Salmo 141 — Análise Bíblica
Salmo 141: Oração urgente por socorro
Como os três salmos anteriores, o salmo 141 combina louvores a Deus com súplicas por proteção contra o mal. O salmista tem duas grandes necessidades: vitória sobre as tentações que o cercam e livramento das armadilhas que os ímpios prepararam para ele. Uma vez que temos essas mesmas necessidades, Jesus nos instruiu a orar: “Não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6:13).141:1-2 A natureza da oração
Nos últimos versículos do salmo anterior (140:12-13), o salmista expressou sua confiança na vitória de Deus sobre os iníquos. Em 141:1, clama ao Senhor: Dá-te pressa. Não deseja, porém, que sua oração seja apenas uma súplica desesperada. Quer expressar também sua adoração. Compara-a, portanto, ao incenso, a substância de aroma adocicado que era queimada no templo como símbolo de adoração a Deus (Êx 30:7-8). No NT, o incenso simboliza “as orações dos santos” (Ap 5:8). Usando uma metáfora correlativa, o salmista diz: Seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina (141:2; Êx 29:38-43). Tanto o incenso quanto o sacrifício vespertino eram oferecidos diariamente. Nossa adoração e comunhão com Deus devem ter a mesma regularidade (Hb 13:15).
141:3-5b Protege minha boca e meu coração
O salmista pediu que Deus ouvisse sua voz (141:1). Sabe, contudo, que não usa sua voz apenas para se dirigir a Deus, mas também para fins que não honram ao Senhor. Tiago trata do mesmo problema ao falar sobre a língua: “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim” (Tg 3:9-10). Como nós, muitas vezes o salmista não planeja fazer o mal. Há ocasiões em que fala sem pensar. Só depois que as palavras saíram de sua boca, ele percebe que são falsas ou ofensivas. Ciente de como é difícil controlar a língua (Tg 3:8), pede: Põe guarda, Senhor , à minha boca; vigia a porta dos meus lábios (141:3). Devemos seguir seu exemplo e orar para que, a cada dia, todas as nossas palavras sejam motivo de alegria, e não de desonra, para Deus (cf. tb. Sl 34:13; Pv 13:3; 21:23; Mt 12:34-37). A boca pode ser difícil de controlar, mas não fala de forma independente de nosso ser interior. Como Jesus nos lembra: “0 homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6:45-46). O salmista ora, portanto, a respeito do seu coração, ou seja, de sua mente e vontade (141:4). Não deseja ser atraído pelo mal. Sabe que essa atração o afastará de amigos piedosos e o levará a andar na companhia de homens que são malfeitores. Ele não quer ser levado a compartilhar de seus prazeres e presença, de modo que pede forças para não comer das suas iguarias. Um ditado hausa da Nigéria expressa a mesma verdade: Wanda ya ci kayan kuturu, shi zai yi masa aski (“Aquele que comer ou aceitar o presente de um leproso será aquele que raspará sua cabeça”). Uma vez que desenvolvemos amizade íntima com outras pessoas, sua influência sobre nós é inevitável. Diante da escolha entre iguarias e golpes, normalmente preferiríamos as primeiras. 0 salmista reconhece, porém, que as iguarias são oferecidas pelos perversos (141:4) e que os golpes vêm do justo (141:5a). Sabe qual grupo de pessoas se preocupa verdadeiramente com seu bem-estar no longo prazo. O justo o disciplina como uma mãe ou um pai amoroso disciplina um filho (Hb 12:4-6). Pode, portanto, aceitar o golpe do justo como uma mercê e comparar sua repreensão à honra de ser ungido com óleo. O salmista demonstra humildade ao reconhecer sua tendência de pecar ou ser atraído para o pecado e sua disposição em aceitar a disciplina. Devemos ter a mesma humildade em nossos relacionamentos dentro da igreja.
141:56-10 Oração contra os malfeitores
Até aqui, o salmista orou para Deus preservá-lo de pecar com a boca, os pensamentos e os desejos. Agora, muda o foco e diz: Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade (141:5). Ressalta o fato de que o julgamento inevitável sobrevirá aos ímpios. A declaração Os seus juízes serão precipitados penha abaixo não precisa ser entendida de forma literal. Significa que eles serão removidos de seus cargos elevados onde se sentiam seguros. Seus seguidores reconhecerão que as palavras daquele que se recusou a acompanhá-los eram agradáveis (ou “verdadeiras”, cf. NVI, nota) (141:6). A mudança da sorte de Saul mostra a veracidade dessa asserção. Foi rei de Israel e considerou Davi seu arqui-inimigo, mas depois de sua morte a nação buscou a liderança de Davi, filho de Jessé (2Sm 5:1-3). O significado da referência aos ossos espalhados em 141:7 não é claro. Talvez indique o que acontecerá aos ímpios. Deixar um corpo insepulto era considerado uma desgraça terrível e, portanto, seria um castigo apropriado para a perversidade. Para alguns comentaristas, porém, esse versículo indica que os justos sofreram nas mãos dos ímpios, como os sacerdotes de Nobe, nas mãos de Saul (ISm 22:6-19). Associam essa referência aos ossos com o versículo seguinte, no qual o salmista pede a proteção de Deus e diz: Não desampares a minha alma (141:8). E possível que ele esteja à beira da morte e seus inimigos talvez até acreditem tê-lo matado, mas Deus ainda pode trazê-lo de volta à vida, pois é capaz de vivificar até ossos secos (Ez 37:1-14). Não obstante qual interpretação de 141:7 consideremos correta, a mensagem geral do salmista é clara. Ele pediu para não ser tentado a acompanhar os perversos (141:4) e agora pede que não o apanhem em suas armadilhas (141:9) . Usa a imagem de caçadores que escondem laços e armadilhas com cuidado para pegar um animal. O salmista suplica, portanto, para que Deus o ajude a permanecer incólume (141:106). Hoje em dia, ao pedir proteção, podemos usar a imagem de minas terrestres em vez de armadilhas ao longo do caminho. O salmista ora ainda para que os perversos que estão tentando pegá-lo caiam [...] nas suas próprias redes (141:10a). Foi o que aconteceu com Saul, que teve inveja de Davi, o comandante mais competente de seu exército, e preparou armadilhas, obrigando-o a fugir. Como resultado, porém, quando os filisteus se reagruparam e atacaram, teve de enfrentá-los sem a ajuda de Davi. Saul temeu ser derrubado por Davi, mas no final foi derrubado justamente pelos inimigos que Davi poderia tê-lo ajudado a derrotar.
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