Estudo sobre Hebreus 13:11-16
Estudo sobre Hebreus 13:11-16
A igreja possui um altar, sobre o qual foi ofertado o sacrifício perfeito: a cruz de Jesus.456 Os fiéis são partícipes dele. Quem se nega a crer em Deus e sua palavra não sabe nada do poder fortalecedor e nutriente que possui a morte de Jesus.457 Por isto, os membros da igreja não podem ter comunhão com pessoas que rejeitam a Jesus Cristo. A ordem do AT sobre a prática do sacrifício era tão somente ato simbólico e continha a referência direta ao caminho sacrificial de Jesus até a cruz. O sangue do animal sacrificado, que tinha de morrer no grande dia da reconciliação para expiar todos os pecados de Israel, era levado ao Santíssimo (Hb 9.11,12). O corpo do animal era queimado fora do acampamento (Lv 16.27). Portanto, também estes detalhes não foram fixados arbitrariamente mas correspondem à vontade e ao plano de salvação de Deus, recebendo seu esclarecimento final e sua interpretação compromissiva somente a partir do NT. Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Jesus trouxe o verdadeiro cumprimento do sacrifício do AT e submeteu-se integralmente às ordens da antiga aliança ao realizar a auto-entrega. Contudo, a rendição voluntária de sua vida foi mais que todos os sacrifícios de animais que foram ofertados em todos os tempos. Ele morreu fora dos portões da cidade de Deus, a “cidade do grande Rei” (Mt 5.35). “Segundo o AT, o culpado é vitimado à morte fora do acampamento (Lv 24.14; Nm 15.35). No presente caso, porém, o Sumo Sacerdote morre pessoalmente fora do portão, a fim de santificar o povo culpado.”458 Seu sangue tem poder purificador e santificador para as pessoas que se colocam debaixo da aspersão com este sangue. Ninguém, no entanto, pode receber perdão, purificação e santificação, i. é, ingressar na comunhão de vida com Cristo, se não quiser entrar também na “comunhão de seus sofrimentos”. É o que o apóstolo expressa com as palavras: Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério (“desonra” [nvi, blh, vfl], “humilhação” [bj] “vergonha” [bv]). Jesus morreu a morte de um criminoso diante das portas de Jerusalém, sendo por isto excluído da comunhão da casa de Israel (Dt 21.23; Gl 3.13). Ele andou espontaneamente (Fp 2.6-8) pelo caminho da ofensa e vergonha extremas. Esta disposição interior é que o Senhor também demanda de sua igreja. “Ser cristão significa a ruptura interior com o mundo que não crê em Cristo e seu sacrifício expiatório e deixar-se determinar por ele em sua vida e seu agir. Esta é uma realidade que traz consigo vergonha, sofrimento e tribulação. Porque aqui a ordem de vida da igreja se contrapõe à ordem de vida do mundo. E não há equilíbrio, mas somente uma justaposição ou, em horas de decisões sérias, uma oposição”.459 A rota do discipulado sempre será um caminho desprezado, que, no entanto – como o caminho de Moisés (Hb 11.26) e a trajetória do Cristo (Hb 12.2) – conduz a um alvo glorioso.460 Quem está “fora do acampamento” (blh) não tem direito de cidadania no presente mundo. É isto que o apóstolo atesta com as palavras: não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. O autor nos recorda mais uma vez aquilo que já afirmou em Hb 11.10,16 e Hb 12.22 acerca da cidade de Deus, a “Jerusalém celestial”. A igreja do NT assume o legado do povo de Deus do AT, que desde a vocação de Abraão está a caminho como povo migrante até a pátria eterna. Deus mesmo nos conduz pelo seu Espírito Santo e nos leva em segurança ao alvo!
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Novamente o apóstolo volta à ideia do sacrifício, que já transpareceu nos v. 10-12. Com seu sacrifício singular Jesus Cristo suspendeu toda a ordem sacrificial do at. Através dele, passa a vigorar um novo serviço de sacrifícios que se exterioriza na vida dos filhos de Deus através da oração, do testemunho, do amor prático ao semelhante e da obediência. O sacrifício de gratidão e louvor que foi instituído no AT (Lv 7.12), não é suspenso no NT, apenas muda sua configuração exterior. Trata-se de um sacrifício que deve vir do impulso mais íntimo do coração (2Cr 29.31). No povo de Deus da antiga aliança, o sacrifício de louvor constituía a resposta do ser humano a experiências especiais do bondade de Deus (Sl 107.22; 116.17). No caso dos membros do novo povo de Deus, a energia para ofertar o sacrifício de gratidão, o louvor a Deus na oração, em qualquer situação, mesmo sob as piores dificuldades (At 16.22-25)461, é concedida através do Espírito de Deus. O verdadeiro sacrifício de louvor, o “fruto dos lábios” (cf. Os 14.2), no entanto, não somente se mostra no diálogo do orador com Deus (Sl 141.2), mas igualmente no testemunho da salvação experimentada no nome de Jesus.
Constantemente, a intenção do apóstolo é expor diante dos leitores de sua carta a fé e a santificação, doutrina correta e agir apropriado, testemunho com palavras e testemunho pela conduta da vida, como uma unidade indissociável. Faz parte do “fruto dos lábios” também a ação de ajuda.462 No lugar ocupado pelos inúmeros sacrifícios na vida e na devoção do AT encontra-se na vida da igreja a entrega da vida a Deus no serviço prático ao semelhante. As obras de amor não possuem caráter expiatório nem meritório. Contudo, diferenciando-se dos sacrifícios segundo a lei, que o fiel não deve mais ofertar, as obras de misericórdia permanecem sendo sacrifícios corretos, agradáveis a Deus.463 Com estas palavras, o apóstolo retorna ao ponto de partida de suas exortações e enfatiza que amor ao Senhor e amor ao irmão formam uma unidade indissolúvel.
Índice:
Hebreus 13:11-16
Notas:
456 O termo “altar” assume aqui o significado de “sacrifício”; cf. F. F. Bruce, pág 399. Uma idéia semelhante encontra-se em 1Pe 2.24: “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”.
457 A. Schlatter, pág 430.
458 O. Michel, pág 345.
459 J. Schneider, pág 129.
460 Is 52.11; 2Co 6.17; Ap 18.4.
461 Cf Fp 4.4.
462 Cf a exposição sobre Hb 12.11: “fruto da justiça”.
463 Cf Os 6.6.