Estudo sobre Apocalipse 12:10

Estudo sobre Apocalipse 12:10


Nos v. 10-12 ressoa, como tantas vezes após uma visão, uma voz interpretadora. Por falar de “nossos irmãos” essa voz foi interpretada como sendo a voz dos mártires de Ap 6.11. Mas também é possível que anjos falem assim, uma vez que conforme Ap 19.10; 22.9 eles se chamam de “conservos” dos fiéis. Acima de tudo, porém, o conteúdo da interpretação leva a pensar mais no serviço de um anjo. Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo (“do seu Ungido”). Essa palavra converge, em grande extensão, com a proclamação que em Ap 11.15 ressoa somente no fim dos tempos. Ela é até um pouco mais detalhada, ao acrescentar a “salvação” ao conceito do reino e falar expressamente da “autoridade” do Ungido. Entretanto, como é que isso já pode ser proclamado agora, a saber, logo depois da exaltação do Cristo e da queda de Satanás? Essa queda de Satanás, afinal, ainda não é a precipitação no abismo, narrada em Ap 20.3, mas apenas na terra, onde ele está grassando com grande fúria (v. 12)! Porém, essa mensagem da salvação já consumada faz parte dos fundamentos do evangelho. O cap. 5 também está cheio dessa melodia, embora ali não se esteja olhando para o reverso da exaltação de Cristo, a saber, para a queda do acusador, o qual agora ocupa o centro do relato. Naquele trecho tratava-se da exposição, em formato grande, do vencedor, enquanto aqui se trata da ampliação da figura do Satanás derrotado. No excurso 8d abordamos como essa soberania de Deus e de Cristo, conquistada no meio da história, se relaciona com a consumação no fim dos tempos.

A frase seguinte fundamenta expressamente a vitória de Deus com o juízo sobre o acusador. Pois foi expulso (“lançado”) o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Embora a igreja ainda tenha de lidar com o sedutor e destruidor, encontrando-se até mesmo numa experiência intensificada de luta e sofrimento (v. 12), ela está liberta de um peso imenso e se situa no meio de uma grande tomada de fôlego: seu acusador foi deposto! Com isso o campo de forças transcendental, no qual a vida cristã está inserida, transformou-se de forma maravilhosa.


É importante para a compreensão correta do presente texto perceber o particípio existente, que soa como segue, numa reconstrução deselegante: “deposto foi o acusador, o que os está acusando perante Deus de dia e de noite”. Ele tinha e ainda tem qualificação para acusá-los. Conforme sua natureza, ele busca isso incessantemente. O fato de não ser mais admitido perante Deus como acusador não o impede de solicitar admissão dia e noite. Lançado ao olho da rua, ele rumoreja do lado de fora da porta. Ele não seria Satanás se alguma vez desse sossego, se não demandasse tenaz e incansavelmente a reabertura do processo. Sua intenção permanente continua sendo enfiar uma cunha entre Deus e os filhos de Deus, contudo não tem mais possibilidade de fazê-lo. Lutero acrescentou corretamente ao traduzir Rm 8.33-35: “Quem quer inculpar os eleitos de Deus… quem quer condená-los… quem quer nos separar do amor de Deus?” De fato Satanás está permanentemente pronto para dar o bote e quer agir, mas não pode. “Nada pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (v. 39). A tribulação permanece aguda, “porém nós superamos em muito por meio daquele que nos amou” (v. 37). Diante de Deus nada mais se interpõe entre Ele e os redimidos. O céu tornou-se para eles amor puro, o trono de Deus tornou-se trono da graça. No céu não acontece nada além da vontade de Deus em Jesus Cristo, nem mesmo uma mínima parte da vontade de Satanás.

A formulação de dia e de noite ilustra a ação sem trégua e a tenacidade de Satanás. Contudo a intercessão ininterrupta de Jesus apresentou-se diante de Deus em seu lugar. “Jesus vive para sempre a fim de pedir a Deus em favor deles” (Hb 7.25 [BLH]).