Significado de João 11
João 11
João 11 conta a história da ressurreição de Lázaro dentre os mortos. Este capítulo é significativo porque é um dos exemplos mais proeminentes e poderosos dos poderes milagrosos de Jesus. Também serve para enfatizar sua divindade e a importância da fé nele.
O capítulo começa com a notícia de que Lázaro, irmão de Maria e Marta, está gravemente doente. Maria e Marta enviam uma mensagem a Jesus, esperando que ele venha curar seu irmão. No entanto, Jesus atrasa sua chegada e, quando chega, Lázaro já morreu e está sepultado há quatro dias.
Quando Jesus chega, ele é recebido com profunda tristeza por Maria, Marta e seus amigos. No entanto, ele garante a eles que Lázaro ressuscitará e então realiza um de seus milagres mais notáveis, ressuscitando Lázaro dos mortos. Esse ato de ressurreição serve como uma poderosa ilustração do poder divino de Jesus e de sua capacidade de vencer a própria morte.
No geral, João 11 enfatiza a importância da fé em Jesus como a fonte da vida eterna. A história da ressurreição de Lázaro serve como testemunho do poder divino de Jesus e de sua capacidade de trazer vida à morte. O capítulo também destaca a profundidade da compaixão e do amor de Jesus por seus seguidores, como se vê em sua disposição de chorar com Maria e Marta e, por fim, de dar a vida por toda a humanidade. A mensagem de João 11 continua a ressoar hoje, lembrando-nos do poder da fé em Jesus e sua capacidade de trazer esperança e nova vida até mesmo nas circunstâncias mais sombrias.
I. Hebraísmos e o Texto Grego
A leitura de João 11 revela como um grego fluentíssimo é atravessado por sintaxe, morfologia e fraseologia marcadamente semitas. O episódio de Lázaro não é apenas uma “narrativa de milagre” em koine; é um texto cujo grego dialoga de maneira densa com o hebraico do Antigo Testamento, tanto na escolha lexical (doxa, sēmeion, anastasis, phōnē megalē) quanto em construções e fórmulas estilísticas típicas da Bíblia Hebraica (levantar os olhos, “glória de Deus”, dormir = morrer, “reunir os dispersos”). A seguir, examino esse tecido semita em João 11, indicando, para cada paralelo, onde o Antigo Testamento o ilustra.
O capítulo abre com a interpretação teológica da enfermidade: “esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus” (João 11:4). O grego doxa traduz, por detrás, o hebraico kābôd, núcleo da teofania veterotestamentária: a kābôd enche o Tabernáculo (Êxodo 40:34) e aparece na nuvem (Êxodo 16:10). João recicla esse campo semântico para dizer que o evento em Betânia é uma epifania da kābôd de Deus no Filho. As fórmulas são as mesmas: “ver a glória” é ver Deus agir no meio do povo.
No v. 47 os chefes dizem: “este homem faz muitos sēmeia (sinais)”. A própria palavra sinal ativa o arquivo do Êxodo, onde YHWH promete “multiplicar os meus sinais e maravilhas” no Egito (Êxodo 7:3). Em João 11 a semântica é idêntica: sinais públicos que provocam fé (ou endurecimento), tal qual no Êxodo. O evangelista espelha a macro-narrativa do yetsiʾat Miṣrayim para interpretar o “sinal” de Lázaro.
Quando Jesus responde “não são doze as horas do dia?” (João 11:9-10), retoma a simbologia bíblica luz/trevas. A imagem opera com a criação de Gênesis — separação de luz e trevas, nomeação de “dia” e “noite” (Gênesis 1:4-5) — e João a converte em ética da caminhada: quem anda na luz não tropeça. A fraseologia é grega, mas o par conceitual é hebraico e veterotestamentário.
Em João 11:11 Jesus diz que Lázaro “adormeceu” (kekoimētai), e vai “despertá-lo”. O hebraico bíblico usa “dormir” como eufemismo para morrer, quer na fórmula régia “dormiu com seus pais” (1 Reis 2:10), quer na esperança escatológica de Daniel (“muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão”, Daniel 12:2). João transpõe a metáfora semita para o grego, reforçando que a morte é um “sono” do qual Deus desperta.
