Salmo 120 — Análise Bíblica

Salmo 120: Guerra, em vez de paz

O salmo 120 é o primeiro de quinze salmos curtos (Sl 120— 134) conhecidos como cânticos de romagem. Não sabemos exatamente por que eles foram agrupados nem o significado exato do título. A explicação mais provável, porém, é que eram entoados por judeus piedosos quando se dirigiam ao templo em Jerusalém para celebrar as grandes festas anuais. Nesse caso, o termo “romagem” (ou “romaria”) se refere à peregrinação até o templo no alto do monte Sião, daí os salmos serem chamados também de “cânticos de ascensão” (cf. 24:3; 122:4; Mt 20:17). O termo “ascensão” é estreitamente relacionado com a palavra hebraica moderna aliyah, que também significa “escalar”. Hoje, essa palavra costuma ser usada para se referir à migração de judeus de várias partes do mundo de volta à terra de Israel. É possível acompanhar algumas das etapas da peregrinação ao longo desses salmos. O salmo 120 pode ser considerado uma referência ao início da jornada numa terra distante de Jerusalém. No salmo 122, os peregrinos chegam à cidade e, no salmo 134, falam com os sacerdotes que ministram no templo. Não há como saber se esses salmos de peregrinação eram sempre entoados por todo o grupo. Vários parecem expressar as experiências de um único indivíduo. E bem possível que algumas pessoas fizessem peregrinações individuais para o templo, enquanto outras viajavam em grupos grandes.

120:1-4 Palavras hostis e justiça de Deus
O salmista está profundamente angustiado e não tem a quem se dirigir, senão a Deus. Para ele, isso basta, pois, quando clama, Deus o ouve (120:1). “Ouvir” não significa apenas reconhecer as palavras do locutor. Implica tomar providências em resposta ao que se ouviu e envolver-se física e emocionalmente. Quando Deus ouve orações, ele age. O salmista parece extremamente magoado com as falsas acusações que os inimigos fizeram contra ele. Esse tipo de difamação pode ser doloroso. Quem já passou por experiências semelhantes não se surpreende com o fato de que, em outras passagens da Bíblia, a maledicência seja considerada tão penetrante quanto lanças, espadas e setas (57:4; 64:2-4; Pv 25:18; 26:18). Os ferimentos que as palavras podem causar são igualmente profundos. Indefeso diante dos ataques, o salmista apela para Deus, aquele que conhece a verdade e não se deixa influenciar por acusações falsas. O salmista não gasta tempo respondendo aos inimigos. Antes, apela para Deus e pede livramento e justiça (120:2). A oração a Deus e o silêncio em relação aos maldizentes são, com frequência, as melhores armas de que dispomos nessas batalhas. O salmista sabe que não há nada de bom reservado aos que falam mentiras sobre outras pessoas (120:3). Pode orar confiantemente, certo de que Deus atenderá a seu pedido para julgar aqueles que o condenam injustamente. As palavras deles podem ser como flechas, mas o julgamento de Deus voltará as setas agudas do valente contra eles próprios (120:4). Brasas vivas também simbolizam julgamento. Essas brasas serão provenientes do zimbro, árvore cuja madeira era usada para produzir carvão que queimava a uma temperatura extremamente alta. Essa imagem enfatiza, portanto, como o julgamento de Deus será abrasador.

120:5-7 Alienado de meus vizinhos
O salmista solta um longo suspiro: Ai de mim (120:5). Sente-se como estrangeiro num país distante que anseia voltar à sua terra natal. Os acusadores ao seu redor são tão perversos quanto os povos de Meseque e Quedar. Há quem sugira que o povo de Meseque vivia no sudeste da atual Rússia, enquanto o povo de Quedar era uma tribo árabe que vivia ao sul de Israel (Ez 27:13; 32:26; Is 21:16- 17). Ambos eram povos nômades que estavam sempre em guerra. Costumavam enviar grupos fortemente armados para atacar povos ao redor. Podemos compará-los às milícias janjaweed que aterrorizam a região de Darfur no Sudão. Os acusadores eram como esses invasores temidos. É compreensível a impressão do salmista: Já há tempo demais que habito com os que odeiam a paz (120:6). Ele procurou ser um pacificador, mas seus inimigos rejeitaram todos os seus esforços e se mostraram interessados apenas em guerrear (120:7). Como seguidores de Cristo, somos chamados a ser pacificadores (Mt 5:9). O Senhor nos confiou o ministério da reconciliação (2Co 5:18), e devemos tentar viver em paz com todos (Rm 12:1,18). As pessoas com quem convivemos, assim como o mundo incrédulo em geral, porém, não desejam paz (Mt 10:34-39). Não estão interessados na paz que Jesus nos deu (Jo 14:24). Nossas tentativas de promover a paz podem ser recebidas com hostilidade, ódio e oposição. A única opção, portanto, é continuar orando como o salmista enquanto esperamos o Senhor agir. Também devemos procurar seguir o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo, que sofreu ataques semelhantes, mas, ainda assim, pediu: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34)

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