Estudo sobre Romanos 6:4

Romanos 6:4

Paulo passa a tirar proveito, para o seu raciocínio, desse consenso da igreja primitiva sobre o batismo. Ele conclui: Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo. A formulação “na morte” significa naturalmente, como no versículo anterior “sobre a morte de Cristo”. No batismo, afinal, não fomos nós próprios mortos ou afogados. Expressamente consta: Fomos “sepultados junto com ele”. O “sepultados junto com” liga-se diretamente à última palavra do v. 3. Os dois termos aparecem, dessa forma, como que encaixados um no outro: “batizados–sepultados com”. Ser batizado é idêntico ao ser sepultado junto com. Batismo é sepultamento. Diante do morrer, o sepultamento tem um sentido diferente que pode muito bem ser discernido. O ato não muda mais nada no estado do falecido. Não acrescenta nada à sua condição de morto, não a intensifica. O falecido não se torna mais morto ainda. O sepultamento encontra-se num nível diferente. Ele atinge a influência do falecido. Torna incontestável a realidade de sua morte. Uma cerimônia fúnebre tem função demonstrativa perante o mundo envolvente. Transforma o falecimento num fato público impossível de ignorar, constituindo assim um processo legal. É o que ocorre aqui: o batismo atesta “oficialmente” o fato de termos morrido com Cristo. Em decorrência, essa consideração marginal do batismo carregou, com a clareza desejável, um apoio ao objetivo de Paulo expresso no v. 2.

Quanto ao estar sepultado com: na Antiguidade, eram bem conhecidas sepulturas duplas. Cônjuges, mas também pai e filho, mãe e filha ou também irmãos eram depositados numa sepultura conjunta – expressão de uma solidariedade válida ainda para além da morte. Para o que se segue, essa circunstância exerce um papel importante.

O v. 4b traz uma frase com um “para que”. Ela aponta para a condução da vida depois do batismo. Sobre a condição de “estar sepultado com” paira uma intenção divina: para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Nessa sepultura para dois governa, do mesmo modo como na sepultura de Jesus diante de Jerusalém, não a decomposição, mas sim a promessa. À comunhão na morte e na sepultura segue-se também uma correlação na ressurreição. É verdade que Paulo encerra de forma inesperada a frase de correlação, sim, ele a dobra. Nós esperaríamos: como Cristo foi erguido da sepultura para a glória do Pai, do mesmo modo nós também seremos glorificados após o batismo. Contudo, para nós o caminho depois do batismo não é diretamente para a perfeição e verticalmente para o céu, onde está entronizado Cristo, mas nosso caminho segue para dentro do serviço nesse mundo, que ainda está marcado pela decomposição, humildade e precariedade (1Co 15.42,43). Porém, guardada esta restrição, está valendo essa equação incrível: como Cristo, nós agora podemos levar uma vida na novidade! De acordo com a singela afirmação do versículo, participa-se da experiência de forças da sua ressurreição, da Páscoa que transborda incessantemente, de ser diuturnamente renovado, para tornar a ser capaz de corresponder a Deus, de viver, de servir e de sofrer.

Nos v. 2-4 foi dito o elementar sobre a alegação do v. 1. Para consolidá-lo, Paulo passa a repeti-lo com uma amplitude marcante. Em duas retomadas, nos v. 5-7 e 8-10, ele martela incansavelmente com a lógica da fé: Se – então! Nossa exegese abordará de agora em diante tão somente detalhes que são adicionados nos versículos seguintes.

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Romanos 6:4