O “Eu sou a ressurreição e a vida” (egō eimi hē anastasis kai hē zōē, João 11:25-26) ecoa duas confissões teológicas do Antigo Testamento: “Eu mato e faço viver” (Deuteronômio 32:39) e “YHWH mata e dá a vida… faz descer à Sheol e faz subir” (1 Samuel 2:6). A autodeclaração em primeira pessoa (“Eu sou…”) em João está sobre o trilho do ʾănî hûʾ de Deuteronômio, que associa identidade divina ao poder sobre vida e morte. Martha, por sua vez, confessa uma escatologia herdada de Daniel 12:2 ao falar da “ressurreição no último dia” (João 11:24).
A oração de Jesus — “levantando os olhos” — usa uma fraseologia hebraica recorrente (nāśāʾ ʿênayim, “erguer os olhos”), típica de súplica e de visão (Salmo 121:1; cf. Gênesis 13:10). O agradecimento “tu me ouviste” retoma a cadência de louvor veterotestamentária (“eu te agradeço porque me respondeste”, Salmo 118:21). A forma é grega; o gesto e a dicção, hebraicas.
João descreve o sepulcro como “uma caverna (spēlaion) e uma pedra posta contra ela” (João 11:38-39), o que alinha com o costume israelita de túmulos talhados na rocha, atestado por Isaías (“cortando para si um túmulo no alto, escavando na rocha”, Isaías 22:16). A cena é escrita em grego, mas o cenário é hebraico, e João conserva o realismo semita da prática mortuária.
Ao chamar: “Lazare, deuro exō” (João 11:43), Jesus clama “com grande voz” (phōnē megalē), expressão que espelha o hebraico qōl gadōl (“voz grande/forte”) tão comum em cenas de invocação e proclamação no Antigo Testamento. A semântica do brado performativo — voz que convoca e faz viver—está em sintonia com a retórica profética (cf. o padrão de convocação e reunião em Isaías 11:12).
O nome “Lázaro” (Lazaros) é a forma grega do hebraico ʾElʿāzār (“Deus ajudou”), atestado por estudos onomásticos; João, portanto, não apenas narra um judeu da Judeia, mas preserva no nome a teologia da ajuda divina. Essa onomástica semita, em um texto grego, é parte do efeito estilístico do evangelho.
O oráculo involuntário de Caifás (João 11:49-52) diz que Jesus morreria “não só pela nação, mas para reunir em um os filhos de Deus que andam dispersos”. Essa linguagem retoma promessas de reunião nacional e escatológica: “ele levantará um estandarte… e reunirá os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra” (Isaías 11:12); “tomarei os filhos de Israel… e farei deles uma só nação” (Ezequiel 37:21-22). João 11 lê a morte de Jesus como o cumprimento dessa reunião dos dispersos—tema semita por excelência—num grego teologicamente saturado de Isaías e Ezequiel.
A pragmática do discurso em João 11 repete a teleologia bíblica: Deus “faz” sinais para que o povo creia/conheça. Em 11:40-42 Jesus diz que falou “por causa da multidão… para que creiam”, retomando a pedagogia do Êxodo (“multiplicarei os meus sinais… para que saibam”, Êxodo 7:3-5). É a mesma lógica verbal hebraica instalada no grego joanino.
Do emprego de doxa (por kābôd) à categoria de sēmeion (por ʾôt), do eufemismo “dormir” (morte) à confissão egō eimi que ecoa o ʾănî hûʾ de Deuteronômio, João 11 revela a marca semita dos autores bíblicos: escrevem em grego, mas pensam (e oram) em hebraico. A narrativa integra hábitos, fórmulas e imagens do Antigo Testamento—luz/trevas de Gênesis; túmulo talhado e pedra de Isaías; reunião dos dispersos de Isaías e Ezequiel; louvor que “ergue os olhos” e agradece a resposta de Deus dos Salmos—para configurar, no episódio de Lázaro, uma epifania da kābôd do Deus que “mata e faz viver” (Deuteronômio 32:39; 1 Samuel 2:6) e que, por meio do Filho, convoca os mortos à vida “com grande voz” e reúne os seus num só povo.
