Estudo sobre Apocalipse 12:12-13

Estudo sobre Apocalipse 12:12-13



O v. 12 já faz a transição para a seção seguinte: Por isso, festejai, ó céus, e vós, os que neles habitais (“acampais”). Novamente depreende-se que um grupo de pessoas está sendo endereçado, e por meio da interpelação “céus”575 somos informados não sobre seu local de estadia, mas sobre sua natureza (quanto à adjetivação de pessoas por meio de indicações de lugar, cf. o comentário a Ap 11.1.). A referência “céu” contrapõe-se no Ap à expressão “terra”, como também na continuação do presente trecho. Regularmente faz parte do céu o “acampar”,576 como faz parte da terra o “morar”. Também a fala dos “moradores da terra”, ou “sobre a terra”, continha sempre uma caracterização da essência e da mentalidade dessas pessoas (cf. o comentário a Ap 3.10).

Enquanto as pessoas de Deus são chamadas para um santa alegria, ressoa um ai para os de mentalidade terrena. Ai da terra e do mar, pois o diabo (“diábolos”) desceu até vós. Também interiormente ele chega como quem desce, como um vencido e que afunda mais e mais. Contudo, somente a igreja, que recebeu um olhar espiritual por meio da profecia, sabe algo a respeito dele, pois o dragão expõe uma imagem oposta: cheio de grande cólera. Assim como um animal feroz alvejado por um tiro na perseguição, ele agora é duplamente perigoso. Dentro do espaço que lhe resta intensifica-se sua força de ação e aumenta a sua pressão. Contudo, todo o seu poder não tem futuro. Ele sabe que pouco tempo lhe resta. Seu prazo esgotou-se, na verdade, em Ap 20.2. Seu poder, portanto, não somente está geograficamente restrito à terra, mas também cronologicamente limitado ao fim dos tempos. Essa finitude de seu tempo é para ele um pesadelo e motivo de uma raiva impotente, ao passo que para a igreja constitui consolo e força (Ap 6.11).

Ele próprio sabe. Contudo não quer que os humanos o saibam. Devem acreditar que as condições atuais persistirão, conformando-se com o presente. Não devem alçar o olhar por sobre a grande nuvem de poeira que ele agita na terra, até Deus no céu, onde já está tudo resolvido.

Quando, pois, o dragão se viu atirado (“lançado”) para a terra. A besta precipitada e obviamente consternada olha estonteada em torno de si e se reorienta. Perdeu a batalha principal, a saber, contra Deus e seu Messias. “Que Jesus venceu é fato acertado para sempre”. Contudo, existe ainda aquela igreja da qual o Messias disse: “minha igreja” (Mt 16.18). A ira de Satanás se lança de modo certeiro sobre essa comunidade messiânica, sobre o Messias nessa comunidade.577 E ele perseguiu a mulher, como Faraó perseguiu o povo de Israel.578 O adendo que dera à luz o filho varão (“que dera à luz o masculino” [nota 540]) faz recordar a ligação da “mulher” com o Messias, a única razão pela qual o dragão a persegue. Essa relação na verdade não foi encerrada com o parto no v. 5. Porque a exaltação do Messias não representou apenas a justificação dele próprio, mas também a justificação da igreja messiânica: “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro!” exclamou-se no v. 11. Satanás detecta que a igreja está inserida na história da vitória messiânica, dirigindo-lhe por isso uma fúria inextinguível.579



Notas:
575. Essa é a única passagem do Ap em que “céus” aparece no plural. Apesar disso não ocorre a ideia de vários céus (nota 246). Pelo contrário, temos diante de nós simplesmente um eco da palavra hebraica para “céu”, que faz parte dos poucos vocábulos usados somente no plural, ainda que com significado no singular (pluralia tantum; como no nosso idioma, p. ex., “férias”). O plural obviamente tem uma importância poética, cf. Is 44.23; 49.13.

576. Cf. em Ap 7.15; 12.12; 13.6 e 21.3. Esse “acampar”, portanto, não tem mais a conotação da vida nômade, transitória, ao qual ainda tenha de suceder a residência permanente. No Ap “morar” é o habitar vinculado à terra, “acampar”, no entanto, a vida em comunhão sagrada com Deus. A palavra grega para acampar evoca o tabernáculo (skéné)! Aparece também em Jo 1.14.

577. Segundo o v. 12 a ira do dragão se volta primordialmente contra a terra, i. é, contra a humanidade como tal. Ele odeia a criação e a vida, sobretudo, porém, o príncipe da vida e a igreja que possui o testemunho deste (v. 17).

578. O vocábulo diõkein, que no mais é totalmente estranho aos escritos joaninos (somente aparece ainda em Jo 15.20), igualmente aponta intensamente para o Êx. P. ex., Êx 14.4,8,23; 15.9; muitas referências também em Dt.

540. Ao contrário do v. 13, usa-se aqui para “masculino”, “varão” a forma neutra (ársen), o que gramaticalmente não combina com “filho”. Uma vez que a lxx traz literalmente em Êx 2.2 éteken ársen, poderíamos supor novamente um paralelo intencional com a história de Moisés. Contudo, também Is 66.7 traz esse termo.

579 Sua participação na história da vitória messiânica poderia também ser vista no fato de que ela tem “semente” (v. 17 [rc]), ou seja, que ela se dissemina entre todos os povos, línguas, nações e tribos (Ap 5.9; 7.9). Por trás dessas conversões em numerosos lugares aparece o poder do Messias: “Edificarei a minha igreja!” Por isso, no v. 17, a investida do dragão contra essa igreja de dimensões mundiais.