Estudo sobre Filipenses 4
V ENCORAJAMENTO, GRATIDÃO E SAUDAÇÕES FINAIS (4.1-23)
1) O segredo da harmonia (4.1-5)
v. 1. Portanto [...] permaneçam assim firmes no Senhor,
as palavras remetem à perspectiva desenvolvida em 3.20,21 e, na
certeza daquele triunfo final, encorajam à perseverança inabalável; no
Senhor, isto é, envoltos no seu poder e controlados pela sua
autoridade. De forma muito carinhosa, Paulo repete o seu anseio por eles e
o amor expressos em 1.8 e 2.12 e diz o que os filipenses serão
para ele no retorno do Senhor. Eles são a sua alegria agora,
especialmente se observarem a sua súplica em 2.2, mas então o serão
em medida completa, a minha coroa (stephanos, a coroa de
flores na vitória dos jogos, ou coroa de mérito ou de alegria festiva; cf.
lTs 2.19: “coroa em que nos gloriamos”). Então, antes de tocar em um
ponto sensível nas questões internas dos filipenses, ele lhes assegura,
por meio da expressão ó amados, que o bem-estar deles é vital para
ele. Evódia e Síntique, duas mulheres, são solicitadas a
viverem em harmonia no Senhor (v. 2). O fato de cada uma ser
solicitada individualmente indica que as duas precisavam desse conselho. E
o fato de terem se tornado notáveis na luta pela causa do
evangelho torna a sua discórdia tanto mais deplorável e prejudicial
aos outros. Cada uma é lembrada da sua verdadeira esfera no
Senhor e que toda discussão termina quando há submissão à vontade
dele. Esse é o segredo da harmonia. Fazem muito bem os que ajudam e
não atrapalham na reconciliação dos que se desentenderam. A identidade do leal
companheiro de jugo (v. 3) não é revelada. Entre as conjecturas
feitas, a que deve ser preferida como a mais óbvia é a que alude a
Epafrodito (assim Lightfoot), e nesse caso a expressão leal
companheiro de jugo sintetiza de forma adequada os títulos de 2.25. Se
pudéssemos defender o ponto de vista de que a carta foi escrita em
Efeso, o companheiro de jugo (syzigos) bem que poderia ser
Lucas; outra possibilidade é que syzigos tenha sido um nome próprio (cf.
n.r. da NVI: “Sízigo”). pois lutaram ao meu lado (synathleõ, como
em 1.27): eles compartilharam a labuta e as provações do trabalho de Paulo no
evangelho. Se ele olha para trás em relação a isso, vê um Clemente
e outros que também compartilharam o seu trabalho com ele, mas ele
não pode parar agora para citar os seus nomes, porém descansa no
fato de que todos estão no livro da vida (cf. Is 4.3; Ml 3.16;
Lc 10.20; At 13.48). Nesse registro de família no céu, eles são conhecidos
e apreciados (v. comentário de Ap 3.5). Três coisas ajudam a manter a
harmonia, i.e., alegrar-se no Senhor, mostrar amabilidade a todos e
lembrar a presença do Senhor (v. 4,5). amabilidade: grego epieikes,
“dar preferência a”, ou “doce moderação” (assim Matthew Arnold). v.
5. Perto está o Senhor, isso poderia ser uma referência à sua
segunda vinda, mas aqui parece indicar sua proximidade presente, para
nos acalmar e encorajar.
2) O segredo da paz (4.6-9)
O caminho da paz não é ficar ansioso (v. 6); isso não significa ser
negligente, mas livre das tensões que tão facilmente se transformam
em desconfiança, e significa levar todos os pedidos a Deus, pela oração
(proseuchê, oração marcada pela devoção) e súplicas (deêsis,
oração nos seus detalhes pessoais), e com ações de graças, pois a
apreciação pelas misericórdias passadas conduz à confiança nas futuras.
A própria vida de oração de Paulo mencionada em 1.3-5 é um excelente
exemplo aqui. A fortaleza da paz é garantida pela paz de Deus, que
ele nos dá e que excede todo o entendimento, transcendendo a nossa
capacidade mental de compreender e apreciar as coisas (v. 7). Isso guardará
(phroureõ, montar guarda, proteger) o coração e a mente de vocês
em Cristo Jesus, como se eles estivessem na morada da paz. A
disciplina da paz flui naturalmente da idéia da fortaleza. Finalmente,
com relação a toda a ocupação da mente vem o lembrete de que não se
preserva a paz interior por meio do nutrimento dos pensamentos com o que
é prejudicial, tudo o que for verdadeiro [...] nobre (digno de
respeito) [...] correto [...] puro [...] amável
(agradável) [...] de boa fama (de boa reputação) e, no sentido
mais amplo, tudo em que houver algo de excelente (moralmente) ou
digno de louvor, isso e somente isso é adequado para a mente dos filipenses
(v. 8). Mentes disciplinadas vão encontrar o caminho da vida diária,
exposto no ensino e na prática do próprio Paulo, e nesse caminho vão
experimentar a realidade da presença de Deus, de quem procede toda a paz.
Assim, tanto a primeira quanto a segunda seções desse capítulo
concluem com a maravilha da companhia divina.
