Estudo sobre João 2

João 2

O capítulo começa com o relato das bodas de Caná, para onde Jesus e seus discípulos foram convidados. Durante a celebração, o vinho do anfitrião ficou sem vinho, o que foi um grande constrangimento social. A pedido de Sua mãe, Maria, Jesus realizou Seu primeiro milagre público ao transformar água em vinho, demonstrando Seu poder divino.

João 2:11 observa que este milagre em Caná foi o início dos sinais de Jesus e que revelou Sua glória. Isso levou Seus discípulos a acreditarem Nele, significando a importância dos milagres como meio de demonstrar Sua identidade como Filho de Deus.

O capítulo inclui a cena dramática de Jesus entrando no templo em Jerusalém e expulsando os cambistas e vendedores de animais. Ele os repreendeu por transformarem a casa de Seu Pai num mercado, expressando Seu zelo pela santidade do templo.

Em João 2:19-22, Jesus fez uma declaração enigmática sobre destruir o templo e reconstruí-lo em três dias. Ele estava se referindo ao Seu próprio corpo, aludindo à Sua futura morte e ressurreição, que seria um evento central no Seu ministério.

João 2:23-25 menciona que, durante Seu tempo em Jerusalém, muitas pessoas acreditaram em Jesus por causa dos sinais que Ele realizou. Contudo, Jesus não se confiou a eles porque conhecia os seus corações. Esta passagem destaca a distinção entre crença superficial e fé genuína.

O primeiro sinal (2:1–11)

2:1 As bodas de Caná estão ligadas ao texto anterior por uma ligação cronológica: “ao terceiro dia”, frase que provavelmente significa “depois de três dias”. Caná era uma vila nas colinas da Galileia. Sua localização exata é contestada, mas o melhor local parece ser o de Khirbet Qana, cerca de 14 quilômetros ao norte de Nazaré.

2:2–3 Um casamento é sempre uma ocasião de gala e numa aldeia como Caná seria uma celebração comunitária. “Refrigerantes” foram fornecidos a todos os convidados. Destes, o vinho foi muito importante. Deixar de fornecer adequadamente aos convidados envolveria desgraça social. Nas comunidades estreitamente unidas dos dias de Jesus, tal erro nunca seria esquecido e assombraria o casal recém-casado por toda a vida. A situação despertou a urgência de Maria quando informou Jesus da emergência.

2:4–5 A resposta de Jesus a Maria não foi tão abrupta quanto parece, pois “mulher” era uma forma educada de tratamento (ver também 19:26; 20:15). Sua declaração provavelmente significa: “Qual é o nosso negócio?” Maria reconheceu que Jesus deveria agir de forma independente e disse com confiança aos servos que seguissem as ordens dele, esperando plenamente que ele tomasse as medidas apropriadas. Jesus indicou que não estava mais sob a autoridade dela, mas que estava vivendo segundo um novo padrão programado pelo propósito de Deus. Ele começaria seus milagres de acordo com o propósito de seu Pai celestial. O “tempo” (GK 6052 ) refere-se à primeira hora em que ele manifestou a verdadeira razão pela qual veio (ver 17:1).

2:6–7 Os potes de pedra eram grandes, contendo cerca de vinte galões cada. Pelas regras sociais da época, todos os convidados deveriam lavar as mãos antes de comer, e para isso seria necessária uma quantidade considerável de água. Na estimativa mais baixa, 120 galões de água estariam disponíveis. Se transformada em vinho, forneceria aproximadamente duas mil taças de quatro onças; e se, como era frequentemente habitual, o vinho fosse ainda diluído em três partes de água para uma de vinho, teria sido suficiente para durar vários dias.

2:8–10 O “mestre do banquete” não era o anfitrião, mas um chefe de mesa ou brinde chamado para cuidar da distribuição de comida e bebida em uma grande ocasião social. Ele ficou surpreso com a alta qualidade do vinho, já que geralmente era servido um vinho de qualidade inferior quando o paladar dos convidados ficava entorpecido.

2:11 O propósito do primeiro milagre de Jesus depois de entrar na Galiléia não é declarado, mas a natureza do milagre é muito clara. Jesus veio para realizar a conversão: da água ao vinho, dos pecadores aos santos. E este último milagre de transformação ocorre em quase completa obscuridade. Poucos sabem quando ou como isso acontece, mas sabem que acontece.

O efeito deste milagre é digno de nota. Marcou o início de um ministério acompanhado de poder sobrenatural; e mostrou-se tão convincente para os novos discípulos que eles “depositaram nele a sua fé”. Ou seja, a escritura ajudou a confirmar a conclusão que haviam tirado das entrevistas anteriores com ele: Jesus deve ser o Messias.

