Estudo sobre Romanos 6:6-10

Romanos 6:6-10

Continuamente Paulo apela para o “saber, crer, conhecer” dos cristãos em Roma, como já no v. 3, agora no v. 6, e depois novamente nos v. 8,9. Assim, ele pleiteia pela confiança deles, visando não por último o seu projeto de engajá-los em sua missão à Espanha. Não quer que se sintam como que pressionados a aceitar algo estranho. Afinal, ele “traz à memória” nada mais que assuntos conhecidos (Rm 15.15). Porém, é impressionante o que ele lhes atribui que saibam realmente! Que apreendam as conseqüências legais da morte de seu Senhor para todos os que creem, na sua extensão, amplitude e profundidade. Sabendo isto: que foi crucificado com ele (Cristo) o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja (legalmente) destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está (na forma da lei) justificado (livre) do pecado. No lugar da expressão “nosso velho homem” entra a fala do corpo do pecado. Nessa locução, corpo não designa especificamente o corpo humano, que como tal não está “destruído”, mas, segundo a compreensão bíblica, refere-se ao homem todo, assim como vive e convive, com tudo o que entrementes causou e alcançou, ao que também não pode esquivar-se mais.

8-10 Uma nova repetição consolida os objetivos fundamentais da unidade. É a última linha que mostrará o ponto em que Paulo finalmente pretende chegar, a nova qualidade de vida que Cristo trouxe à luz. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. O marcante “morreu para o pecado de uma vez para sempre” tinha uma razão de ser. Naquele tempo fortaleciam-se tendências religiosas que propagavam experiências de redenção com vocábulos em grande parte semelhantes aos usados aqui, mas que tinham um sentido muito diferente. Elas partiam de impressionantes experiências na natureza, p. ex., o maravilhoso retorno da vida na primavera. O reiterado morrer e reviver da natureza foi potencializado, formando um mito de morte e ressurreição, e reproduzido como experiência mediante um rico ritual. Muitas pessoas em busca de apoio descobriam-se assim como sendo compreendidas nos altos e baixos de sua existência. Contudo, Paulo não queria de maneira alguma ser enquadrado nesses grupos, quando falava como eles, segundo o presente trecho, de “morrer” e “ressurgir”. Sua mensagem constituía, em concordância com toda a primeira cristandade, notícia de um acontecimento axial como nunca houve antes e jamais haveria depois. Essa notícia fala do auto-sacrifício de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Esse “de uma vez para sempre”, portanto, era diametralmente oposto ao pensamento cíclico das referidas religiões e demandava ser sempre de novo enfatizado. Com a mesma vigilância nós temos de cuidar hoje da penetração de sabedorias da religiosidade natural. Podem até ser convincentes, mas não conduzem para fora do círculo vicioso de esperanças continuamente despertadas e constantemente frustradas.

À anulação, por um ato único, do poder do pecado pelo morrer de Jesus contrapõe-se agora a situação radicalmente nova de seu viver como Ressuscitado. É vida não turbada, plena de luz, transbordante, singularmente determinada pelo Mandamento e pelas primeiras preces do Pai-Nosso: vida para Deus. Está em vigor enquanto realidade plenamente saturada. Constitui a real garantia da existência cristã nesse mundo, resistente contra tudo que se lhe opõe e que possa ser alegado: Cristo não morre mais! Por mais coisas que ainda possam faltar à comunidade – e lhe faltam muitas coisas – e por mais longe que ela possa ser levada ao retrocesso, uma verdade permanece: Cristo vive, e “seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10).

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Romanos 6:6-10