Estudo sobre Apocalipse 21:15-17

Estudo sobre Apocalipse 21:15-17




Em Ap 11.1,2 o próprio João deveria tirar as medidas, a saber, de um templo que justamente não existe naquele momento. Lá sua medição também atendeu a outra finalidade. Ele recebeu a garantia de que o que fosse medido seria isento da destruição vindoura. No presente trecho, porém, de certo modo uma nova construção é “conferida”. Dessa maneira demonstra-se ao profeta que não falta nada, que tudo está bem feito e correto, como previsto pelos planos e pelas promessas de Deus. É esse também o sentido da medição em Ez 40.3,5 (cf. nota 448).

O v. 16 refere-se ao formato da cidade. A cidade é quadrangular (“projetada como um quadrado”), de comprimento e largura iguais. Também em Ez 45.2; 48.16 o quadrado, por ser equilátero era importante, sendo considerado na Antiguidade como símbolo da perfeição.

Agora, porém, acrescenta-se algo revelado expressamente apenas pela medição, de sorte que a medição pelo anjo equivale a uma revelação. O seu comprimento, largura e altura são iguais. A cidade é um cubo. Reaparece a relação com o Templo, porque conforme 1Rs 6.20; 2Cr 3.8 o santíssimo no Templo de Salomão apresentava forma de dado. Assim como o quadrado representa a superfície perfeita, assim o cubo, o espaço perfeito.

Essa informação por si já rompe com nossa concepção do traçado de uma cidade. Além disso, imaginemos as medidas referidas: E mediu a cidade com a vara até doze mil estádios. Esse “Santíssimo” possui arestas gigantescas de mais de 2.200 km,1064 ou seja, mais do que a distância entre São Paulo e Aracaju. Em comparação, a Babilônia, a cidade tão admirada na Antiguidade por causa de suas dimensões, era minúscula. São expressas, pois, medidas que excedem de longe as cifras experimentadas pelos leitores daquele tempo. Além disso, esse comprimento também deve ser aplicado à altura. Nela a maior montanha da terra, o Himalaia, desaparece mais de duzentas e quarenta vezes.

Como nos demais números do livro, não cabe calcular esses números de forma literal, mas sim senti-los. Sobre a nova terra encontra-se esse imenso cubo de luz, um verdadeiro cosmos de glória e santidade. No AT o santíssimo era escuro (1Rs 8.12; Êx 20.21). Por dentro era incrustado de ouro puro, mas por fora estava encoberto por uma cortina impenetrável. Contudo, depois que a cortina se rasgou (Mt 27.51), o mundo inteiro vê a salvação de Deus e tem participação na sua comunhão.

Todas as dimensões são regidas pelo número doze. Assim, preserva-se novamente a correlação com a história de Deus no âmbito da antiga humanidade. O início diminuto, muitas vezes com aparência de pequena seita, atingiu amplitude mundial. Do grão de mostarda, que é a menor de todas as sementes, formou-se a árvore dos mundos (Mt 13.32).


É medida também a altura do muro, totalizando 70 metros.1065 Mediu também a sua muralha, cento e quarenta e quatro côvados. Comparada com os 2.200 km de altura da cidade, essa medida é extremamente baixa, como se emoldurássemos a base de uma alta torre de igreja com um friso de rodapé. Por que esse muro teria, conforme o v. 12, uma altura impressionante? Lutero e outros explicam que a medição desse muro se referiria à sua espessura (cf. nvi, blh, bv), ao passo que sua altura coincidiria com a do cubo. Contudo, dessa maneira a concepção do muro é transformada numa parede cúbica, o que dificilmente poderia ter sido a ideia de João. Provavelmente será melhor que não nos deixemos desviar, pela altura da cidade, da impressão que a altura de um muro de 70 metros causa não só numa pessoa da Antiguidade, mas também sobre a pessoa de hoje.

Muito se tentou decifrar a informação sucinta de que os números são indicados segundo a medida de um ser humano, que é a medida usada por um anjo. Talvez não resida nenhum sentido mais profundo nessa circunstância. A medida utilizada pelo anjo é igual ao côvado, conforme o usam as pessoas. Ele fundiu dados inconcebíveis em conceitos humanos. O mesmo vale, em seu sentido, para as informações seguintes.



Notas:

448 Em Ez a medição do templo implica uma promessa de uma futura execução de construção. Onde se realizam trabalhos de medição deverão acontecer obras. Aqui, porém, evidencia-se que um templo existente naquele tempo devia ser medido. Portanto, Ez 40–43 combina melhor com Ap 21.15, onde João primeiro é arrebatado como Ezequiel e depois vê, assim como Ezequiel, um anjo medindo a Jerusalém futura, mais precisamente com uma “vara de ouro”. Em sentido análogo deve-se entender Zc 2.5-9.

1064 Dificilmente a intenção é que se pense nesse dado como o contorno total da cidade (contra Stokmann, Frey, Billerbeck).

1065 Volta a ser essencial para esse dado o número doze contido nele; cf. Ap 7.4.