Salmo 145 — Análise Bíblica

Salmo 145: A grandeza de Deus

O salmo 145 é um cântico magnífico de louvor a Deus. Como o salmo 119 e vários outros salmos, é um acróstico no qual cada versículo começa com uma letra do alfabeto hebraico. Um motivo de perplexidade para os estudiosos durante longo tempo foi o fato de o acróstico parecer pular uma das letras do alfabeto. O mistério foi resolvido com a descoberta dos papiros do mar Morto, que inclui uma cópia desse salmo com um versículo começando com a letra ausente. Daí 145:13 ser bem mais longo nas traduções realizadas ou revisadas após a descoberta dos papiros.

145:1-7 A grandeza e a reputação de Deus No salmo anterior, o salmista louvou a Deus como seu libertador pessoal: “Quem livra da espada maligna a Davi, seu servo” (144:10). Agora ele amplia a abrangência de seu louvor para abarcar a grandeza e o cuidado universal de Deus. Apesar de esse salmo ser pessoal, como fica evidente pelo uso da primeira pessoa do singular em 145:1-2, muitas gerações se juntaram ao salmista para louvar a Deus (145:4a). A determinação de Davi de louvar a Deus é expressa na conjugação verbal dos dois primeiros versículos, apesar de podermos perguntar como ele pretende louvar a Deus para todo o sempre, expressão que ocorre duas vezes nesses dois primeiros versículos. O objetivo não é fazer uma asserção exagerada, mas demonstrar fidelidade ao louvar o Senhor todos os dias (145:1-2). Por que Deus merece ser louvado para sempre? De acordo com o salmista, porque ninguém pode sondar sua grandeza (145:3). Uma vez que sua grandeza é infinita, o louvor também não deve ter fim. Deus demonstrou essa grandeza em suas obras. Cada geração deve passar à geração seguinte a memória desses poderosos feitos (145:46), que incluem a criação, a liberta­ção de Israel do Egito, a proteção de seu povo e a escolha de Jerusalém como lugar para seu templo. Temos ainda mais motivos para louvar a Deus, pois sabemos o que ele fez ao enviar seu Filho para morrer a fim de nos dar a salvação eterna (Jo 3:16; Ef 1:7-8). Essa é a boa notícia que devemos passar de geração em geração. É interessante observar a interação entre o indivíduo e o grupo em 145:5-7. Muitos falarão do poder dos feitos de Deus e divulgarão a memória da sua bondade. O salmista, por sua vez, meditará nessas coisas e contará a grandeza do Senhor e, sem dúvida, estará entre aqueles que com júbilo celebrarão sua justiça (145:7). Semelhantemente, quando adoramos e louvamos a Deus e falamos sobre o que ele fez, outros devem ser incentivados a conhecê-lo melhor e a juntar-se a nós para proclamá-lo a quem ainda não o conhece.


145:8-10 A bondade de Deus. A descrição de Deus como benigno e misericordioso [...], tardio em irar-se e de grande clemência (145:8-9) é semelhante à descrição que Deus faz de si mesmo em Êxodo 34:6-7 em resposta ao pedido de Moisés para ver a glória de Deus (cf. tb. Nm 14:18; 2Cr 30:9; Ne 9:17,31-32; Sl 86:15; 103:8; J1 2:13; Jn 4:2). Essas características são a glória de Deus e, na revelação a Moisés, também são chamadas de “nome” de Deus. Devemos louvá-lo por sua bondade e porque ele é misericordioso e fiel; e, como seus filhos, devemos demonstrar as mesmas características. Uma vez que o Senhor é bom para todos, devemos cuidar de outras pessoas sem favoritismo e, tendo em vista que suas temas misericórdias permeiam todas as suas obras, também devemos cuidar dos animais e do ambiente que faz parte da criação de Deus a nós confiada. Diante do cuidado de Deus por tudo o que ele fez, não é de surpreender que todas as suas obras o louvem. Os santos, o povo que Deus escolheu, devem louvá-lo de maneira especial e falar dele a outros (145:10).


145:11-13a O reino de Deus Aqueles que verdadeiramente louvam a Deus desejam que outros saibam como seu reino é muito maior que qualquer reino humano. O termo “reino” ocorre três vezes nesses três versículos (145:ll-13a). E um reino de glória e majestade, governado por um rei de grande poder. Acima de tudo, porém, seu reino é o de todos os séculos, ou seja, é eterno. Não se pode dizer o mesmo de nenhum reino terreno. Os impérios egípcio, assírio, babilônico, persa, grego, romano e britânico foram poderosos e gloriosos em suas respectivas épocas. O mesmo se aplica aos impérios mali, songhai e benin, ao reino baganda de Uganda e a muitos outros reinos na África. Todos eles, porém, foram extintos. O reino de Deus permanece. O universo todo é seu império. 145:136-16 A providência de Deus Governantes e políticos são conhecidos por quebrarem suas promessas. Deus é diferente. Ele é fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras. (145:136). Alguns governantes humanos desprezam seus súditos ou se preocupam apenas com seus parentes, homens fortes que podem ajudá-los a obter poder, e com seus exércitos. O rei divino, porém, cuida dos mais fracos dentre seus súditos: O Senhor sustém os que vacilam e apara todos os prostrados (145:14). Os “prostrados” podem estar encurvados sob o peso da opressão, mas esse Rei não é opressor. Expressa seu cuidado de forma prática na maneira com que provê ao povo o alimento de que ele precisa (145:15). Não são rações parcas, pois quem as supre afirmou: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome” (Jo 6:35). O salmista pode louvar a Deus, portanto, porque o Senhor satisfaz de benevolência a todo vivente (145:16). Deus provê até para os animais e aves. Com um Rei assim, não admira orarmos: “Venha o teu reino” (Mt 6:10)


145:17-21 A justiça benigna de Deus O reino de Deus será justo, daí o salmista enfatizar: Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras (145:17). Este salmo destaca repetidamente a abrangência do domínio de Deus pelo uso de “todos(as)”. Nesses quatro versículos, o termo ocorre quatro vezes: todos os seus caminhos [...] todas as suas obras [...] todos os que o invocam [...] todos os que o amam (145:18-20). Nesses contextos, Deus é justo, benigno, está perto, acode e guarda. As únicas pessoas que precisam temê-lo são os perversos, ou seja, aqueles que se opõem ao seu governo e oprimem os fracos. Esses serão destruídos (145:20), mas aqueles que procuram servir e andar com Deus recebem seu cuidado fiel. No versículo final, o salmista volta ao ponto de partida em 145:1. Ele acompanhará todas as criaturas no louvor ao nome santo de Deus para todo o sempre (145:21)


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