Estudo sobre Filipenses 4:21-23

Filipenses 4:21-23


Assim como a carta moderna, a carta antiga também termina com saudações. Inicialmente o próprio Paulo envia saudações. É verdade que a carta será lida na reunião da igreja perante todos. Mas para Paulo é importante que cada pessoa se sinta realmente saudada e que mesmo aqueles santos que – talvez escravos ou enfermos – não puderam estar presente por ocasião da leitura da carta recebam os votos. Por algum motivo Paulo enfatiza especialmente nesta carta o “todos” e “cada” (cf. acima, p. 180). Na sua exortação de Fp 2.2 ele pede: tornem perfeita minha alegria por vocês, estabelecendo a unanimidade plena entre vocês; se isso acontece, é porque devem ter havido dificuldades nesse ponto, sem que já houvesse diferenças “dogmáticas” mais profundas, que realmente não podem ser constatadas na presente carta. Mesmo as tensões entre duas mulheres muito ativas na igreja não devem ter permanecido limitadas a elas pessoalmente. Com quanta facilidade isso poderia gerar pensamentos de ciúme e desconfiança até mesmo em relação à comunhão com o apóstolo! Por isso Paulo pretende dizer mais uma vez no final: nenhuma pessoa na igreja está excluída de meu amor, de minhas lembranças e de minhas saudações. Cada um, como “santo em Cristo Jesus”, é precioso e importante para mim. Expressem isso também pelo fato de não privar ninguém de minha saudação!

Apesar do endurecimento de sua prisão Paulo tem a possibilidade de estar pessoalmente junto de irmãos. Sob essa perspectiva o tão enaltecido “avanço” no “humanismo” do tratamento com os detentos torna-se de fato bastante questionável. O cuidado material pode ter melhorado muito. No entanto, no aspecto realmente “humano” as coisas se tornam cada vez mais difíceis para os prisioneiros. Consideremos: um homem que está envolvido em um processo político de vida e morte pode escrever longas cartas que nem mesmo são censuradas, e pode receber continuamente amigos e colaboradores! Hoje um prisioneiro precisa se contentar quando uma vez por mês tem permissão de escrever um número limitado de palavras cuidadosamente escolhidas! Aqueles que no momento estão com ele enviam saudações.

Contudo também “todos os santos”, ou seja, toda a igreja local, com os quais o apóstolo igualmente ainda pode manter relacionamentos intensos, saúdam os filipenses. Entre eles estão “principalmente os da casa do imperador”. O uso contemporâneo amplamente documentado assegura que aqui não se tinha em mente membros da família imperial, mas “empregados da corte do imperador”, que eram predominantemente escravos, além de alforriados. Tais “escravos imperiais” não existiam apenas em Roma, mas em todo o Império Romano. Há provas de que em Éfeso existiam “associações” de tais escravos de César. Consequentemente eles também podem ter existido em Filipos, uma colônia militar romana. No entanto a saudação muito especial dos empregados da corte com os quais o apóstolo preso está ligado não se deve ao fato de saberem da existência de companheiros de classe em Filipos. Nesse caso certamente haveria uma referência mais explícita. Tampouco devemos supor outras razões desconhecidas por trás desta saudação, de cunho pessoal. “Cristãos – e com certeza verdadeiros cristãos! – no palácio e na corte de alguém como Nero!” – isso com certeza fazia com que os filipenses prestassem máxima atenção com gratidão, alegria e temor! Portanto o evangelho encontrara um caminho até mesmo para esse lugar! “Santos”, pessoas que são propriedade de Jesus e servem ao Deus verdadeiro e vivo, existem até na corte de César! Contudo, que dificuldade eles devem ter enfrentado! Justamente eles carecem muito da irmandade e da intercessão sustentadora das igrejas! É tudo isso que depreendemos do adendo: “principalmente os da casa de César”. Alegrai-vos com os milagres do poder de Jesus, que até mesmo aqui resgatou pessoas do pecado e da existência mortífera! Porém, não se esqueçam de nós, orem por nós, para que continuemos guardados em Cristo!


Paulo gostava de acrescentar uma saudação final de próprio punho às cartas que ditava (p. ex., Gl 6.11; Cl 4.18; 2Ts 3.17). Aqui ele não faz isso de forma expressa. Mas o voto “A graça do Senhor Jesus Cristo com vosso espírito!” pode ter sido escrito por ele mesmo no final da carta.

A palavra “espírito” ocorre para designar o ser humano interior propriamente dito. Contudo é empregada por Paulo especialmente em vista do cristão, no qual o Espírito de Deus separou a vida interior do âmbito meramente “psíquico”. Apenas agora o ser humano possui realmente um “espírito”. Mas também esse espírito, ao qual o Espírito de Deus atesta a condição de filho (Rm 8.16), carece permanentemente da “graça” de Jesus. Também os amados em Filipos só são “santos” “em Cristo Jesus”. Não existe um estado cristão “autônomo”, dissociado de Jesus. Viver integralmente da graça de Jesus é que perfaz o cristão pleno. Por essa razão esse último voto do apóstolo sintetiza tudo o que no final das contas se pode desejar a cristãos. Ainda assim é mais que um “desejo”! Ele, que é o “Senhor”, Jesus-Javé, Jesus, o Cristo, ele, diante de quem se dobrarão todos os joelhos no universo, ele é clemente com os filipenses. “A minha graça te basta”, disse Jesus a Paulo quando passava por grande tribulação. Por isso, tudo o que a carta tinha a dizer à igreja pode, em suma, descansar na certeza de que: “A graça do Senhor Jesus Cristo com vosso espírito!”