Estudo sobre 1 Coríntios 4:18-21
1 Coríntios 4:18-21
O envio de Timóteo imediatamente reforça em “alguns” a impressão que eles já tinham antes: “Ora, imaginando que eu não voltaria a estar convosco, alguns de vocês se incharam de orgulho” [teb]. Paulo não tem mais coragem de vir pessoalmente, ele sabe que sua função em nosso meio acabou. A expressão “incharam-se” revela que não se tratava de uma constatação de lástima, mas de triunfo: “Paulo não vem mais pessoalmente para Corinto.” Notamos como a rejeição a Paulo, bem como o esforço de desvincular a igreja completamente dele, era séria entre “alguns”. Sempre haverá esses “alguns” (ou também no singular: “alguém”, cf. já em 1Co 3.18). Paulo não cita nenhum nome. Porém teremos de buscar esses seus adversários tanto no “partido de Cristo” (cf. acima, p. 43s) quanto também entre aqueles que colocavam Pedro, João, Tiago como os “verdadeiros” e “grandes” apóstolos acima do duvidoso Paulo (cf. 2Co 10.2; 10.11; 11.5).
No entanto, seus adversários em Corinto estão enganados. O envio de Timóteo não visa substituir sua própria visita, mas apenas prepará-la. “Mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser.” Paulo não é o Senhor de suas viagens;131 ele é “servo”, sujeito à vontade de seu Senhor. Por isso tampouco pode assumir um compromisso por iniciativa própria. Porém os coríntios, quer amigos, quer adversários, devem saber que de sua parte ele gostaria de estar rapidamente com eles e que não teme visitá-los. Então ele “conhecerá” seus adversários. Esse termo sempre possui uma conotação substancial para um israelita. Afinal, ele é a expressão hebraica para a comunhão máxima entre homem e mulher (Gn 4.1). Precisamente por isso o “conhecer” de Paulo não ficará impressionado com “o discurso dos ensoberbecidos”, com palavras fortes ou profundas, mas testará o “poder” por trás da “palavra” deles.132
Paulo conhece a importância decisiva da “palavra”, ocasionalmente tratando a “palavra” como uma grandeza autônoma com energia vital própria, p. ex., em 2Ts 3.1. Contudo ele sabe igualmente que existem “meras palavras” sem “poder” e sem “Espírito Santo” (1Ts 1.5), que não têm valor. Conhece a palavra determinada pela “sabedoria”, que leva a descaminhos e também carece “do poder de Deus para a salvação”. Por isso ele passa a cunhar a afirmação que entrementes se tornou famosa, tendo em mente os novos mestres em Corinto e seus sistemas e constelações de palavras: “Porque o reino de Deus (consiste) não em palavra, mas em poder.” No caso de Paulo, essas frases vigorosas nunca representam o resultado de estudos dogmáticos, mas crescem a partir da situação e aflição existentes. Então, porém, externam verdades que valem para todos os tempos e nos propõem fatos essenciais. Também nesse caso teremos de observar uma junção inseparável. Toda a “palavra” sem “poder” não tem nada a ver com o “reino de Deus”.133 Onde Deus governa como rei não pode haver meras palavras e pensamentos, ali acontece algo, ali o poder de Deus opera. Mas não pode ser esquecido que o “poder” como tal ainda não é sinal seguro do “reino de Deus”. É precisamente apenas na “fraqueza de Deus” na cruz e na louca “palavra da cruz” que o poder de Deus se torna eficaz como salvador. “Poder” não deve ser separado da “palavra”. Nesse sentido Paulo definitivamente não deseja ver em seus adversários “feitos de poder” que eles eventualmente possam ostentar. Porém tem o objetivo e a certeza de descobrir se os coríntios apenas se entusiasmam com seus discursos ou se sua palavra é palavra salvadora que conduz à vida.
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Ele pensa antecipadamente sobre sua visita. Como essa visita transcorrerá? Numa frase sucinta e com uma metáfora breve Paulo já diz o que será elaborado de modo exaustivo no final da segunda carta aos Coríntios: “Devo ir a vocês com vara, ou com amor e espírito de mansidão?” [NVI]. Os próprios coríntios determinarão como será. Ele certamente não recorre com satisfação à “vara” para ir contra seus “filhos amados”. Prefere muito antes ir com “amor e espírito de mansidão”. Mas isso não depende dele. Se os coríntios o forçarem, ele também saberá disciplinar.
Índice:
1 Coríntios 4:18-21
Notas:
131 Cf. o exposto sobre 1Co 16.5ss e cf. Rm 1.10; 15.32; 1Ts 3.11.
132 Paulo está empregando – como também em 1Co 1.5 – a expressão logos (“palavra”) para “discurso”.
133 Paulo não faz uso demasiadamente frequente dessa expressão em suas cartas. Quando, porém, a emprega, ela tem importância fundamental e abrangente para ele. Cf. Rm 14.17; 1Co 6.9; 15; Gl 5.21; Cl 4.11; Ef 5.5; 1Ts 2.12; 1Ts 1.5.