira fila e oravam, pediam para ele o poder do Espírito Santo, despertando por meio de sua oração o poderoso anseio por força espiritual, e que ele então foi preenchido por essa força (p. 57s).