Estudo sobre 1 Coríntios 11:1-2

1 Coríntios 11:1-2

Estudo sobre 1 Coríntios 11:1-2 A primeira e sucinta frase do capítulo 11 deve ser colocada aqui como encerramento de toda a análise: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” Justamente porque todo o comportamento coloca em jogo a execução concreta de uma determinada “atitude”, o cristão precisa do “exemplo” vivo. Ao alpinista sem treino pouco adiantam livros e instruções gerais. Passo a passo e movimento por movimento ele precisa poder “imitar” o guia experiente, aprendendo assim a superar pessoalmente a tarefa.242

Paulo não solicita: “Sede imitadores de Cristo” diretamente aos cristãos de Corinto. Isso é digno de nota para nós, que rapidamente apelamos à imitatio Christi, à “imitação de Cristo”. Nesse caso Paulo, portanto, considerou necessário algo como um “trabalho de tradução” que mostrasse aos cristãos das outras nações como se configura hoje o caminho de Jesus numa cidade grega. Paulo realizava essa “tradução” em sua própria vida.

Pessoalmente, porém, ele é “imitador do Cristo”. Paulo não esclarece em maiores detalhes como ele mesmo entende isso. Mas podemos depreender de Fp 2.5ss como ele entendia o “exemplo” de Jesus. Não se trata de uma “imitação” artificial de Jesus, não de uma adaptação a palavras ou atos isolados dele. Isso tão somente produziria uma caricatura. Pelo contrário, trata-se da “mente do Cristo”, que nós “temos” pelo Espírito Santo (1Co 2.16), aquela mentalidade básica que não visa reter nada como uma usurpação, mas que pode se “despojar” e assumir a “forma de servo”, a fim de servir aos outros e ajudá-los a alcançar a salvação. A “imitação do Cristo” não é nada diferente do que aquilo que Paulo já expusera aos coríntios em 1Co 4.9-13, em 1Co 8.13, em 1Co 9.19-22 e agora em 1Co 11.1.


Da questão sobre o consumo de carne num mundo gentio Paulo se volta para outra questão específica que evidentemente mexia com os ânimos em Corinto. Já em 1Co 7 sentíamos que na igreja, sobretudo em alguns grupos de mulheres, havia um anseio de se desprender dos vínculos matrimoniais e se esquivar dos deveres conjugais. O próprio Paulo havia dito enfaticamente em sua proclamação: “Dessarte, não pode mais haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). Será que isso não significava também a equiparação de homem e mulher em termos práticos? Sendo cristã, a mulher não devia obter a “liberdade” plena que lhe havia sido negada até então? Atitudes íntimas se manifestam em comportamentos concretos específicos. Ao orar e profetizar243 as mulheres em Corinto tiravam o pano que cobria sua cabeça244 na reunião da igreja; queriam ser tão “livres” como o homem. Portanto, no caso não se tratava de mera questão exterior, sobre a qual nem sequer valia a pena discutir. Paulo sabe porque aborda essa questão da cabeça coberta de forma tão exaustiva. E percebemos porque o trecho, com suas frases inicialmente bastante estranhas e incompreensíveis, também merece nossa atenção.

Paulo nos surpreende no começo e no final da presente passagem com a importância que atribui a “tradições” e “costumes”. Outras considerações precisam silenciar diante do costume nas igrejas de Deus (v. 16). E no começo consta o elogio de que “em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei”. Paulo não apagou simplesmente seu passado judaico e fariseu quando se tornou cristão. A partir das comunidades judaicas dispersas pelo mundo ele sabe do poder de preservação que o costume homogêneo pode ter (por mais que ao mesmo tempo significasse um duro obstáculo para o evangelho). E ele sabe que justamente para a vida de fé é imprescindível receber e transmitir “tradições”. Ainda nos depararemos com isso seriamente em 1Co 11.23 e 1Co 15.3. Os próprios coríntios devem ter salientado na carta dirigida a Paulo que “retêm” as ordens que seu apóstolo lhes transmitira desde o começo. Justamente por isso solicitam agora seu conselho na questão que eclodiu, se uma esposa – é disso que se trata em todo o trecho – pode orar e profetizar sem véu ou não.


Notas:
243 Sobre o “profetizar” como dom espiritual especial, cf. o e exposto acerca de 1Co 14, p. 224. De forma alguma ele é apenas ou primordialmente uma comunicação sobre o futuro, mas de fato o falar autorizado sob a condução do Espírito de Deus.

244 No tempo de Paulo a mulher grega usava ou não um véu, conforme a moda. Em contrapartida, para a mulher judaica vigorava a exigência de cobrir o cabelo fora de casa. Judias muito rigorosas cobriam a cabeça até mesmo dentro de casa. Ao que parece, Paulo fez prevalecer esse costume também nas comunidades cristãs. Ele fazia parte das “tradições” que ele também “entregou” aos coríntios. Acontece que agora as mulheres gregas da igreja se rebelam contra isso. Paulo está sendo interpelado quanto ao que tem a dizer a esse respeito.

242 Cf. o comentário a 1Co 4.16, acima, p. 94.