Salmo 130 — Análise Bíblica

Salmo 130: Das profundezas

Este salmo é outro cântico de romagem (Sl 120-134). Enquanto vários dos cânticos foram compostos com o claro propósito de serem entoados pela comunidade, a primeira parte deste salmo parece ser uma súplica pessoal por perdão. Consequentemente, ele também faz parte do grupo dos salmos penitenciais (Sl 6; 32; 38; 51; 102; 130; 143). Entre outros motivos, é possível que seja associado aos cânticos de romagem porque as palavras e a atitude do salmista espelham o que Deus pediu de seu povo ao prometer durante a dedicação do templo: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cr 7:14).

30:1-6 Culpa e perdão
O salmista está se afogando nas profundezas do desespero (130:1). Muitos de nós podemos identificar-nos com sua situação, pois às vezes também nos sentimos oprimidos pela culpa de algum pecado, por tristezas, dificuldades em nosso casamento ou com nossos filhos. Em momentos como esses, temos a impressão de que estamos afundando num mar de problemas. Do meio de seu desespero, o salmista clama ao Senhor. Sentimos a urgência da súplica no modo repetitivo de ele se expressar em 130:2; Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas. O salmista segue o exemplo de Jonas quando clamou “do ventre do abismo” (Jn 2:2). Quando invocamos a Deus em circunstâncias impossíveis, demonstramos que ainda confiamos nele e estamos pedindo que intervenha. Observamos a mesma confiança em pessoas como o cego Bartimeu, que rogou a Jesus: “Tem compaixão de mim!” (Marcos 10:46-48).

O salmista está ciente de que não tem nenhum direito de exigir a intervenção divina em seu favor. Reconhece humildemente que pecou e diz que, se Deus guardasse um registro de todos os seus pecados, ele seria inevitavelmente condenado ao se apresentar diante do Senhor em um tribunal (130:3). Sua situação não seria melhor que a dos perversos em Salmos 1:5 (cf. tb. 143:2). Deus, nosso Rei e Juiz, não é, contudo, um tirano. O salmista sabe que contigo [...] está o perdão (130:4a). Essa verdade é celebrada em Salmos 32:1-2, que também é um salmo penitencial, e em Salmos 103:12, um magnífico cântico de louvor ao Senhor que afasta de nós as nossas transgressões “quanto dista o Oriente do Ocidente”. Ao ler o salmo 103 junto com esse salmo, entendemos o que o salmista tem em mente quando diz: Para que te temam (130:46).

Não se trata do medo de serem castigados ou da preocupação de serem perdoados. Também não é simples respeito ou reverência por aquele que tem direito de castigar ou perdoar. Antes, é uma atitude de profunda gratidão ao único que pode perdoar os pecados (Lucas 5:21). É a atitude da mulher que lavou e ungiu os pés de Jesus (Lc 7:37-50). O salmista aguarda ansiosamente o cumprimento da promessa de Deus (130:5; 2Cr 7:14). Mais uma vez, usa a repetição para enfatizar como a espera parece demorada. No entanto, assim como o guarda sabe que o romper da manhã virá, por mais longa que seja a noite, ele sabe que, no devido tempo, Deus o socorrerá, mesmo que tudo ainda esteja escuro ao seu redor (130:6). Mesmo que se encontre nas “profundezas”, sabe que Deus o levantará (40:2; cf. tb. Lm 3:55-57).


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