Salmo 135 — Análise Bíblica

Salmo 135: Louvor à bondade de Deus

Enquanto no salmo 134 os levitas do turno da noite são chamados para louvar a Deus (134:1), no salmo 135 a injunção é ampliada a fim de abranger a nação como um todo. Um aspecto que chama a atenção neste salmo é o fato de ele consistir quase inteiramente em citações de outras partes do AT entretecidas para criar um cântico novo. Fica evidente que o compositor conhecia bem as Escrituras e era capaz de usá-las de modo eficaz. Posteriormente, Cristo indicaria que o mesmo se aplicava a ele (Mt 4:1-11). Nós também precisamos estudar e conhecer as Escrituras (119:11).

135:1-4 Chamado para louvar a Deus
O salmo começa com um chamado grandioso: Louvai o nome do Senhor (135:1a). Essas palavras são seguidas de outra exortação para louvar, esta extraída de Salmos 134:1. A única diferença significativa entre aquele versículo e 135:16-2 é que no salmo anterior somente os sacerdotes do turno da noite são chamados a louvar. Agora, a convocação se estende a todos os servos do Senhor, ou seja, todos os sacerdotes e levitas que serviam no templo. O salmista apresenta dois motivos para louvar a Deus. Primeiro, porque o Senhor é bom (135:3a). Devemos louvá-lo por seu caráter, por quem ele é, e cantar louvores ao seu nome, porque é agradável (135:36). “Agradável” pode referir-se ao caráter de Deus (sua bondade), porém parece mais provável que o próprio louvor seja agradável (cf. 147:1). Não há necessidade de discutir essas interpretações, pois ambas são verdadeiras! O segundo motivo para louvar a Deus é seu amor, o qual ele demonstrou ao escolher para si a Jacó (135:4). O patriarca Jacó também havia recebido o nome de “Israel” (Gn 32:28), adotado pela nação constituída de seus descendentes. Quando o salmista cita Deuteronômio 7:6 e diz que Deus escolheu Israel, para sua possessão, refere-se, portanto, à nação inteira escolhida por Deus.

135:5-12 O Deus da criação e da história
Na sequência, o salmista oferece confirmação pessoal daquilo que acabou de dizer: Com efeito, eu sei que o Senhor é grande e que o nosso Deus está acima de todos os deuses (135:5). Cita aqui a declaração de Jetro em Êxodo 18:11. Jetro se admirou do modo pelo qual Deus livrou os israelitas do Egito. O mesmo tema é retomado em 135:8-9, em referência às pragas que Deus enviou sobre o Egito. O salmista, porém, sabe mais sobre a história de Israel do que Jetro, de modo que também menciona outros episódios, inclusive a derrota de poderosos reis como Seom e Ogue, cujos reinos ficavam do lado leste do Jordão (Nm 21:21-35) e de todos os reinos de Canaã, do lado oeste do Jordão, conforme o relato de Josué 12:7-24 (135:10-11). 0 Senhor que escolheu Israel para ser sua “propriedade peculiar” deu a terra dos cananeus como herança a Israel (135:12). Salmos 136:10-22 também celebra essas vitórias. A história mostra como é verdadeira a declaração em 135:6: Tudo quanto aprouve ao Senhor, ele o fez, uma citação de Salmos 115:3. No entanto, Deus age não apenas na história, mas também na natureza. Como Criador, controla os céus, a terra, os mares e as condições meteorológicas (135:6-7). As palavras de 138:7 são citadas em Jeremias 10:13, quando o profeta reafirma que o Senhor é maior do que todos os outros deuses (135:5).

135:13-18 O caráter de Deus
O salmista já proclamou a bondade de Deus pelo fato de este adotar Israel (135:4) e por sua generosidade ao lhes dar a terra (135:12). Agora, ressalta que o caráter de Deus (seu nome) subsiste para sempre. Ele não muda, e a lembrança de seus atos poderosos será preservada de geração em geração (135:13). O próprio Deus proclamou esse fato em Êxodo 3:15. Não é a fidelidade dos israelitas que garante a lembrança do nome de Deus, mas o fato de que o Senhor julga ao seu povo (135:14a) ou “o Senhor defenderá o seu povo” (NVI). Caso se entenda o verbo como “defender”, isso significa que Deus provará a outros que as crenças de Israel a respeito dele são verdadeiras. Se, porém, considerarmos que o verbo é “julgar”, como em Deuteronômio 32:36, temos outro sentido. Israel desfruta grandes privilégios e, portanto, também tem grandes responsabilidades. Consequentemente, Deus os julga por seus pecados. Quando eles se humilham, se arrependem e pedem perdão, porém, o Senhor os perdoa e sara sua terra (2Cr 7:14), pois não é um tirano cruel que se apoderou de uma nação, mas um Senhor que se compadece dos seus servos (135:146). Todos os outros deuses que as pessoas adoram são incapazes de ter compaixão. Não passam de objetos esculpidos á e prata e ouro (135:15). Embora pareçam seres viventes, com boca, olhos e ouvidos, não são dotados de nenhum dos sentidos associados a esses órgãos (135:16- 17a). Nosso Deus possui vida dentro de si e concede vida a outros (Gn 2:7), mas esses ídolos não têm absolutamente nenhum fôlego (135:176). Ao falar contra os ídolos, o salmista repete as palavras de Salmos 115:4-6,8. Não admira, portanto, o Deus vivo proibir o culto a esses objetos (Êx 20:3-5) e os profetas os condenarem (Is 44:9-20; Hc 2:18-20). Quem confecciona e adora ídolos se torna tão morto e inútil quanto os deuses aos quais presta culto (135:18). O princípio se aplica, quer adoremos um ídolo antigo, quer algum dos ídolos modernos como dinheiro, trabalho, bens ou prazer. Como Jacó (Gn 35:4), devemos livrar-nos de todos esses deuses que não nos podem ajudar e então voltar-nos para o Senhor, aquele que nos ouve quando clamamos, nos vê a todo tempo e está conosco em toda parte. Ele merece toda a nossa adoração.

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