Estudo sobre Filipenses 2:1-2
Filipenses 2:1-2
A tradução deverá reproduzir justamente aqui o ímpeto lapidar das afirmações de Paulo, para que possamos ouvir esse conhecido trecho de forma nova e estejamos abertos para as possíveis diferentes interpretações em termos gramaticais.
Paulo empenha-se pela unidade, pela unidade plena e profunda da igreja. Para nossa vergonha nosso cristianismo tão dividido e dilacerado precisa perceber a grande intensidade com que Paulo se preocupava com a unidade real da igreja, vivida aqui e agora. Para ele, a “una e santa igreja” não era apenas “objeto da fé”! Ele não visualizava o fundamento dessa unidade na “unidade da doutrina” nem a considerava sensivelmente ameaçada por diferenças no entendimento. Na presente passagem não se dá a menor atenção a essa questão. O que decide o fundamento da unidade ou a ameaça contra ela são coisas bem diferentes. A história da igreja evangélica, quando apoiada na “doutrina”, evidenciou que essa maneira só leva a novos cismas, justamente porque nosso entendimento é “fragmentário” e por isso incompleto, e logo também diferente em todos nós. Sem dúvida o phronein aparece no centro deste bloco, definindo a unidade real da igreja: “que penseis a mesma coisa” e novamente “tendo o mesmo pensamento” (v. 2). Phronein certamente significa “pensar”, mas como o v. 5 mostra com peculiar clareza, não se tem em vista o “pensamento” teórico do teólogo, mas o pensar prático, subordinado ao querer, o “considerar que…”, a “mentalidade”. Trata-se do phronein de Jesus Cristo, que neste caso não é o raciocínio doutrinário, com o qual o eterno Filho de Deus sem dúvida poderia ter apresentado uma imagem condizente de todas as coisas. Aqui se trata do “pensamento” que conduziu o Filho de Deus do trono da glória para a vergonha da morte na cruz! Na unidade desse “pensar”, e não na unidade do conhecimento e da doutrina, é que reside a sólida e indestrutível unidade da igreja. Se todos “pensarem” da maneira como Jesus Cristo também pensou, como ele morreu por pecadores, não poderão se separar, hão de apegar-se aos irmãos.
Também neste caso Paulo é coerente com a linha básica de sua “ética evangélica”: antes de agir e realizar precisamos receber! Contudo, do receber resultará também um agir definido e resoluto que usa o que recebeu: “Se há.., se há…, então…!”
À igreja foi presenteada “exortação em Cristo”. O termo grego aqui, paraklesis, que conhecemos a partir do nome Paracleto e que descreve o Espírito Santo como “auxílio”, “advogado”, “consolador”, tem um significado básico semelhante ao termo seguinte, traduzido como “consolação”, “conselho”. Esse “conselho” pode servir para encorajar e exortar ou para erguer e consolar. Por isso há diversos estudiosos que traduzem a presente passagem de maneira justamente inversa: “Se há, pois, consolo em Cristo, se há palavra encorajadora de amor…”
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No entanto, não é cabível pensar em termos “morais” diante da “exortação em Cristo”, nem em termos “sentimentais” diante da “consolação do amor”. Na igreja acontece a palavra de asseveração enraizada “em Cristo” e que, por isso, não permanece vazia, mas possui força para moldar; existe também a palavra para levantar, que vem do amor divino e por isso propicia ajuda eficaz. Além disso a igreja possui “comunhão do Espírito”. Isso não representa a comunhão entre eles no Espírito Santo, mas a “participação no Espírito”. O Espírito de Deus habita na igreja e cria nela sua obra. Visto que, porém, aquilo que o Cristo, o amor divino e o Espírito Santo nos concedem de fato se torna nossa propriedade pessoal, a própria igreja também possui “afetuosidade e misericórdia”. Como já vimos antes em Fp 1.8, mais uma vez fica explícito que a irmandade em uma igreja evidentemente não se limita a “sentimentos”, mas tampouco se resume apenas em atividades de ajuda e frias ações. Certamente as “entranhas” precisam ser movidas, e a aflição exterior e interior do irmão precisa despertar uma compaixão viva. No entanto, isso acontece na igreja!
A igreja recebeu tudo isso. Quando ela não despreza este presente nem o torna inócuo, mas o utiliza e vive dele, ela fortalece e preserva sua unidade. Paulo alegra-se com essa rica vida eclesial. Mas justamente pelo fato de terem tudo isso, ele pede: “Tornai plena para mim a alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, concordes, considerando uma só coisa.” Como é maravilhoso que aqui, na aparente vinculação com o próprio eu, se expresse justamente todo o amor não-egoísta! Paulo pede para si e para sua alegria aquilo que é, antes de tudo, um ganho bem específico dos filipenses. Mas justamente ao formular assim o pedido ele confere uma delicadeza inimitável à sua exortação, livrando-a de qualquer conotação que insinue intromissão de fora e de cima para baixo. Tudo o que foi dado à igreja coopera para a unidade dela, mas apesar disso a unidade ainda precisa ser especialmente buscada e preservada contra todas as perturbações. Com que facilidade somos divididos por aquilo em que fixamos nosso pensamento. Até mesmo o amor pode ser diferente em cada pessoa, ter intensidades diversas e uma clarividência distinta (cf. Fp 1.9s). Por isso Paulo se esforça por encarecer os componentes da unidade com múltiplas formulações.
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Filipenses 2:1-2