O interlúdio em Cafarnaum (2:12)

2:12 Este versículo cobre um período de tempo não especificado. Visto que os Evangelhos Sinópticos parecem sugerir que ele teve um ministério inicial na Galileia, isso pode ser adequado neste ponto. A alusão aos irmãos de Jesus provavelmente se refere aos filhos mais novos de José e Maria, nascidos depois de Jesus (ver Mt 1,24-25; Mc 6,3).

A purificação do templo (2:13–22)

2:13–14 Por volta da época da Páscoa, Jesus subiu da Galileia para Jerusalém para a festa anual. A narrativa apresenta um quebra-cabeça cronológico, pois os Evangelhos Sinópticos associam unidamente a purificação do templo por Jesus à sua última visita a Jerusalém no momento de sua morte (ver Mt 21,10-17; Mc 11,15-19; Lc 19: 45–46). É melhor reconhecer que houve duas dessas ocasiões, uma das quais foi registrada por João e a outra pelos Sinópticos, especialmente porque existem algumas diferenças significativas entre este relato e os dos Sinópticos (ver EBC, 8:44). Não é de todo improvável que Jesus tenha purificado o templo duas vezes, com duas Páscoas separadas, e que a segunda tenha enfurecido tanto a hierarquia que a animosidade deles para com ele explodiu em ação drástica.

A venda de gado e pombas e o privilégio de trocar dinheiro eram permitidos no pátio do templo como uma conveniência para os peregrinos que precisariam de animais para sacrifícios e de siclos do templo para pagar suas dívidas. Sob os principais sacerdotes, porém, as concessões tornaram-se apenas um meio de ganhar dinheiro e transformaram o templo num empreendimento comercial.

2:15–16 A ação de Jesus precipitou uma grande confusão. Os animais gritavam e corriam sem rumo; os cambistas estariam procurando suas moedas na poeira e nos escombros do chão do tribunal; os funcionários estariam discutindo com Jesus sobre os direitos do caso. A expressão “casa de meu Pai” de Jesus revela seu sentimento para com Deus. A comercialização de privilégios foi um insulto a Deus e uma profanação da casa do Pai.

2:17 A veemência de Jesus revelou sua paixão interior pelo Pai e sua zelosa tutela dos interesses do Pai. A Escritura trazida à mente dos discípulos é Sl 69:9, da qual outras passagens foram aplicadas a Cristo (por exemplo, Sl 69:1-4 em Jo 15:25; Sl 69:21 em Jo 19:29).

2:18-21 A exigência dos judeus por um sinal está bastante de acordo com a atitude geral deles em relação a Jesus durante sua vida (ver Mt 12:38; 16:1; Mc 8:11; Lc 11:16). Nesta ocasião específica, Jesus respondeu enigmaticamente: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”. Seus críticos presumiram que ele estava falando do templo de Herodes, que estava em construção há quarenta e seis anos e ainda estava incompleto. Jesus, diz o autor, realmente se referia ao templo do seu corpo, que ele ergueria dentro de três dias.

2:22 O comentário do autor indica que desde o início de seu ministério Jesus tinha em vista o fim dele. Dificilmente se pode escapar à convicção de que o quarto evangelho descreve a carreira de Jesus como um progresso voluntário em direção a um objetivo predeterminado. As alusões à destruição do templo do seu corpo (2:22), à elevação numa cruz (3:14; 12:32-33), à doação da sua carne pela vida do mundo (6: 51), ao seu sepultamento (12,7) e ao anúncio da sua traição e morte aos seus discípulos (13,19, 21), atestam a sua consciência do destino que o aguardava em Jerusalém. Embora os discípulos não compreendessem a situação durante a carreira de Jesus, a Ressurreição colocou a memória das suas palavras numa nova perspectiva.

A entrevista com Nicodemos (2:23–3:21)

Esses versículos introduzem três entrevistas típicas nos caps. 3 e 4: Nicodemos, o fariseu, a mulher samaritana e o oficial real em Caná (provavelmente um gentio). Em outras palavras, estas três pessoas representavam os judeus, os samaritanos e os gentios – em suma, o mundo que ele veio salvar.

2:23–24 Jesus já havia começado a realizar obras milagrosas. Esses sinais atraíram a atenção da multidão e levaram muitos a um estágio de crença paralelo ao dos discípulos (2:11). Eles raciocinaram que, visto que Jesus possuía tal poder, ele deveria ter o favor de Deus (cf. 9:30-33). Jesus, porém, não se satisfez com uma fé superficial. Ele não confiava naqueles que professavam crença apenas com base em seus milagres.

2:25 Jesus tinha uma compreensão completa da natureza humana. Ele conseguia ler as pessoas com mais precisão do que um médico consegue ler os sintomas físicos ao diagnosticar uma doença.