Salmo 144 — Análise Bíblica

Salmo 144: Preservação e paz 

Parte do conteúdo é emprestado de outros salmos que o autor adaptou para usar neste cântico novo. O cântico louva a Deus por preservar um soldado e conceder prosperidade à nação. Também podemos cantar ao Senhor ao refletir sobre sua bondade ao nos preservar e suprir todas as nossas necessidades.

144:1-10 Louvor pela vitória
De acordo com o título, o autor desse salmo é Davi, que aqui fala como guerreiro, e não como pastor ou fugitivo. Talvez nos espantemos com as palavras: Bendito seja o Senhor, rocha minha, que me adestra as mãos para a batalha e os dedos, para a guerra (144:1; cf. tb. 18:34). Não são coisas pelas quais costumamos louvar a Deus. Precisamos lembrar, porém, que esse salmo foi escrito numa época em que Israel estava sob a ameaça de vários inimigos. Foi preciso travar diversas batalhas para preservar a nação. Aqui, um indivíduo agradece a Deus por lhe dar forças para lutar e sobreviver. Nem todos somos convocados para lutar em batalhas físicas. Na verdade, somos chamados a ser pacificadores e procurar viver em paz com todos (Mt 5:9; Rm 12:1-18). Ainda assim, todos nós enfrentamos batalhas espirituais (2Co 10:4-5). Precisamos que Deus nos treine e nos fortaleça para que possamos fazer bom uso das armas e da armadura espiritual que ele nos fornece (Ef 6:10-18). Deus não apenas dá mãos e dedos fortes para o guerreiro empunhar a espada ou atirar flechas, como também provê um lugar seguro onde ele pode lutar e no qual pode abrigar-se. O autor apresenta, portanto, uma série de metáforas para descrever o Senhor: rocha minha [...], fortaleza minha, meu alto refúgio e meu libertador, meu escudo (144:2). Davi emprega as mesmas metáforas em Salmos 18:2, que escreveu logo depois de Deus o livrar de Saul e seus inimigos. Muitas vezes, os governantes confiam em seus guarda-costas e seguranças. A nação confia em exércitos fortes e armas avançadas. Precisamos lembrar, contudo, que Deus oferece a melhor proteção. Muitas vezes, o rei ou guerreiro poderoso que venceu uma batalha exagera sua própria importância. E um alívio, portanto, ouvir o salmista citar Salmos 8:4 e expressar admiração diante do fato de Deus se interessar pelos seres humanos (144:3). Admite que, apesar de toda a sua força aparente, a vida é como um sopro [...] como a sombra que passa. Está aqui por apenas um momento e depois desaparece (144:4; cf. tb. 39:5-6; 62:9; 102:11). Apesar de nossa insignificância, Deus cuida de nós (Mt 6:25-32). Temos aqui um contraste e tanto entre nossa vida, tão frágil quanto um sopro, e a grande visão do Deus que abaixa [...] os teus céus e desce; toca os montes, e fumegarão (144:5)! O salmista talvez tenha em mente a primeira aparição de Deus a seu povo no monte Sinai (Êx 19; cf. tb. Sl 18:14; 104:32). Que chance os inimigos humanos têm contra esse Deus poderoso que controla as forças da natureza? Sem dúvida, eles serão dispersados (144:6; cf. tb. 18:14). Esse Deus pode livrar com facilidade de uma tempestade aqueles a quem ama, por mais altas que sejam as águas (144:7; cf. tb. 18:16). O salmista pede, portanto, que o Senhor o socorra e o livre de seus inimigos, que são como enchentes ameaçando levá-lo embora. Os inimigos são traiçoeiros, pois sua boca profere mentiras. Mesmo quando levantam a mão direita para fazer um juramento solene, não são dignos de confiança, pois sua direita é [...] de falsidade (144:8). O salmista diz que seus adversários são estranhos (144:7), mas não devemos usar esse versículo para inferir que todos os estrangeiros são mentirosos e hostis, como alguns pensam, às vezes, quando ondas de xenofobia varrem partes da África. Alegre porque Deus o livrou no passado e continuará a fazê-lo no futuro, o salmista dá início a um cântico de louvor acompanhado do saltério de dez cordas (144:9). Davi era um músico habilidoso que, pelo visto, tocava saltério e harpa, dois instrumentos de cordas (ISm 16:18). Usa esse dom concedido por Deus para louvar aquele que dá aos reis a vitória e livra da espada maligna a Davi, seu servo 144:10)

144:11-15 Perspectiva de paz
O salmista refaz sua súplica para ser salvo dos mesmos inimigos descritos em 144:7b-8 (144:11). Em seguida, reflete sobre como seria viver em tempos de paz. Os jovens que representam o futuro de sua nação teriam a oportunidade de amadurecer. Os rapazes não morreriam nem seriam mutilados nas guerras, mas permaneceriam fortes como plantas viçosas. As moças teriam uma postura reta e elegante, lavradas como colunas de palácio (144:12). Como os rapazes, não levariam as marcas do sofrimento e privação. Abençoadas com a paz de Deus, as crianças de Israel chegariam à idade adulta e contribuiriam orgulhosamente para o bem-estar, crescimento e desenvolvimento da nação. Uma visão e tanto para as crianças da África, muitas das quais têm a vida abreviada pela pobreza, fome e guerra! Precisamos orar pela paz de Deus, para que a África se encha de jovens saudáveis, instruídos e com bom comportamento. Então, nosso continente será forte como um homem com a aljava cheia de flechas (127:3-5). Em tempos de paz, a nação também desfruta prosperidade material. A economia não se esgota com os custos de manter um exército grande, e os campos não são destruídos por soldados ou abandonados porque não é mais seguro cultivá-los. Os celeiros ficam atulhados de toda sorte de provisões (144:13). Os rebanhos se multiplicam a milhares e a dezenas de milhares de ovelhas. As ovelhas eram uma das medidas de riqueza no antigo Israel, como é o gado em algumas regiões da África. A frase que as nossas vacas andem pejadas (144:14a) denota a saúde e a prosperidade dos rebanhos de gado. Essa parte do versículo também pode ser traduzida por: “Para que os nossos bois sejam fortes para o trabalho” (RC). Nesse caso, a imagem é de bois que puxam carros repletos de uvas, azeitonas, centeio e outros produtos agrícolas. Quando houver paz, terminarão os pesadelos de invasores que rompem as defesas da cidade e levam o povo cativo, deixando apenas alguns sobreviventes a lamentar pelas ruas (144:14). É possível que o texto hebraico se refira ainda à ausência de calamidades nacionais. Todos nós ansiamos pela visão de paz que o salmista apresenta aqui. Não é de admirar que ele exclame: Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor (144:15; cf. tb. 33:12). Nenhuma nação pode alcançar a prosperidade que esses versículos descrevem se não andar com retidão e justiça diante de Deus. Pelo contrário, o povo sofre em vários países por falta de bons governos. A corrupção é desenfreada, até mesmo entre nossos líderes. Pobres, viúvas, crianças e órfãos são esquecidos. Os estrangeiros sofrem abusos e não recebem seus direitos. Muitos líderes se preocupam apenas consigo mesmos, e não com o povo que governam. Somos lembrados diariamente de que “a justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos” (Pv 14:34)

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