Estudo sobre Romanos 6:1

Romanos 6:1

Com a formulação “Que diremos, pois?” Paulo demonstra repetidas vezes que ele pressente uma objeção que paira no ar. Há pouco ele havia enaltecido em Rm 5.20b que: quanto maior o poder do pecado, tanto maior será ali o poder da graça! De imediato entra em funcionamento uma certa lógica: então, foi-nos dada uma alavanca para com nossas mãos movermos a graça, a saber, continuando a pecar. Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? No singular “pecado” Paulo não pensa em atos isolados, e sim no pecado como poder (cf Rm 5.20b). Combina com isso o “permanecer”. Assim como se pode permanecer na esfera da bondade de Deus ou na esfera da descrença (Rm 11.22,32), assim também na área de poder do pecado. Ela equivale a um ente político, um império: v. 12,14,16,18,22. O interesse especial na questão é: trata-se de uma estrutura jurídica. O pecado governa legalmente sobre nós, pois o exercício do mal não apenas feriu nossa própria consciência, mas criou também relações de direito, estruturas do mal, nas quais agora é obrigatório viver.

Quem lança essa pergunta oblíqua? Em Rm 3.7,8 Paulo é acusado de forma muito semelhante por “caluniadores” de que por sua doutrina da graça ele estaria seduzindo para a prática do pecado. Será que agora Paulo está se voltando contra as mesmas pessoas? Não, aqui a situação é completamente outra. Ele não liquida rapidamente a questão como lá, não fala em tom de reprovação, mas dirige-se, no estilo do “nós” e com minuciosos detalhes, ao próprio círculo. Também nos cristãos está latente a possibilidade de abusar da graça, de fazer do evangelho uma massa manipulável, cf Gl 5.13: “Irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne”. Um voraz desejo egoísta pressente o ar matinal, avança para dentro do espaço de liberdade recém-recebido, e se produz nele grandiosamente. Decorrência: as condições morais numa comunidade tornam-se deploráveis. Não-cristãos às vezes pecam com mais dignidade que cristãos. A decorrência seguinte: por força das circunstâncias, a comunidade envereda pelo mais triste legalismo que existe.

Para esse “permaneceremos no pecado” o próximo versículo diz “viveremos ainda no pecado”: Organizar a vida novamente segundo o espírito, a mentalidade e o bel-prazer do pecado. Sequer temos o desejo de separar-nos desta atitude mental, gostaríamos de continuar pecando e detectamos no ensino de Paulo uma possibilidade de fazê-lo sem prejuízo. Afinal, temos agora a “graça” como escapatória. Testemunhamo-la comovidos, talvez até de modo comovente para outros, os quais seduzimos. Porém, dessa maneira acabamos apenas brincando com cascas de palavras. Quem gosta de pecar, nem está mais ciente de que Jesus está presente. Acaso o Senhor falou ao curado no tanque de Betesda: E agora continua pecando tranquilamente? (Jo 5.14). Acaso disse à mulher adúltera, depois de lhe ter anunciado o perdão: Continua pecando sem problemas, pois agora terás sempre a mim? (Jo 8.11).

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Romanos 6:1