Estudo sobre Apocalipse 12:11

Estudo sobre Apocalipse 12:11


Da vitória do Messias (v. 5) resulta, assim, a vitória da igreja (v. 11). Eles, pois, o venceram. Porventura não poderíamos esperar que agora fosse mencionado Miguel como vencedor? Chama a atenção que ele e seus anjos desapareceram imediatamente do campo de visão. Em contraposição, diz-se com grande ênfase que os “irmãos” acusados venceram. Essa forma de falar como uma certeza é conhecida também nos profetas do at. Embora algo ainda esteja para acontecer e esteja continuamente diante das portas, já é certo que se pode falar disso como de algo realizado. Na verdade, essa vitória ainda atravessará todo o tempo até a chegada de Jesus com poder e glória. Continuamente Satanás é Satanás e tenta condenar, mas os cristãos sempre serão vitoriosos.

Por meio do que eles vencem? De Miguel? Miguel não é aqui, como mais tarde na Idade Média, o grande padroeiro protetor do cristianismo. Eles vencem por causa do sangue do Cordeiro. Sua vitória não é realização própria. Eles mesmos nem sequer se envolveram com Satanás. O Cordeiro é quem falou em favor deles através de seu sangue (cf. o exposto sobre Ap 1.5; 5.9; 7.14) e lançou por terra todas as acusações. Agora foram justificados e nesse sentido eles próprios de fato venceram, mas não a partir de si mesmos.

A segunda justificativa e por causa da palavra do testemunho (quanto à formulação, cf. o comentário a Ap 1.2) não coloca uma realização própria ao lado da graça. É óbvio que dar testemunho poderia ser incluído no pensamento meritório: a coroa da vitória torna-se um prêmio para a confissão corajosa. O ser humano natural está tão corrompido e tão obcecado por salvar-se a si mesmo que ele continuamente tenta garantir o seu lado. No texto, no entanto, não se encontra nenhum vestígio de uma teologia do mérito. Não é por seu falar, mas pelo conteúdo dessa fala que eles vencem. O conteúdo, porém, é Deus e o Cordeiro. O mistério do testemunho vitorioso é o conteúdo testemunhado, que coloca a testemunha em segundo plano, ou seja, trata-se novamente do sangue do Cordeiro. Consequentemente, o segundo motivo de forma alguma restringe a graça do primeiro motivo, mas deve ser encontrado exatamente no prolongamento dela. Na realidade, o primeiro e único motivo da vitória sobre o acusador é o Cordeiro. Essa vitória agora é formulada em palavras por cada cristão e em determinados momentos. É isso. Não é o conhecimento do Cordeiro, nem a crença intelectual no Cordeiro, nem o louvor interno do Cordeiro que significa vitória, mas somente a palavra do testemunho diante de ouvidos estranhos. Não é a igreja crente e devota que vence, mas sim a comunidade de testemunhas. Ela expõe sua fé às intempéries, entrega-a confiantemente às circunstâncias, ergue-a para a luz, sobre os telhados e entre as pessoas. É esse ser atingido espiritualmente, no sentido do NT, pelo Cordeiro sacrificado, que torna as testemunhas “ovelhas para o matadouro” – como se pode deduzir de Rm 8.36 e da continuação desse versículo – mas também vencedores.

Em tempos difíceis a igreja passa por uma grande tentação. Ao invés de vencer através de seu testemunho, ela poderia tentar o caminho alternativo: hibernar – suspender seu testemunho. Em linguagem figurada, ela se esconde em sua toca, enrola-se e vive de seus estoques, até que voltem a raiar tempos melhores. Depois ela tenciona tornar a aparecer e aceitar as congratulações por estar novamente presente. O Ap, no entanto, afirma em toda a sua extensão: permanece não a igreja que hiberna, mas a igreja que testemunha. Ninguém jamais subirá dos alojamentos cristãos de inverno.


A frase final confirma o que expusemos. Mesmo em face da morte, não amaram a própria vida. Se não amaram a própria vida, que foi que amaram então? Talvez sua morte? Bousset encontra no Ap uma “alegria quase selvagem no martírio”. Isto é uma interpretação de tendência romântica. Eles amam a Jesus acima de tudo. O Ap é extremamente reticente ao falar de amor. Em contrapartida, as poucas passagens a esse respeito são impactantes, e sobretudo também a presente, pela referência indireta. Ela deixa claro que de maneira alguma está em jogo um amor próprio fútil e refinado. As testemunhas são totalmente amor estendido até Jesus, e isto para sempre, até a morte.

Será que, de acordo com o presente texto, são vitoriosos somente aqueles cristãos que, além de seu testemunho, dão também seu sangue? Acaso é necessário, portanto, que ao sangue do Cordeiro também seja acrescentado o sangue do martírio? De modo algum o grande dragão vermelho teme sangue de mártires, mas lambe-o avidamente (cf. Ap 17.6). Enxurradas de sangue humano não o atormentam (Sl 79.3), somente o sangue do Cordeiro o derrota. Evidentemente o sangue dos mártires constitui um indício marcante para o Cordeiro, que é digno de amor extremo. Contudo, o sangue do Cordeiro também está presente sem essa ilustração, e é isto que importa.