Estudo sobre 1 Coríntios 4:6-7
1 Coríntios 4:6-7
“Expus essas coisas, irmãos, na forma de uma reflexão sobre mim mesmo e Apolo” [tradução do autor], literalmente: “Adaptei essas coisas a mim mesmo e Apolo.” O próprio Paulo informa que nas exposições precedentes ele partiu não apenas em 1Co 3.4 do grupo de Paulo e do grupo de Apolo, mas que em tudo que escreveu sempre teve em vista Apolo e a si mesmo. Sobretudo o “nos” em 1Co 4.1ss tem este sentido concreto: avaliem-nos assim, Apolo e a mim. Percebe-se que agimos corretamente ao captar precisamente também o último versículo do bloco anterior como afirmações concretas numa situação bem determinada, não como exortação geral. Alguns de vocês elogiam Paulo, os outros exaltam Apolo, deixem disso! Somente Deus, no seu dia, concederá a Apolo e a mim o verdadeiro louvor. Paulo falou de si e de Apolo, não por vaidade ou insinuação pessoal, mas “por vossa causa”. Os coríntios, portanto, deviam aprender algo muito essencial com seu mensageiro. Como deve ter sido límpido e fraterno o relacionamento entre os dois homens, para que Paulo pudesse colocá-lo como exemplo para a igreja, “a fim de que aprendais de nós” [tradução do autor]! O que os coríntios deviam aprender dos dois mensageiros? Paulo o formula de modo muito estranho e inicialmente pouco compreensível para nós. Os coríntios deviam aprender o que significa: “não além do que está escrito”. O que “está escrito” apareceu diversas vezes (1Co 1.19; 1.31; 2.9; 2.16; 3.19s). Para Paulo a palavra da Escritura, a palavra do AT, sempre se revestia de importância. Até o momento não havíamos ouvido que os coríntios tenham acolhido isso com certa indisposição, por quererem estar “além da Bíblia”. Porém na realidade soubemos muito pouco das condições em Corinto. Seja como for, precisamos concluir dessa observação de Paulo que em Corinto “circulava” o mote: “Para além da Escritura!” Ele combina com o lema “sabedoria!” ou: “Tudo me é lícito!” ou: “Não há ressurreição dos mortos!” Combina com todo o ciumento gloriar-se e digladiar-se em Corinto. Para Paulo (e evidentemente também para Apolo) a “cruz do Cristo” estava no centro da Escritura. Quem, porém, deixar essa cruz para trás, a fim de se alçar para novos ápices de “sabedoria” própria, com facilidade também considerará tolice ater-se às antigas Escrituras. Será que o “Espírito” não proporcionava novos e melhores conhecimentos?
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No entanto, esse desprender-se da mensagem originária, fundamentada na Escritura, resultou naquela deterioração prática da igreja, flagrante a todos: que alguém “se ensoberbece a favor de um em detrimento do outro”. O artigo definido demonstra que também Paulo está pensando concretamente em Apolo como o “um” e em si como o “outro”. As frases “Eu sou de Paulo, eu de Apolo” não sedimentam a tranquila e cálida gratidão por esses homens, mas a paixão do ciúme e da contenda, com a qual cada um queria deixar prevalecer somente o “seu homem”, rebaixando todo o resto. Sim, essa “soberba” se ampliava muito mais. Os adeptos dos diversos grupos também consideravam a si mesmos como pessoas singularmente proeminentes, justamente por pertencer a esse ou aquele homem.115
Tão profundas já são as divisões em toda a vida eclesial. Por isso Paulo se dirige agora também a todos os membros da igreja com a pergunta: “Quem é que te faz sobressair?” Será que tua suposta superioridade sobre os demais não existe apenas em tua imaginação? E se agora puderes apontar para verdadeiras “excelências” e “dons”, se teu grupo de fato “tiver” algo especial, afinal “que tens tu que não tenhas recebido?” Pois na verdade não o adquiriste por ti mesmo, e tampouco teu mestre o tem de si mesmo. “E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se não o tiveras recebido?” Nesse ponto se mostra novamente o ser humano que já não levanta mais o olhar para Deus e que exalta unicamente a ele. Tão perigosas tornaram-se as divisões.116
Índice:
1 Coríntios 4:6-7
Notas:
115 Isso já estava expresso na formulação: “fazer consistir sua glória em pessoas” (1Co 3.21). Ao gloriar-se em pessoas tornamo-nos grandes e importantes para nós mesmos.
116 Como é grande esse perigo também entre nós! Por um lado afirmamos incessantemente que todo poder e eficácia somente podem ser dados por Deus, por outro exaltamos e admiramos muitas vezes os pregadores importantes e evangelistas eficazes, os fundadores de igrejas e obras (e às vezes secretamente também a nós mesmos), como se no fundo fossem eles mesmos que realizaram tudo. Desse modo privamos Deus da honra e colocamos em perigo precisamente aqueles aos quais nos apegamos de modo errado!