Estudo sobre 1 Coríntios 4:5
1 Coríntios 4:5
O que, porém, deve ser feito por parte da igreja? Não podemos evitar que formemos nossas próprias impressões e opiniões sobre o comportamento de outros e de nós mesmos. Nem Paulo consegue evitar a reflexão sobre seu serviço e a constatação que não está consciente de nada. Porém uma coisa ele afasta de si, e essa também os coríntios devem rejeitar seriamente, a saber, que disso se forme um “juízo” definitivo sobre alguma coisa. Este será pronunciado somente pelo Senhor, quando vier. Unicamente ele pode emiti-lo, porque somente ele é capaz de “iluminar o que está escondido nas trevas” e “pôr de manifesto os desígnios dos corações” [teb]. É uma verdade apenas restrita que o “espírito da pessoa que está nele” saiba “acerca das coisas do ser humano” (1Co 2.11). Somos vítimas de grandes ilusões. Muito menos somos capazes de olhar para dentro do coração de outra pessoa e reconhecer seus verdadeiros “desígnios”. Quantas coisas sobre nós, humanos, jazem envoltas por trevas impenetráveis. Disso resulta com absoluta seriedade um comportamento como o que Paulo recomenda aos coríntios: “Portanto, nada julgueis antes do tempo.” Para nós é uma grande libertação quando compreendemos que não somos capazes de “julgar” e que não precisamos fazê-lo. Realmente podemos deixar o juízo sobre nós e outros por conta do Senhor.
Entretanto, não é terrível pensar no juízo desse Senhor? Não há de ser horrível quando Jesus “iluminar o que está escondido nas trevas” e “puser de manifesto os desígnios dos corações”? É admirável como também agora Paulo torna a pensar positivamente. Ele não conclui: “e então cada um receberá a vergonhosa sentença da parte de Deus”, mas antevê com alegria: “E então cada um receberá o louvor da parte de Deus.” Por mais grave e inexorável que seja o santo “não” de Deus, isto é, a ira de Deus “contra toda impiedade e perversão dos homens” (Rm 1.18), Deus não é um Deus que “tenha prazer na morte do perverso” (Ez 18.23), e que – como nós – condena, humilha e castiga com certa alegria. Sem dúvida, as colaborações imprestáveis para a construção da igreja precisarão e hão de “queimar” (1Co 3.15), e isso acarreta sofrimento. Contudo, a verdadeira vontade de Deus é “recompensar” e “elogiar”. Uma pessoa como Paulo não vislumbra como o Senhor colocará sob sua luz e arrasará os que agora são admirados e elogiados pelos coríntios. Pelo contrário, o que ele vê diante de si é como então Deus presenteará “cada um” – até mesmo os que não são reconhecidos mas criticados pelos coríntios – com seu louvor.
Em todo esse bloco cumpre levar em conta que ele é parte de uma carta que fala sobre uma situação muito concreta. Não devemos tirar as frases de Paulo do contexto, tornando-as princípios doutrinários gerais. É benéfico que coloquemos ao lado da exortação de 1Co 4.5 frases como 2Co 11.13-15; Gl 1.6-9; Fp 1.17; 3.18s; Rm 16.17s. Aqui o próprio Paulo “julga” com muita determinação, desafiando também as igrejas a um juízo atento e resoluto. Como devemos compreender essa contradição? Na presente carta está em questão o elogio e a exaltação precipitada de novos líderes em Corinto, cujo método e cuja atuação Paulo vê com preocupação, sem adiantar na presente carta uma sentença final. Presenciamos que por um lado Paulo adverte contra o juízo do dia de Jesus Cristo, mas por outro não arroga esse juízo para si. E está em questão a penosa visão equivocada de sua pessoa, de seu trabalho, de toda a sua atitude. Para esse aspecto aponta todo o presente trecho.
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Algo bem diferente ocorre, porém, quando estão em jogo a proclamação e seu conteúdo, ou seja, o “fundamento” da igreja como tal. O evangelho é uma grandeza clara e inequívoca. Quem o altera e deturpa com certeza precisa ser “banido”, i. é, afastado da igreja. Pois nesse caso na verdade estão em jogo vida e morte de seres humanos, cuja redenção não deve ser arriscada mediante uma mensagem falsa.
Diferente é também a situação em que se evidencia claramente a improbidade e o egoísmo dos “trabalhadores” na igreja. Também nesse caso não é possível nem lícito encobrir e deixar passar mediante recurso a 1Co 4.5. Uma frase bíblica correta no momento errado pode provocar uma grande desgraça, tornando-nos culpados. Paulo resiste energicamente a mensageiros não autênticos, a “maus obreiros” (Fp 3.2). Também a igreja precisa resistir a eles. Ainda assim, o que o presente bloco declara persiste como uma verdade que em hipótese alguma deve ser esquecida. Por ser um fato que todos os mensageiros e pregadores são “servos” e “administradores”, eles estão sujeitos, em última e definitiva instância, apenas ao juízo de seu Senhor. Até mesmo quando nós, em responsabilidade pela igreja, temos de rejeitar manifestos hereges e mensageiros evidentemente não autênticos e afastá-los da igreja, cumpre levarmos em conta que não nós, mas somente o Senhor penetra nas trevas de sua vida com sua luz que a tudo ilumina, conhecendo de fato as intenções de seus corações. E até mesmo quando temos plena razão de nos alegrar com homens e mulheres no serviço a Jesus, não podemos deixar de lado a recordação de que o Senhor talvez os veja de um modo diferente e mais crítico do que nós. De qualquer forma nos é vedado o juízo sobre nós mesmos, seja de orgulho, seja de desânimo.
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1 Coríntios 4:5