Nota onomástica: Lazaros deriva de ʾElʿāzār (“Deus ajudou”), conferindo ao episódio um subtexto teológico já no nome do protagonista.
Comentário de João 11
João 11:1 Betânia, um pequeno vilarejo ao sul do monte das Oliveiras, ficava cerca de três quilômetros de Jerusalém (v. 18).
João 11:2 Maria era aquela que tinha ungido. Quando João escreveu esse capítulo, o episódio da unção era bastante conhecido, então ele o usou para distinguir essa Maria das outras mulheres de mesmo nome.
João 11:3 Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. O recado simplesmente diz que Lázaro estava enfermo. Embora as irmãs não peçam nada a Jesus, a fé de que Ele poderia curar o irmão está implícita aqui.
João 11:4 A declaração não é para morte significa que o resultado final não seria a morte. Seja glorificado. Jesus revelaria Seu poder sobre a morte por meio da ressurreição de Lázaro.
João 11:5-8 Ficou ainda dois dias. O propósito de Deus era glorificar Seu Filho (v. 4) e fazer com que os discípulos de Jesus crescessem na fé. Se Jesus tivesse se apressado para curar Lázaro, este não teria morrido, e, desse modo, Jesus não poderia manifestar Sua glória ao ressuscitá-lo. O tempo em que Deus cumpre Seus propósitos é perfeito. Entretanto, os discípulos estavam temerosos, pois sabiam que Jesus poderia ser morto se voltasse à Judeia.
João 11:9, 10 Doze horas era exatamente meio dia, o horário mais adequado para trabalhar. O que Jesus está dizendo aqui é que a obra de Deus tem de ser feita sempre que houver oportunidade para fazê-la. Era como se estivesse dizendo: Eu ainda tenho tempo; eu não vou morrer até que meu trabalho esteja terminado.
João 11:11-14 Lázaro [...] dorme. A Bíblia usa o verbo dormir em várias passagens para se referir à morte (Gn 47.30; Mt 27.52; 1 Ts 4.13). Todavia, nenhuma dessas passagens indica um estado de sono da alma ou de inconsciência. A morte para os santos é livramento dos problemas deste mundo, mas a plena consciência da vida eterna (Fp 1.23).
João 11:15 E folgo, por amor de vós. Jesus não estava contente (NVI) por Lázaro ter morrido, mas pela chance que os discípulos logo teriam de testemunhar um milagre extraordinário. Eles já criam (Jo 2.11), mas cada novo desafio era uma oportunidade para que a fé deles crescesse (compare com 2 Pedro 1.5-8).
João 11:16 O nome Dídimo no grego significa gémeos, termo sugestivo para demonstrar a luta interna de Tomé entre fé e incredulidade. Ao que parece, ele era dedicado a Jesus, mas também tinha a tendência de olhar para o lado ruim das coisas. Jesus disse vamos ter com ele [com Lázaro], para que os discípulos cressem também (v. 15). Porém, Tomé disse: Vamos nós também, para morrermos com ele. Enquanto Jesus via uma oportunidade para a fé de Tomé crescer, Tomé via apenas a possibilidade da morte. Contudo, por causa da lealdade que dedicava ao Mestre, ele foi.
João 11:17-20 Veja o contraste de personalidades. Marta era uma mulher de ação, enquanto Maria era uma mulher de quieta reflexão (Lc 10.38-42).
João 11:24 A fé dos judeus piedosos os levava a crer na ressurreição (compare com Daniel 12.13), mas essa fé era rejeitada pelos fariseus (compare com Mateus 22.23; Atos 23.8).
João 11:25-27 Jesus é a ressurreição para todos que creram antes de morrer fisicamente e é a vida para aqueles que ainda estão vivos. Quando Jesus perguntou a Marta se ela cria, a resposta dela foi semelhante às palavras de João para descrever o propósito do seu Evangelho (Jo 20.31). Para receber a vida eterna, é preciso ter fé em Jesus, que é o Cristo, o Filho de Deus, que veio a este mundo para dá-la a todos que creem.
João 11:28-30 Em segredo. Marta disse somente a Maria que Jesus viria, para que ela o encontrasse sozinha.
