Estudo sobre 1 Coríntios 4:16-17
1 Coríntios 4:16-17
Ao severo “advertir” segue o parakalein, o “aconselhar” ou “incentivar”. “Exorto-vos, pois: sede meus imitadores” [teb]. Paulo reitera isso em 1Co 11.1 e declara igualmente aos filipenses (Fp 3.17), aos gálatas (Gl 4.12) e com vistas aos tessalonicenses (1Ts 1.6). Pessoas renascidas não se encontram mais sob a lei. Não se deve dar-lhes, como na instrução rabínica, uma multidão de preceitos específicos, aos quais tenham de seguir. Porém, de acordo com quem hão de conduzir-se em sua nova vida? De acordo com pessoas vivas que lhes servem de exemplo na vida de fé! Também nisso têm a liberdade de ser “filhos” que “imitam” espontaneamente os pais, crescendo assim na vida correta.
Contudo, não é tão fácil fazê-lo à distância. A igreja precisava do exemplo vivo e presente. “Justamente por isso vos enviei Timóteo” [tradução do autor]. Talvez Paulo tenha optado pela forma verbal passada “eu vos enviei Timóteo” porque o autor de uma carta na Antiguidade escreve colocando-se no lugar destinatário que lê a carta. Quando a carta de Paulo for lida na reunião da igreja em Corinto, então Paulo já “terá enviado” Timóteo. De fato a situação deve ter sido que, ao ser redigida a carta, Timóteo já partira, para inicialmente realizar serviços nas igrejas da Macedônia (At 19.22). Por esse desvio ele chega em Corinto, alcançando essa cidade somente algum tempo depois da chegada da carta. Por essa razão ele também não assina a carta junto com Paulo.
No entanto, os coríntios não devem pensar que o jovem Timóteo seja um substituto precário do próprio Paulo, mas devem sentir no envio dele todo o amor preocupado de seu apóstolo. Por isso Paulo recomenda Timóteo com uma cordialidade muito cálida, como “seu filho amado e fiel (ou: crente) no Senhor”.127
Com Timóteo os coríntios obtêm um ponto de orientação vivo. “O qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja.” A expressão “caminho” exerce um papel tão grande no incipiente cristianismo quanto o termo relacionado “andar”. O cristianismo pode ser designado como “esse caminho” (cf. At 9.2; 22.4; 24.14; 24.22). As expressões “caminho” e “andar” revelam que o cristianismo não consiste na posse tranquila de uma certa “doutrina”, mas em “andar” um “caminho” determinado, num movimento persistente durante toda a vida, o qual pode tornar-se uma apaixonada “corrida” (Fp 3.14). Um modelo de fé torna os “caminhos” do “andar” reto muito claros. Uma igreja que se tornou insegura e está desunida pode ser “lembrada” da existência deles. Nesse processo o “ensino” também pode ter um lugar importante. O contexto revela que Paulo não entendia por “ensino” aquilo que nós hoje entendemos, a saber, uma espécie de “dogmática”, mas antes aquilo que nós hoje chamamos de “ética”. É o “ensino sobre os caminhos”, os quais cabe ao cristão, à igreja de Jesus trilhar. Paulo pensa na verdadeira e concreta configuração da vida nas mais diversas áreas. No presente local ele não contempla tanto o que já escrevera aos coríntios sobre o “caminho” certo da vida eclesial. Depara-se acima de tudo com a pergunta sobre a qual precisa falar à igreja nos capítulos subsequentes. O presente trecho forma a transição do primeiro grande tema, a “mensagem da cruz e discurso de sabedoria”, para os múltiplos problemas e dificuldades que pretende abordar na seqüência.128
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“Exemplo” e “ensino” estão estreitamente ligados. O bom exemplo carece de uma explicação num ensino, e o ensino tem de ser concretizado no exemplo.129 Esse “ensino”, essa “orientação do caminho”, é o mesmo “em cada igreja”, por mais diferente que seja a realidade nas diversas regiões e localidades. Apesar de toda a autonomia que cada igreja possuía naquele tempo, havia nisso um laço firme de unidade. Nas cartas de Paulo não se percebe nada de uma “igreja geral”, da instituição de instâncias superiores em grandes ligas de igrejas. Evidentemente não dava nenhuma importância a isso.130 Obviamente, porém, todas as igrejas somente poderão seguir o mesmo “caminho”, que corresponde ao “caminho” do próprio apóstolo. Esses caminhos são seus “caminhos em Cristo Jesus”. Paulo não os concebeu pessoalmente. O próprio Jesus é o verdadeiro “caminho” (Jo 14.6). “Nele” situam-se todos os caminhos que o apóstolo percorre e para os quais conclama incansavelmente a todas as igrejas. Por isso é capaz de afirmar num momento posterior de sua carta: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1).
Índice:
1 Coríntios 4:16-17
Notas:
127 Fornecem orientação sobre Timóteo os textos de At 16.1s; 17.14; 2Co 1.19; Fp 2.19-23. Timóteo foi um colaborador repetidamente aprovado. Na carta aos Filipenses (Fp 2.20), muito posterior, Paulo chega a declarar com mais ênfase: “Porque a ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses.” Quanto pode representar a conversão de um único jovem para a causa do Senhor!
128 Por muito tempo esse sentido de “ensino” no NT ficou bem esquecido justamente nas igrejas da Reforma. Por isso não havia nelas um “andar” cristão claro de acordo com o “exemplo” do Novo Testamento, mas o cristão simplesmente acompanhava na vida real o “caminho” da decência burguesa e religiosa. Por isso é bom que essa “cristandade” burguesa tenha praticamente desaparecido nos dias de hoje. Ser um “cristão” está se tornando outra vez algo especial e único. E o “cristão” precisa indagar de forma nova como, afinal, lhe cabe viver de fato neste mundo, ainda que corra o risco de defrontar-se com muitas incompreensões quanto à sua “loucura”. É tarefa essencial da igreja de Jesus mostrar concretamente o “caminho” em Jesus Cristo no mundo de hoje a seus membros.
129 Isso não difere de qualquer arte prática. Para uma escalada nas montanhas é possível e necessário ensinar e aprender muitas coisas. Porém somente alcança o topo da montanha quem seguir o guia, passo a passo e movimento por movimento.
130 Somente naquele grupo de irmãos que trouxe a grande coleta das igrejas gentias para a primeira igreja em Jerusalém poderia ser visto o início de uma instância assim.