Salmo 127 — Análise Bíblica
Salmo 127
O salmo 127 é mais um cântico de romagem. O título também indica que é de Salomão, significando que pode ter sido escrito por Salomão ou por Davi como conselho para seu filho Salomão. A ligação com Salomão é fortalecida pelo fato de o termo traduzido por seus amados (127:2) estar estreitamente relacionado ao nome Jedidias, ou “amado do Senhor”, nome dado pelo profeta Natã a Salomão (2Sm 12:25). De acordo com este salmo, sem Deus todos os esforços humanos são vãos.127:1-2 Construções e segurança
Por onde quer que andemos, vemos casas em construção. Algumas são mansões, outras são residências menores, e outras, ainda, não passam de choupanas. Todas têm em comum, porém, o fato de os proprietários estarem usando os melhores materiais de construção que seu orçamento permite. Todos esperam ter uma residência sólida e duradoura que suprirá as necessidades de sua família. Por mais caros que sejam os materiais usados e por mais habilidosos e diligentes que sejam os construtores, a casa não será abençoada se o Senhor não estiver envolvido em sua construção (127:1a). Os construtores da torre de Babel descobriram isso do modo mais difícil (Gn 11:1-9). Salomão precisava lembrar esse fato ao dar início ao seu ambicioso programa de construção (IRs 9:10-24). Salomão observou, porém, que, quando algo é dedicado à glória de Deus, o Senhor abençoa e provê recursos de fontes inesperadas. Até mesmo o rei pagão de Tiro se dispôs a ajudar Salomão a construir o templo (IRs 5:1-10). Ao nos envolvermos com qualquer projeto de construção, de uma casa, igreja ou nação, precisamos buscar em oração e com sinceridade a ajuda e a direção de Deus. Precisamos pedir que o Senhor nos mostre como usar os recursos que ele nos dá. Se não o fizermos, veremos que, como mostram esse versículo e Levítico 26:20, nossos esforços serão inúteis. Salomão aprendeu essa lição, conforme vemos em suas meditações em Eclesiastes e na descrição do final de seu reinado em IReis 11:1-12.
Habitação é uma das principais preocupações do ser humano; e outra é segurança. Compramos portas maciças para nossa casa e colocamos grades nas janelas. Levantamos muros altos ao redor de uma propriedade, contratamos guardas para ficarem junto aos portões e equipamos o carro com travas e alarmes. Em viagens, somos lembrados da necessidade de segurança quando precisamos parar em postos de fiscalização nas estradas ou deixar que examinem nossa bagagem no aeroporto. Ainda assim, em grande parte do mundo, a violência e a criminalidade são um problema generalizado e crescente. Não podemos negar que, se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela (127:16). Nenhuma de nossas medidas de segurança se equipara à proteção que Deus provê. A lembrança de que é inútil trabalhar dia e noite sem parar (127:2) não deve ser entendida como desculpa para a preguiça ou o ócio. Conforme inúmeras evidências da Bíblia indicam, Deus deseja que trabalhemos. Deus poderia prover maná miraculosamente para todos nós, mas espera que plantemos ou cacemos o alimento, ou que trabalhemos para ter dinheiro para comprá-lo. Paulo incentiva os cristãos a trabalhar a fim de não se tornarem um peso para outros (2Ts 3:8-10). Existe uma diferença, porém, entre trabalhar e se extenuar sem ter tempo para o descanso ou para Deus. Se temos a tendência de trabalhar excessivamente, precisamos parar e refletir se nosso trabalho não se está tomando um ídolo no qual confiamos mais do que em Deus. Em última análise, é Deus quem provê para nós e ele sabe que uma de nossas necessidades é o descanso (Mt 6:25-34). Jesus chegou a dizer para seus discípulos exaustos irem “repousar um pouco, à parte, num lugar deserto” (Mc 6:31). E significativo, portanto, o salmista afirmar em 127:2b que Deus provê aos seus amados enquanto dormem.
127:3-5 Vida em família
As casas que construímos não estão completas sem famílias para habitá-las. Por isso, as orações pedindo as bênçãos de Deus em cerimônias de casamento quase sempre incluem filhos para o casal. Os filhos são herança e galardão de Deus, e não um fardo (127:3). Isso não significa que será fácil educá-los nos caminhos do Senhor, pois as bênçãos do Senhor também acarretam responsabilidades. Na Africa, há quem interprete a palavra filhos em 127:3a como indicação de que os filhos do sexo masculino são uma bênção específica. Alguns pedem que Deus lhes dê filhos em vez de filhas. Em lugares como a índia e a China, a preferência por filhos do sexo masculino leva alguns pais a abortar ou matar meninas recém-nascidas. A referência a “filhos” em 127:36, porém, indica que o salmista tem em mente filhos de ambos os sexos. Eles são iguais diante de Deus, pois foram criados à imagem de Deus e estão sob seus cuidados (Gn 1:27; Gl 3:28). Não devemos jamais supor que um sexo tem mais valor que o outro. Como cristãos, devemos aceitar o filho que Deus nos der. Não podemos dar ordens nem conselhos a Deus (Jó 38—40:5). A insensatez dessa mentalidade fica evidente na dificuldade de muitos rapazes indianos e chineses encontrarem uma esposa. Existem algumas vantagens de ter filhos na mocidade, o que na cultura judaica correspondia ao final da adolescência até 20 e poucos anos (127:4). De acordo com essa linha de raciocínio, é importante que os filhos estejam crescidos antes que os pais fiquem idosos demais para se sustentar. No devido tempo, os filhos serão responsáveis por cuidar de seus pais e protegê-los. Esse conceito explica por que o salmista compara os filhos à flechas. As flechas são usadas para a caça ou para a defesa contra inimigos. Semelhantemente, os filhos podem prover as necessidades materiais de seus pais e guardá-los de perigos. A imagem bélica é apropriada, pois a vida é uma batalha constante. Os filhos podem defender seus pais à porta (127:56). De acordo com algumas interpretações, o salmista se refere a batalhas jurídicas ou físicas junto à porta da cidade.
O contexto sugere, porém, que ele tem em mente a porta de acesso à casa dos pais. Se inimigos ou ladrões aparecem na entrada da casa, os idosos se veem indefesos. Os filhos adultos, contudo, podem ser como guerreiros que defendem a casa dos pais. Da mesma forma que distorcem o sentido de “filhos” em 127:3, algumas pessoas também interpretam equivocadamente o significado de ter a aljava cheia (127:5a). Há quem considere essa imagem um incentivo para as famílias terem mais filhos do que são capazes de sustentar. Os tempos mudaram, e o número de flechas necessárias na aljava diminuiu. Ter uma família muito grande não é sábio por vários motivos. Com a orientação de Deus e os recursos da medicina, hoje podemos controlar o tamanho de nossas famílias. As bênçãos que os filhos trazem se tomam mais evidentes para aqueles cujos filhos andam com o Senhor. Como pais, temos a grande responsabilidade de cuidar de nossos filhos e instruí-los segundo os princípios bíblicos que devem nortear nossa vida familiar.
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