3) O segredo do contentamento (4.1020)
Depois de derramar o seu coração com respeito às necessidades
espirituais deles, particularmente com respeito à sua falta
de unidade, Paulo finalmente se sente à vontade para expressar a sua
gratidão sincera pelas ofertas que Epafrodito lhe havia trazido. Ele
reservou isso para o fim a fim de que a parte final da sua carta pudesse
tratar do elo que existia entre eles e que foi confirmado de forma
tão intensa pela generosidade dos filipenses. v. 10. Alegro-me
grandemente no Senhor, não por motivos egoístas, mas porque finalmente
vocês renovaram o seu interesse por mim {anathallõ, brotar ou
florescer de novo como uma árvore), vendo nisso a bondade de Deus. A
preocupação que os filipenses tinham por ele não havia mudado, mas
estava precisando de uma oportunidade adequada, assim como a
árvore espera pela primavera. Ele não se queixa de nenhuma
necessidade financeira. Aliás, não há ocorrência nas Escrituras de que nos
dias apostólicos algum servo de Cristo tenha divulgado as suas
necessidades a alguém, a não ser ao Senhor. aprendi (T pessoa; no
gr., o “eu” é explícito, portanto enfático) a adaptar-me a toda e
qualquer circunstância (“viver contente em toda e qualquer situação”,
ARA; autarkês, independente de circunstâncias exteriores, usado,
e.g., com relação a uma cidade que não precisa importar nada e é,
portanto, auto-suficiente). Isso não é indiferença estóica à
prosperidade ou adversidade, mas a segurança provida pelo segredo do
contentamento que ele vai revelar agora. Ele sabe o que é passar
necessidade, ser rebaixado pela humilhação das necessidades, e sabe o
que é terfartura, tendo mais do que o suficiente para as necessidades
presentes (v. 12). O [eu] sei repetido indica que os anos foram
ricos de lições em ambos os sentidos, e, além disso, ele não só
conhece essas experiências, mas também sabe triunfar nelas, como fica
evidente com respeito às necessidades expressas em 2Co 6.10. v. 12. Aprendi
o segredo-, myeõ, somente aqui no NT, é o termo técnico para iniciação
nos mistérios gregos, assim, mais amplamente, permitir o conhecimento de um
mistério. O que está oculto (é um mistério) para o homem natural está
aberto à fé no poder de Cristo. Ele está preparado para toda e qualquer
situação, não sendo vítima delas, mas vitorioso sobre elas. E o
segredo é simplesmente este: Tudo posso naquele que me fortalece
(v. 13). Ao habitar em Cristo, cujo poder capacitador usado na
transformação dos seus na segunda vinda foi visto em 3.21, Paulo encontra
nele a capacitação para o triunfo em todas as circunstâncias presentes.
Mesmo que seja em humilhação, ao ser rebaixado, ele é fortalecido por
aquele que conheceu a degradação, tendo se humilhado a si mesmo (cf. tapeinoõ em
2.8 e 4.12). A sua suficiência em Cristo de forma nenhuma deprecia a
bondade deles, e ele fala da oferta deles como do compartilhamento nas suas
dificuldades (v. 14). Essa é a verdadeira atitude que deveria caracterizar
toda oferta, não a satisfação de necessidades, mas uma parceria de serviço, e
aqui na verdade dos sofrimentos dele. Com muita gratidão, ele os
lembra de que nos seus primeiros dias no evangelho, quando pela
primeira vez tinham ouvido e sido abençoados por essa boa notícia, e
ele tinha partido da sua província, somente eles entre as igrejas tinham
dado esse tipo de resposta a ele (v. 15). Aliás, antes de partir da
província deles, enquanto ainda estava em Tessalônica (cf. At
17.1-9), duas vezes eles lhe haviam enviado grande ajuda (v. 16). E o
valor que ele vê na oferta deles é muito maior do que os benefícios
diretamente dirigidos a ele. E algo que pode ser creditado na conta de
vocês (v. 17), “a colheita de bênçãos que está se acumulando na
conta de vocês” (A. S. Way, The Letters of St. Paul, in loc.).
Por parte dele, a sua conta está suprida, pois ele diz: Recebi tudo (apechõ,
de uso constante nos papiros com o sentido de “recebi” como uma expressão
técnica na hora de emitir um recibo). Mas o maior valor das ofertas
deles foi o que elas significaram para Deus, um aroma suave, um
sacrifício aceitável e agradável a Deus (v. 18), a verdadeira
reação ao amor de Cristo ao se dar a si mesmo por eles “como oferta e
sacrifício de aroma agradável a Deus” (Ef 5.2). Em virtude de
terem honrado a Deus ao se envolver no suprimento das necessidades do
servo do Senhor, Deus vai honrá-los suprindo-os em todas as
suas necessidades.
v. 19. O meu Deus: uma expressão usada sete vezes por Paulo (cf.
1.3), o Deus cuja fidelidade e poder ele experimentou de forma tão
verdadeira, suprirá todas as necessidades de vocês, e isso numa
escala ampliada e magnífica, de acordo com as suas gloriosas riquezas
em Cristo Jesus. Por isso não a eles, não a ele, mas ao seu Deus
e Pai toda a glória precisa ser dada para todo o sempre
(v. 20).
4) Adeus (4.21-23)
E agora os rostos deles surgem diante de Paulo, amados em virtude da
sua comunhão com eles, mas ainda mais amados porque eles estão em
Cristo Jesus, e ele envia a todos as suas saudações e as dos irmãos
que estão com ele (v. 21). Estes não são chamados pelos nomes, mas de
coração cheio Epafrodito vai poder falar deles todos. Aí ele repassa as
saudações de todos os crentes, i.e., em Roma, e especialmente os que
estão no palácio de César (v. 22) — um termo que inclui os
membros do serviço civil do império, seja em Roma, seja nas
províncias. Segue uma última palavra, desejando a eles a graça do Senhor
Jesus Cristo (v. 23), a graça manifesta de maneira tão
maravilhosa em 2.5-8, a graça daquele que, mesmo sendo rico, por causa
deles se tornou pobre.