Estudo sobre Romanos 6:17

Romanos 6:17

Para os leitores essa mudança tinha se realizado. Mas graças (sejam dadas) a Deus porque, outrora, escravos do pecado. Na Europa [e no Brasil] de hoje, para muitas pessoas ser cristão não é mais um presente que experimentaram (“graças a Deus!”), mas sim uma espécie de fato óbvio. Entre os romanos, porém, Paulo pode constatar recordações vivas do começo de sua vida cristã. Viestes a obedecer de coração à forma (configuradora) de doutrina a que fostes entregues. Nessa declaração confluem dois elementos. De um lado, eles próprios participaram com o coração (cf Rm 10.9,10), sem serem forçados, de livre vontade, e de outro, eles eram receptores de um acontecimento. Como pessoas a serem instruídas num ofício, os romanos foram entregues aos cuidados da doutrina. Enquanto em Rm 16.17 Paulo fala da “doutrina que aprendestes (ativamente!)”, aqui ele ressalta o que aconteceu com eles naquela mudança, que se deu no contexto do novo poder compromissivo e formativo da nova filiação. Daí também a expressão: forma (configuradora) da doutrina.

O termo grego typos é oriundo de typto, “bater”: numa pedra, num metal ou em outro material são martelados ou talhados sinais. O resultado constitui um typos, algo gravado, que por sua vez pode ser utilizado como um carimbo, como, p. ex., uma forma configurada para cunhar moedas. É esse o motivo de traduzirmos “forma configuradora da doutrina”.

Ao que parece, Paulo imagina esse ser cunhado pela doutrina como um processo extenso. Em decorrência, não é satisfatória a explicação de que se deva pensar, aqui, num ato ritual de um culto determinado, p. ex., no compromisso com um texto confessional. Dificilmente “doutrina” (didaché) seria um breve texto de confissão. Recitar um texto tampouco preenche o significado do verbo configurar. Antes caberia recordar Mt 28.19,20: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Jesus legou aos discípulos uma concepção integral para a vida, uma orientação determinante para uma vida alternativa. É ela, acima de tudo, que constitui a matéria de ensino, combinada com fundamentações da Escritura (AT).

Gravemos, pois: vir a crer não é apenas um ato de entusiasmo, não se esgota na condição interior. Pelo contrário, ao pregador é dirigida a pergunta: Que devemos fazera? Até agora nosso agir foi nefastamente errado, dá-nos orientação prática a partir Cristo! Ao crer, dispomo-nos a um processo de aprendizagem. Paulo era capaz de escrever aos efésios: “aprendestes a Cristo” (Ef 4.20). Ele tinha vontade de repetir o ensino mais uma vez com os gálatas, “até ser Cristo (novamente) formado em vós” (Gl 4.19).

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