Salmo 132 — Análise Bíblica

Salmo 132: A arca, o templo e a promessa

O salmo 132 é outro cântico de romagem (Sl 120— 134). Focaliza três coisas extremamente importantes para a fé e o culto em Israel: a arca da aliança, o templo no monte Sião e a promessa do trono aos descendentes de Davi (2Sm 7:11-16). É possível que este salmo tenha sido escrito para comemorar a ocasião em que Davi levou a arca da aliança para Jerusalém (2Sm 6:12-15) ou para dedicação do templo de Salomão (ÍRs 8). Talvez fosse usado também em cerimônias de coroação, quando um novo descendente de Davi subia ao trono. O salmista reflete sobre o voto de Davi de construir uma casa para Deus e sobre a aliança do Senhor com Davi e seus descendentes.

132:1-9 A arca e o templo

O salmo começa com uma oração para que Deus se lembre de Davi, de todas as suas provações (132:1).

A Bíblia relata algumas dessas provações em 1 e 2Samuel, mas deve ter havido muitas outras, resultantes de enfermidades e inimigos do rei. Tendo em vista, porém, os versículos subsequentes, o salmista se refere acima de tudo às tribulações que Davi sofreu ao trabalhar incansavelmente a fim de encontrar lugar para o Senhor (132:5a).

É provável que a promessa de não entrar em seu lar nem dormir enquanto não houvesse encontrado esse lugar não deva ser interpretada de forma literal (132:3-4; cf. Pv 6:5).

Ele simplesmente prometeu que não ficaria tranquilo enquanto não cumprisse seu voto. Por certo, Davi se empenhou nessa tarefa, pois num período de quatro meses organizou duas grandes procissões para levar a arca a Jerusalém. A primeira terminou em tragédia quando Uzá foi morto (2Sm 6:1-11; lCr 13). A segunda, planejada com mais cuidado, foi bem-sucedida (2Sm 6:12-19; lCr 15), mas teve repercussões sobre o casamento de Davi (2Sm 6:16,20-23).

Davi fez seu voto ao Poderoso de Jacó (132:2, 5b), uma forma incomum de se referir a Deus. Antes desse salmo, ocorre apenas quando Jacó, à beira da morte, abençoa José (Gn 49:24). Depois desse salmo, aparece somente em Isaías. Esse nome lembra a longa história de fidelidade do Senhor ao seu povo. Durante muitos anos, o símbolo da fidelidade e presença de Deus com seu povo foi a arca da aliança. No tempo de Eli, os filisteus capturaram a arca (ISm 4), mas logo em seguida foram obrigados a devolvê-la a Israel (ISm 5— 6). Depois desses acontecimentos, a arca foi levada para uma casa em Quiriate-Jearim, onde ficou praticamente esquecida (ISm 7:1-2). No remado de Saul, não havia um centro de adoração em Israel e nenhum lugar especial para abrigar a arca (lCr 13:3). Davi estava ansioso para mudar essa situação. Seu zelo e sua determinação de obedecer a Deus devem servir de modelo para nós. Nos versículos anteriores, ouvimos a voz de Davi ao fazer seu voto. Agora, somos informados da busca pela arca esquecida. O povo não havia visto a arca, mas tinha ouvido dizer que se achava em Efrata, antigo nome de Belém, a cidade natal de Davi, ou de uma região próxima a Quiriate Jearim (lCr 4:4; 2:24,50).

Por fim, a arca foi encontrada no campo de Jaar (132:6). “Jaar” é o singular de “jearim”. Significa “bosque”, daí a expressão ser traduzida, às vezes, por “campos do bosque”. Tratava-se, portanto, de uma comunidade rural, e não de uma cidade ou santuário central. Agora que a arca está de volta ao seu devido lugar no centro de Israel, o salmista convida o povo a acompanhá-lo ante o estrado de seus pés, ou seja, diante de Deus (132:7). O louvor era parte essencial da vida de Israel, o modo pelo qual o povo expressava fé, amor e reverência a Deus. A convocação para adorar é seguida de um cântico enquanto a arca é levada com todo o cuidado ao seu lugar. As palavras do cântico formam um paralelo próximo com o discurso de Salomão na dedicação do templo (2Cr 6:41-42).

As palavras iniciais, Levanta-te, Senhor (132:8a), sãos as mesmas que Moisés proferia sempre que os levitas carregavam a arca do Senhor adiante de Israel para conduzir o povo pelo deserto (Nm 10:34-35). Em ambos os casos, a arca é identificada com a presença de Deus. A entrada da arca num edifício correspondia, portanto, à entrada de Deus naquele local. Depois de ser capturada pelos filisteus, a arca vagou de um local para outro, mas finalmente encontrou um lugar de repouso (132:86).

Esse lugar é para o Senhor e para a arca de tua fortaleza (132:8c), uma lembrança de que a arca havia de fato mostrado o poder do Senhor ao fazer o ídolo filisteu cair diante dela (ISm 5) e convencer os governantes filisteus a devolvê-la a Israel (ISm 6). Não admira, portanto, o povo desejar que esse símbolo do poder de Deus permanecesse com eles. Mas eles também lembram que a arca foi removida de seu antigo lugar em Siló devido à corrupção dos sacerdotes (ISm 3:11-13). Por isso, oram para que os sacerdotes encarregados de servir junto à arca vistam-se de justiça (132:9a), coloquem suas vestes santas e estejam preparados para ministrar na casa de Deus. Quando os sacerdotes servem corretamente e a arca se encontra no meio do povo, a congregação exulta (132:96).

Pode-se sentir o clima de regozijo ao ler as palavras desse hino. Nossa alegria deve ser igualmente intensa, pois temos o grande Sumo Sacerdote que é justo em todos os sentidos e ministra para sempre na casa de seu Pai!

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