João 11:31 Seguiram-na. A discrição (v. 28) não deu certo. Chorar aqui significa prantear e lamentar. Refere-se a uma expressão profunda de pranto, lamento e pesar, não apenas ao derramar de lágrimas.
João 11:32 Se tu estivesses aqui. Maria disse ao Senhor a mesma coisa que Marta tinha dito (v. 21). Certamente elas haviam falado sobre isso alguns dias antes.
João 11:33, 34 Moveu-se muito em espírito. Jesus ficou profundamente comovido. Perturbou-se, ou seja, ficou tomado de emoção, abalado. Jesus se condoeu do sofrimento de Maria e indignou-se com as lamentações hipócritas dos Seus inimigos.
João 11:35, 36 Chorou significa derramou lágrimas. Mas Jesus não pranteou um lamento sem esperança como os outros (v. 33). Ele sabia o que iria acontecer, mas Sua compaixão o levou às lágrimas. Ele sentiu a dor que a morte de Lázaro havia causado aos outros.
João 11:37 Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse? Alguns interpretaram as lágrimas de Jesus como sinal de que Ele não poderia fazer mais nada. E então reclamaram por Ele ter curado outros antes, e não ter feito o mesmo com Lázaro, impedindo que morresse.
João 11:38, 39 Era uma caverna. Ter um jazigo indica que se tratava de uma família rica.
João 11:40-42 Não te hei dito? Ao que parece, a declaração de Jesus aqui é uma referência aos versículos 25 e 26 e uma resposta aos mensageiros descritos no versículo 4. É bem provável que Ele tenha dito isso em outras duas ocasiões que não foram relatadas.
João 11:43, 44 Clamou com grande voz. Esse clamor em alta voz foi o resultado de uma forte emoção ou a tentativa de que todos pudessem ouvir. Lázaro, vem para fora. Agostinho disse certa vez que, se Jesus não tivesse chamado especificamente por Lázaro, todos os mortos sairiam dos túmulos em obediência ao comando da voz de Jesus (Jo 5.28). Ressuscitar Lázaro foi o sinal da soberania de Jesus como o Messias, pois o maior milagre de todos era trazer alguém de volta à vida.
João 11:45-48 Virão os romanos e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação. O termo lugar aqui diz respeito a Jerusalém e ao templo. Pode-se observar nesse episódio a verdadeira preocupação dos líderes judeus. Eles não estavam indignados com a suposta blasfêmia de Jesus, mas sim com a possibilidade de perderem seu status de líderes, sua posição de autoridade.
João 11:49-52 Na opinião de Caifás, Jesus devia morrer para que a nação não fosse ameaçada. João ainda acrescenta que, pela posição que ocupava, Caifás usou a Palavra de Deus de maneira insensata: que um homem morra pelo povo. Mas, sem saber, Caifás assumiu a vez de um profeta. João também viu nas palavras do sumo sacerdote a profecia de que Jesus não apenas morreria por Israel, mas pelos gentios também.
João 11:53 Pela perspectiva humana, a ressurreição de Lázaro foi o principal evento que levou os líderes religiosos a conspirar pela morte de Jesus, Foi por causa desse milagre que o Sinédrio decidiu informalmente, se não formalmente, que Jesus deveria morrer. João descreve passo a passo como o ódio daqueles homens passa a crescer (Jo 5.16; 7.1, 32, 45; 8.59; 9.22; 10.39). O irônico naquela situação toda é que eles achavam que poderiam matar para sempre Aquele que podia ressuscitar os mortos.
João 11:54 Jesus, pois, já não andava manifestamente. Jesus se retirou da vida pública por algum tempo e encontrava-se em secreto com Seus discípulos. A descrição terra junto ao deserto geralmente se refere ao deserto da Judeia, que se estendia até a cidade de Jericó.
João 11:55-57 Subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem. Por causa da Páscoa, os judeus se purificavam lavando seu corpo e suas roupas, a fim de entrar no templo para adorar. Alguns procuravam Jesus por curiosidade, outros, por lealdade (v. 56), mas os principais dos sacerdotes (v. 57) o buscavam para prendê-lo.
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