Estudo sobre Romanos 6:3
Romanos 6:3
Para reforçar o afirmado, a saber, que eles estão “mortos”, Paulo lhes apresenta como “certidão de óbito” (J. A. Bengel) o seu batismo. Inicialmente, ele confere o entendimento de batismo que ele pode pressupor: Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? A pergunta tem uma formulação meramente retórica. Também na distante Roma, onde ele próprio não havia atuado, isso era parte integrante do saber básico cristão. Todavia, é possível que o saber escape da consideração, a ponto de não significar mais nada para nós. Então será matéria morta que precisa ser novamente interiorizada.
Analisemos um a um os elementos do v. 3. Todos “fomos batizados”, não se batizaram a si próprios. Essa forma passiva não era uma evolução natural para um movimento que surgiu do judaísmo. Um judeu fiel à lei era obrigado a tomar banhos de imersão em numerosas ocasiões, nos quais ele próprio mergulhava o corpo todo na água. Essa “lavagem” ritual restabelecia sua capacidade de prestar culto a Deus, p. ex., após contaminação com lepra, fluxos genitais, contato com cadáveres ou túmulos. O primeiro dessas longas séries de “batismos” em sua vida adquiriu naturalmente uma solenidade especial. P. ex., para gentios dispostos a passar para o judaísmo, desenvolveu-se mais tarde o chamado “batismo de prosélitos” (realizada no homem após sua circuncisão). Como se tratava simbolicamente de lavagem, resultavam três características para sua realização:
• Ao lavar-se a si própria, a pessoa batizava-se a si mesma.
• Por isso, a pessoa também o fazia despida, e
• Realizava-o não em reunião pública, mas diante de duas ou três testemunhas.
O batismo cristão se diferenciava desse rito tanto no sentido quanto na forma de execução. Ela se derivava do batismo de João. Lá vigoravam outras circunstâncias:
• Todas as pessoas dispostas a arrepender-se, também judeus, apesar de seus ritos de lavagens, submetiam-se a esse batismo.
• Permitiam que João o realizasse neles. Esse aspecto destacava-se de forma tão marcante que João entrou na história com o cognome “Batista”.
• Como se deixou para trás a figura da lavagem, ficou eliminada também qualquer repetição.
• Da mesma forma caiu por terra a característica de uma ação em recinto restrito. João batizava publicamente no rio Jordão.
Era com essas coordenadas que também os primeiros cristãos executavam a cerimônia. A forma passiva “ser batizado”, que é mantida consistentemente pelo NT, explica-se, portanto, a partir do contraste com os ritos de lavagem judaicos. Nessa forma verbal de modo algum reside uma indicação velada para o agir salutar de Deus no batismo (passivum divinum). João já tinha rejeitado com veemência a expectativa de que Deus ou Cristo fosse o verdadeiro sujeito do batismo na água, e o nt transmitiu essa frase com cuidado. Além disso, as pessoas batizadas eram extremamente ativas de outra maneira: Elas “vinham” ao batismo, “arrependiam-se”, “davam razão a Deus”, “confessavam seus pecados”, não “desprezavam” a deliberação salvadora de Deus, mas passavam a andar espontaneamente no caminho dele.
Apesar de toda plasticidade, o batismo, como qualquer ato, é mudo e, por isso, também sujeito a equívocos. À semelhança da Santa Ceia, ele carece da palavra de interpretação. Para o batismo surge, nesse sentido, aqui e em quase todo o NT, a preposição “em direção de…” (no grego eis). Portanto, faz parte de cada batismo uma referência sobre a finalidade com que acontece. “Em direção do que (eis ti), pois, fostes batizados?” De João, de Jesus, de Moisés ou de Paulo? A referência de um batismo cristão é, com algumas variações, com toda a clareza: em relação a Cristo Jesus. Imediatamente, Paulo aguça a afirmação em vista do que é decisivo: fomos batizados sobre (eis) sua morte na cruz. O auge de sua vida estava, segundo a vontade de Deus, no seu morrer pelos pecados do mundo. Todos os quatro evangelhos culminam na história da Paixão. Sem essa morte expiatória ele sequer seria o Cristo, de modo que ele era proclamado essencialmente como o Crucificado (1Co 2.2). Ouvintes que aceitavam essa palavra do juízo e da graça clamavam ao Senhor na fé e deixavam-se batizar sobre ele, sobre a sua morte. Por meio desse ato tornavam pública sua relação com o Senhor. Ela, no entanto, sempre também será uma relação com a igreja dele. Não é insignificante que o batismo era realizado por um representante da comunidade. Assim, tudo está integrado nessa questão: um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só corpo e um só Espírito (Ef 4.4,5). A partir de agora, está descartada a devoção particular descompromissada.
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