Salmo 137 — Análise Bíblica

Análise Bíblica de Salmo 137 




Salmo 137: Os cativos se lembram de Sião

Muitos africanos sabem o que significa ter de deixar sua amada terra natal. Em séculos passados, muitos foram capturados e deportados como escravos. Outros foram obrigados a fugir por causa de guerras que devastaram suas terras, destruíram seus lares e desintegraram a economia. Quem passou por experiências desse tipo entende bem as emoções que o salmo 137 expressa. Durante muitos anos, os profetas advertiram que Israel seria castigado, caso não se arrependesse. Em 587 a.C., conforme Jeremias e outros haviam avisado, os babilônios invadiram Judá, tomaram Jerusalém e destruíram grande parte da cidade, inclusive o templo no monte Sião. Depois de testemunhar a destruição da cidade e do centro de sua fé, o povo foi obrigado a caminhar cerca de 1.500 quilômetros até a Babilônia, onde seus captores o forçaram a se assentar. A tristeza dos judeus pelas trevas que sobrevieram à sua terra é semelhante à daqueles que viram calamidades sobrevir à sua própria família, congregação ou denominação.

137:1-6 Tristeza e recusa
Os babilônios assentaram os judeus deportados junto ao rio Quebar (Ez 1:1). O “rio” provavelmente era um grande canal de irrigação próximo da cidade de Nipur. É bem possível, portanto, que os rios da Babilônia (137:1a) fossem uma rede de canais que forneciam água para essa região árida, na qual só era possível cultivar plantações por meio da irrigação. A região também era plana e, portanto, completamente diferente dos montes que cercavam Jerusalém (125:2). Oprimidos por sua perda, os cativos dizem: Nós nos assentávamos e chorávamos. A primeira pessoa do plural indica que eles não choravam sozinhos, mas se reuniam em pequenos grupos para conversar sobre o passado e lamentar o que havia acontecido a Sião, o monte do templo (137:16). O que lhes causou mais tristeza foi a destruição da casa de Deus, o centro da vida nacional. Como cristãos, devemos ter a mesma preocupação com a igreja de Deus e chorar e lamentar quando ela é perseguida ou profanada. Os deportados não tinham vontade de entoar nem mesmo cânticos tristes. Guardaram seus instrumentos musicais e penduraram suas harpas nos galhos de árvores que cresciam junto ao rio (137:2). Não era a hora de cantar nem dançar. Era um momento de tristeza e introspecção. É uma pena que, hoje em dia, esquecemos que precisamos de momentos como esses. Por vezes, membros da igreja prosseguem com a rotina como se nada estivesse errado, quando na verdade há problemas sérios na congregação local. Ao mesmo tempo que devemos cuidar para não sermos fofoqueiros nem excessivamente exigentes, não podemos ignorar problemas sérios. Antes, precisamos lembrar que somos membros da Igreja de Cristo, a qual ele redimiu com seu sangue precioso, e devemos lamentar a destruição de nossa comunhão. Seus opressores, porém, não demonstraram nenhum remorso pelo sofrimento que causaram. Desejavam que os cativos os divertissem e pediam insensivelmente: Entoai-nos alguns dos cânticos de Sião (137:3). Não se contentavam, porém, com cânticos de arrependimento e lamentação; queriam que os cativos indefesos entoassem canções alegres. Não apenas canções alegres, mas “cânticos de Sião”, ou seja, hinos de louvores que os israelitas haviam entoado no templo cuja destruição lamentavam. A resposta dos cativos mostra que seu espírito não havia sido inteiramente subjugado, pois eles se recusaram a entoar o canto do Senhor em terra estranha (137:4). Penduraram as harpas (137:2) e não as tirarão do lugar para agradar os escarnecedores. Também não permitirão que cânticos cujo propósito é adorar a Deus sejam tratados como simples entretenimento. Até aqui, o salmista usou a primeira pessoa do plural. Agora, emprega a primeira pessoa do singular e permite que cada cantor expresse com veemência sua recusa em cantar: Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita (137:5), ou seja, que minha mão fique paralisada de modo que eu não possa mais tocar a harpa nem o tambor. Apegue-se-me a língua ao paladar (137:6), isto é, que eu fique mudo e não possa mais cantar nem falar. Essas declarações de recusa também podem ser consideradas um juramento de lealdade a Deus e a Jerusalém que sempre seriam a maior alegria.

137:7-9 Súplica por vingança
Apesar de os babilônios terem levado o povo para o exílio, o primeiro inimigo que o salmista pede para Deus castigar é Edom. O fato de essa nação ter incentivado os invasores babilônios a destruir a cidade de Jerusalém (137:7) foi particularmente ofensivo, pois os edomitas eram descendentes de Esaú, irmão de Jacó. Seus atos foram considerados o equivalente a uma traição entre parentes numa família que se desentendia com frequência, mas que ainda assim deveria ter-se unido contra os estrangeiros. O profeta Obadias também expressou seu espanto com o comportamento dos edomitas (Ob 10-14). O lindo salmo termina com um terrível pedido de vingança, enquanto o povo sofredor abençoa aqueles que farão os babilônios sentir o que seus cativos sentiram: Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra (137:8-9). A Babilônia era uma superpotência, mas seu poder não perduraria. Deus a castigaria por sua brutalidade e desumanidade. De fato, a nação foi derrubada por Ciro, rei da Pérsia (Dn 5:30-31). Como cristãos, podemos identificar-nos com as emoções da primeira metade desse salmo, mas o que fazer com os dois últimos versículos? É certo buscar vingança contra aqueles que nos perseguem e nos ridicularizam? Não. Devemos seguir o exemplo de alguns dos primeiros cristãos da África, que foram perseguidos por renunciar à religião tradicional africana na qual foram criados. Em vez de pedir que Deus destruísse seus inimigos, oraram por eles. Sua atitude corresponde ao que Cristo nos ensina nos evangelhos (Mt 5:44; Lc 23:34).

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