Salmo 140 — Análise Bíblica

Salmo 140: O libertador dos oprimidos

O salmo 140 é uma sequência apropriada para 139:19, com sua oração: “Tomara, ó Deus, desses cabo dos perversos”. Aqui, somos lembrados do motivo pelo qual o salmista estava tão atento aos “homens de sangue” a ponto de eles figurarem em seu salmo de louvor. Neste salmo, ele condena seus inimigos e apela para o Deus que sabe todas as coisas a respeito deles e do salmista. É possível que Davi o tenha escrito quando Saul o perseguia. Muitos leitores de hoje, porém, podem identificar-se com suas palavras, uma vez que os cristãos são alvo de perseguição em diversas partes do mundo.

140:1-5 Meus Perseguidores 
O salmista fala francamente sobre seu adversário. Descreve-o como homem perverso e não procura nenhuma explicação ou justificativa para suas ações. Em três ocasiões nesse salmo, chama-o de homem violento (140:1,46; 11). Em várias partes da África, conhecemos pessoas assim e entendemos por que é necessário pedir a Deus que nos proteja delas. O homem perverso está sempre tramando iniquidades e vive forjando contendas (140:2). Não tem interesse em negociações pacíficas, pois se beneficia da instabilidade e das guerras. Seu discurso espalha ódio e incentiva a violência, daí ele ser tão perigoso quanto uma cobra venenosa e ter sob os lábios [...] veneno de áspide (140:3; cf. tb. Ef 4:29; 5:4; Tg 3:1-12). A essa altura do salmo, encontramos o termo Selá, usado pela última vez no salmo 89 e omitido na RA. Trata-se provavelmente de uma instrução para o leitor ou cantor fazer uma pausa a fim de que a congregação possa refletir sobre o que foi dito. Quem é o “homem violento” de nossa comunidade? Se temos a felicidade de viver em paz, há outras pessoas pelas quais devemos orar, como aquelas que estão sofrendo em Darfur ou em outras regiões e cidades assoladas pela violência. Depois da pausa, Davi volta à descrição dos ímpios e do homem violento (140:4a). Agora, porém, acrescenta uma nova característica: esses indivíduos também são soberbos (140:5). Orgulham-se de sua violência e astúcia e imaginam que suas “iniquidades” (140:2) lhes trarão vantagens sobre todo mundo. Não caçam a presa abertamente. Antes, usam cordas, redes e ciladas para pegar suas vítimas. O original traz outro Selá no final do versículo 5, convidando a uma pausa para refletir sobre essa situação menos risível, porém tão perigosa quanto a violência direta. Saul preparou várias armadilhas para Davi, mas Deus o guardou de todas elas (ISm 18:12-25). Nosso caminho também é cheio de laços, alguns preparados por inimigos humanos que desejam desabonar nosso testemunho cristão, e outros preparados pelo inimigo supremo, Satanás, com o mesmo objetivo. Não é de admirar que Jesus nos tenha ensinado a orar: “Não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6:13).

140:6-11 Minha Oração 
O poder, as táticas e planos desse “homem violento” são assustadores, pois podem facilmente ser bem-sucedidos. A primeira linha de defesa do salmista contra eles, porém, não é acumular mais poder. Ao contrário de muitos líderes modernos, ele não confia em mais armas, mais tecnologia de segurança, mais seguidores, mais conhecimento ou mais dinheiro. Sabe que nenhum desses recursos oferece segurança total. Podem mudar temporariamente o equilíbrio do poder, mas o salmista não deseja viver em conflito para sempre. Volta-se, portanto, para Deus, o único que possui poder absoluto e ilimitado: Tu és o meu Deus; acode, Senhor, à voz das minhas súplicas (140:6). Sabe que Deus é a força da [sua] salvação e o protetor supremo quando estamos em perigo (140:7; cf. Ef 6:10-17). O salmista não ora desse modo apenas porque teme perder a própria vida. Preocupa-se ainda que, se Deus conceder ao ímpio os seus desejos, ele se tomará arrogante (140:8). Seus adversários já são soberbos (140:5) e se tornarão ainda mais presunçosos e pretensiosos. No final do versículo 8, outro Selá no original nos convida a fazer mais uma pausa e refletir sobre nossa necessidade de depender de Deus. Na segunda metade de sua oração, o salmista profere imprecações com as quais os cristãos, chamados a amar e orar por seus inimigos, podem ter dificuldade de se identificar. É importante lembrar que, em síntese, ele pede para que os perversos caiam em suas próprias armadilhas. Usaram a língua para criar confusão (140:3); podem acabar descobrindo que, na verdade, causaram problemas para si mesmos (140:9). Prepararam covas e armadilhas para os outros (140:5); que sejam lançados em abismos (140:106). Procuraram causar tragédias aos outros (140:2,5); que eles próprios sofram calamidades (140:11). Como diz o povo hausa da Nigéria: In za ka haka ramin mugunta, haka ta gajere (“Se você planeja fazer o mal contra alguém, reduza seu plano, pois no final talvez você mesmo acabe sofrendo”). O salmista também pede a destruição de seus inimigos. Os “abismos” em 140:10 podem referir-se não apenas às covas profundas preparadas por caçadores, mas também à sepultura ignóbil dos perversos. O salmista deseja que Deus lance sobre eles brasas vivas (140:10a). Essa imagem é usada com frequência para o julgamento divino sobre o mal, como vemos na destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 19:24-25) e dos israelitas desobedientes no deserto (Nm 11:1; 26:10). Davi pede que Deus julgue todos os perversos.

140:12-13 Minha Confiança 
Nos dois últimos versículos, o salmista reafirma sua fé e confiança no Senhor. Seus opressores não triunfarão. O Senhor providenciará para que a justiça prevaleça e não abandonará o necessitado (140:12). Assim, os justos renderão graças ao teu nome; os retos habitarão na tua presença (140:13). o Senhor tomará conta de tudo, e daremos graças a ele.

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